Qual a melhor maneira de prever o futuro? A palestra de Rohit Bhargava, especialista em marketing e fundador da Non-Obvious Company, me chamou a atenção pelo título: “7 segredos não óbvios para entender as pessoas e prever o futuro”. Para mim, sua provocação faz todo o sentido. Afinal, o futuro não é construído apenas por algoritmos e máquinas, mas por escolhas humanas. Entender essas escolhas é o que permite às empresas e às marcas antecipar o futuro com maior precisão.
Para ajudar as pessoas a enxergar o que passa despercebido pela maioria e identificar tendências que podem se transformar em vantagem competitiva, Rohit compartilhou sete dicas, ou “segredos” para entender melhor o comportamento humano. Vamos a eles:
- Ser unicamente humano é uma vantagem – A confiança e a conexão humana permanecem insubstituíveis.
- A identidade molda as crenças – Compreender a identidade cultural e pessoal é fundamental para prever comportamentos.
- Vencedores não são o mesmo que campeões – O verdadeiro impacto vem daqueles que elevam os outros, não apenas daqueles que vencem.
- Respostas fáceis e óbvias costumam ser distrações – Ter pensamento crítico ajuda a evitar padrões enganosos.
- Pessoas e experiências devem surpreender você – A abertura a perspectivas e pontos de vista diferentes impulsiona a inovação.
- O significado surge das interseções – Os melhores insights surgem ao nos abrirmos a diferentes visões e experiências.
- A “não descoberta” pode ser mais valiosa que a descoberta – Reavaliar suposições pode levar a ideias revolucionárias.
Quero destacar os três últimos pontos, que reforçam o papel da diversidade na inovação e na capacidade de antecipação do futuro. Foi esse o recorte que eu e minha parceira Lígia Mello, da Hibou, decidimos explorar em pesquisa. Para quem não acompanhou meu último artigo, nossa proposta é repercutir no Brasil os insights e tendências apresentados no SXSW 2025. Para isso, a Hibou realizou um levantamento por meio de painel digital com 1.154 brasileiros, maiores de 18 anos, das classes A, B, C e D, no dia 11 de março. A pesquisa tem uma margem de erro de 2,8%.
Os brasileiros concordam que a diversidade ajuda a antecipar o futuro?
A pesquisa revelou que 42% dos participantes acreditam que a diversidade de pensamentos melhora a capacidade de antecipar tendências. Entre eles, 23% enxergam essa diversidade como essencial para prever o futuro com mais precisão, enquanto 19% concordam, mas ressaltam que é necessário um propósito bem definido para análises mais completas e precisas. Em contrapartida, 12% dos entrevistados discordam dessa relação, defendendo que previsões eficazes dependem exclusivamente de especialistas na área, e 7% afirmam que o futuro é imprevisível, independentemente de quem o analisa.
Minha experiência profissional, seja como executiva ou empreendedora, sempre comprovou que a diversidade da equipe traz múltiplos olhares para uma questão, o que as capacita a questionar o óbvio e antecipar mudanças, criando um verdadeiro diferencial competitivo para as organizações.

O que impulsiona a inovação, segundo os brasileiros?
A tecnologia aparece como fator central para a inovação, segundo 51% dos entrevistados. Dentro desse universo, 26% apontam novas tecnologias como o principal motor de transformação, enquanto 25% destacam o uso estratégico de dados e a inteligência artificial. A educação e a capacitação para novas habilidades são consideradas as mais importantes por 21% dos participantes, enquanto 19% acreditam que a diversidade de ideias e perspectivas tem um papel relevante na inovação, superando até mesmo os avanços científicos, citados por 18%.
Sempre gosto de enfatizar que a tecnologia é, sim, uma alavanca poderosa para a inovação, mas ela, por si só, não resolve problemas inesperados. Quando combinamos avanços tecnológicos com diversidade de pensamentos temos um potente catalisador de transformações significativas nas empresas.

Diversidade e produtividade caminham juntas?
A relação entre diversidade e produtividade é evidente para a maioria dos entrevistados. Para 57% deles, as equipes mais produtivas em que já trabalharam eram compostas por pessoas com experiências e conhecimentos distintos, reforçando a ideia de que a troca de perspectivas impulsiona melhores resultados. Essa afirmação é fácil de ser percebida, afinal, diante de um desafio, olhar o problema sob diferentes pontos de vista é a melhor maneira para encontrar uma saída “fora da caixa”.

A cultura influencia as crenças?
Quando questionados sobre a influência do ambiente cultural na formação de crenças e comportamentos, 45% dos participantes reconheceram essa relação. Desses, 16% acreditam que essa influência é muito forte, enquanto 29% consideram o ambiente relevante, mas buscam referências externas para formar suas opiniões. Por outro lado, 27% afirmam que experiências pessoais têm um peso maior do que a cultura em que estão inseridos, e 18% não veem qualquer relação entre ambiente cultural e crenças.

Novas culturas mudam opiniões?
Apesar de a maioria dos entrevistados (52%) discordar da ideia de que conhecer uma nova cultura pode mudar sua opinião sobre algo importante, 31% afirmam que suas perspectivas foram ampliadas ao entrar em contato com diferentes visões de mundo.
Esses dois últimos resultados confirmam que a abertura a outros pontos de vista – sejam estes vivências pessoais, acesso a outras culturas ou a conhecimentos distintos – amplia a possibilidade de desenvolvimento de pensamento crítico, uma das habilidades mais valorizadas nos profissionais do futuro.

Os dados da pesquisa reforçam a importância da diversidade para a inovação e a antecipação de tendências, ainda que nem todos os brasileiros reconheçam essa relação de forma direta. Empresas que desejam se preparar para o futuro devem investir não apenas em tecnologia, mas também em um ambiente que estimule o pensamento diverso e a colaboração entre diferentes áreas e perspectivas. E vocês, estão prontos para enxergar além do óbvio e se preparar para o futuro?