Conviver com dor crônica por mais de 40 anos é um desafio que afeta não apenas o desempenho no trabalho, mas também a saúde mental e a qualidade de vida como um todo. No meu papel como psicólogo, executivo de RH, CEO da REIS e consultor reconhecido globalmente pela OIT/ONU por minha atuação na inclusão de pessoas com deficiência, a experiência pessoal com dor física moldou profundamente minha compreensão sobre produtividade e bem-estar.
Estudos recentes, como o publicado na *Revista Brasileira de Saúde Ocupacional*, demonstram que a dor física afeta significativamente a produtividade de trabalhadores com deficiências e dores crônicas. O artigo discute a esquizofrenia, mas suas conclusões se aplicam a qualquer condição física debilitante: a dificuldade em manter o foco e a capacidade reduzida de realizar tarefas complexas são apenas alguns dos desafios. Eu mesmo, como alguém que lida diariamente com a dor, vejo meu desempenho flutuar dependendo da intensidade da dor em determinado momento. Acho importante refletirmos juntos sobre o quanto a dor física é negligenciada e expressões capacitistas como “você é um exemplo de superação, você é um guerreiro” escondem na verdade o medo de pessoas sem deficiência, gestores e colegas de trabalho lidarem com o fato que não somos super-heróis.
Da mesma forma, a literatura em inglês publicada no Journal of Occupational Rehabilitation aponta como a dor crônica impõe barreiras à participação ativa no mercado de trabalho. As adaptações no ambiente de trabalho são essenciais, mas, mesmo com recursos de acessibilidade e ergonomia, apoio psicossocial, há uma limitação intrínseca na produtividade de quem convive com dor intensa.
Saúde Mental e Pessoas com Deficiência
Outro aspecto crítico, muitas vezes negligenciado, é o impacto da dor crônica na saúde mental. A pressão para manter altos níveis de produtividade, combinada com o sofrimento físico e por consequência, emocional de maneira constante, pode desencadear episódios de ansiedade e depressão. No meu caso, houve momentos em que a dor se tornou não apenas um obstáculo físico, mas também um fator que minava minha confiança e resiliência mental. Viver com níveis de dor, como dizem os médicos, de 0 a 10, perto de 10 o tempo todo é algo lancinante e por vezes tira a perspectiva e confiança no trabalho e na própria vida do foco. Ao reduzir a dor, eu reconstruo quase diariamente o foco, o ritmo, as entregas, a produtividade e a fé na própria vida em si.
A literatura reforça essa relação: o estudo da Revista Brasileira de Saúde Ocupacional explora como a saúde mental se deteriora à medida que as demandas do ambiente de trabalho se tornam insustentáveis para quem lida com condições crônicas. No contexto internacional, os dados da Disability and Rehabilitation Journal demonstram que trabalhadores com dor crônica têm mais probabilidade de desenvolver problemas psicológicos, exacerbando a dificuldade de gerenciar o próprio tempo e tarefas.
O Custo Adicional de Viver com Deficiência
A realidade de viver com deficiência não se restringe apenas à gestão da dor e da produtividade no trabalho; ela também envolve um custo de vida significativamente mais alto em comparação com pessoas sem deficiência. Estudos, como o relatório da Leonard Cheshire Disability, mostram que as despesas associadas a tratamentos terapêuticos, como fisioterapia, medicamentos, e equipamentos adaptados, elevam em até 50% o custo de vida de uma pessoa com deficiência. Além disso, um estudo do Scope no Reino Unido também revela que esse grupo gasta, em média, mais de £583 por mês (cerca de R$ 4.258,00) em serviços essenciais e terapias.
No meu caso, conviver com dor por mais de quatro décadas significa também arcar com os custos financeiros contínuos de terapias e tratamentos especializados, como fisioterapia, hidroterapia, massagens e suporte psicológico. Essa sobrecarga econômica torna a busca por equilíbrio entre saúde e produtividade ainda mais desafiadora. Empresas e gestores devem, portanto, considerar não apenas a adaptação no ambiente de trabalho, mas também a necessidade de suporte adicional para cobrir esses custos elevados, promovendo uma inclusão real e efetiva. Algumas empresas oferecem, dentro dos escritórios, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas entre outros.
Adaptabilidade e Ações Necessárias
Ao longo dos anos, adotei uma abordagem que mistura estratégias de adaptação física, como mobiliário adequado e ergonômico, e técnicas de gerenciamento de estresse, como alongamentos e exercícios físicos. Contudo, esses métodos, por mais eficazes que sejam, oferecem apenas alívio temporário. O verdadeiro desafio está na conscientização e educação de gestores e equipes sobre a complexidade de viver com dor crônica. Um ambiente de trabalho acolhedor, aliado a uma compreensão profunda das limitações impostas pela dor, é essencial para garantir a inclusão e a participação plena de trabalhadores como eu e tantos outros.
O artigo do Journal of Occupational Rehabilitation, sugere que políticas de inclusão que envolvam não apenas ajustes físicos, mas também apoio emocional e mental, são cruciais para melhorar a qualidade de vida e a produtividade. Isso reflete minha própria experiência: a combinação de suporte multidisciplinar é o que me permite seguir em frente, apesar dos desafios diários.
Reflexões Finais
A dor crônica é uma realidade complexa e multifacetada. A experiência de viver com dor afeta não apenas a produtividade no trabalho, mas também a saúde mental e a qualidade de vida em todos os aspectos. Tanto a literatura nacional quanto a internacional oferecem uma base sólida para entender e abordar esses desafios, mas ainda há muito a ser feito. A minha própria jornada, de mais de quatro décadas convivendo com dor, continua a ser uma mistura de aprendizado, resiliência e, acima de tudo, a busca constante por soluções que promovam o bem-estar e a inclusão.