Toda vez que se fala em inovação no Brasil, parece haver um descolamento entre o falar e o fazer. quer uma prova? Confira as posições pouco auspiciosas que o país sempre ocupa nos rankings globais de competitividade, lembrando todas as evidências sobre a importante relação entre inovação e competitividade.
Obviamente, a inovação só é sentida em médio e longo prazos. mas o que tem sido posto em prática hoje para de fato tornarmos nossas organizações mais inovadoras e competitivas? tem-se feito, por exemplo, o diagnóstico da dor (da não inovação) que se deseja curar? diagnosticar é imprescindível, porque, embora muitos insistam em associar inovação à descoberta do novo (isso está mais para invenção), inovar é, principalmente, dar uma solução objetiva e estruturada para problemas reais e concretos, solução essa capaz de criar oportunidades e vantagens comparativas, gerar ganhos de eficiência ou reduzir riscos de negócios.
Assim, o primeiro passo é diagnosticar de maneira precisa o problema real e concreto que se deseja resolver, bem como identificar os que mais sofrem suas consequências. tem-se mexido em time que está ganhando? Sim, isso também é necessário, porque, ao contrário do que se possa imaginar, a inovação precisa mexer em time que está ganhando, pois da ruptura com o presente dependem os caminhos emergentes para o futuro. e os obstáculos culturais? pois é, um dos principais obstáculos à inovação é a cultura, o conjunto visível e invisível de normas, valores e padrões que em grande medida determinam quais os comportamentos desejados e quais devem ser repreendidos, levando as organizações à inércia. Não há receita de como mudar uma cultura, mas, quando olhamos para lugares como o mítico Vale do Silício, na Califórnia, vemos ingredientes culturais interessantes: um ambiente que é competitivo e colaborativo ao mesmo tempo, a existência de incentivos para que ideias ganhem vida, a enorme diversidade de empreendedores – incluindo os questionadores, os desajustados e os hackers.
Como dizia Joseph Schumpeter, o “pai” da economia da inovação, os empreendedores, dentro ou fora das empresas, são os principais agentes da inovação (e da destruição criativa). Nossas organizações deveriam, neste momento, estar se reinventando como pequenos ecossistemas onde pode florescer uma nova cultura pró-inovação – isto é, menos avessa ao risco, menos punitiva aos erros, mais livre, adaptativa e com mais confiança de que todos podem propor e criar, como o que se observa em empresas como Google e Zappos, entre outras.
A construção dessa nova cultura organizacional demanda tempo, disciplina e uma longa sucessão de esforços, assim como dão trabalho o diagnóstico dos problemas e a mexida em times vencedores. Se fosse para tomar só uma iniciativa a fim de começar a mudar, eu escolheria um radical estímulo ao intraempreendedorismo. A você, que está dentro de uma empresa, eu digo: arrisque-se.