Aos 75 anos, quando a maioria das pessoas quer mais é descansar, investi em um novo mercado totalmente desconhecido. Comecei minha vida ajudando na mercearia de meu pai, em Sergipe. Consegui fazer crescer o negócio, que se transformou em uma das maiores redes varejistas do Brasil – a rede de supermercados Bompreço, vendida no ano 2000 ao grupo Royal Ahold, da Holanda, e depois ao Walmart. Mas o desejo de aprender e fazer coisas novas não passou. Hoje, meu grupo, o JCPM, atua em comunicação, shopping centers e imóveis.
Foi assim que surgiu a Quinta Maria Izabel, meu primeiro investimento internacional. Tudo aconteceu por acaso. Temos um apartamento em Lisboa desde 2009. Um dia, conhecendo a região do Douro, uma das mais belas de Portugal, soube que havia uma quinta à venda. Fui visitá-la com minha esposa, Auxiliadora, e nos apaixonamos. Em 2012, entramos no mundo do vinho.
A vinícola não se encaixa em meu histórico empresarial – só na fase de distribuição requer um pouco de expertise de varejo –, mas se encaixa em meu espírito empreendedor: iniciar um negócio quase do zero, pensar no nome, compor equipe, buscar qualidade etc.
O ponto inicial era escolher em qual segmento queríamos atuar, e nos decidimos por um vinho de alta qualidade com preço médio para o mercado brasileiro. Definimos, inicialmente, o Nordeste do País como primeiro mercado. Quanto ao nome, queríamos um de fácil aceitação tanto em Portugal como no Brasil. Também equipamos melhor a parte industrial para aperfeiçoar ainda mais a seleção das uvas.
Tenho como sócio meu irmão Reginaldo. Na divisão das responsabilidades, eu cuido da produção, e ele, da comercialização. Passo hoje mais de quatro meses por ano em Portugal e, quando no Brasil, tenho a internet para ir resolvendo as questões. Meu gerente-geral, o competente Tiago Dias, administra uma equipe pequena, mas muito coesa. Optamos por abrir também uma distribuidora, a Ridouro, que importa e comercializa o vinho no Brasil, a fim de construir rapidamente uma capilaridade, levando em conta que esse mercado é, até certo ponto, fechado para quem está iniciando.
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Com a ajuda do renomado enólogo Dirk Niepoort, conseguimos, em cinco anos, grandes reconhecimentos para nossa produção. Chegamos ao Vinhas Velhas, o tinto premium da Quinta, que foi saudado por críticos como James Suckling e Jamie Goode por suas safras 2013 e 2014. E temos expectativa de lançar em breve um vinho ainda superior.
A estrada é longa; é um mercado que tem complexidade. Mas hoje não atuamos só em Portugal e no Brasil, também estamos na Alemanha e na França, e vamos para a Inglaterra.
* O depoimento foi dado à jornalista Roberta Queiróz.