As demandas estão aumentando para os gerentes de projeto. Conforme o The 2021 Project Management Report do Girl’s Guide to PM, 59% dos gerentes de projeto executam entre dois e cinco projetos ao mesmo tempo, 11% de seis a dez projetos e 15% executam mais de dez. Apenas 15% dos gerentes de projeto trabalham em um projeto por vez. Além disso, o profissional da área não é mais acionado só para lançar produtos inovadores; crescentemente é convocado para a transformação dos processos internos.
Isso faz com que a demanda por gerentes de projeto esteja aquecida. Um estudo da KPMG Austrália, de 2020, descobriu que dois terços das companhias do país já desenvolvem algum tipo de gestão de projeto, uma proporção que pode ser extrapolada para vários países. O Project Management Institute (PMI) estima, em seu último Talent Gap Report, que haja 90 milhões de pessoas atuando na área em todo o mundo e que devem subir para 102 milhões em 2030. Se considerarmos as aposentadorias, serão 25 milhões de vagas abertas.
Segundo o PMI, o crescimento da função será maior nos mercados emergentes. Na América Latina, onde foram pesquisados Brasil e Colômbia, devem ser criadas 119,5 mil vagas ao ano até 2030. É bastante, mas pouco na comparação: só a China deve responder por 1 milhão das vagas, e o Sudeste Asiático e Ásia-Pacífico, por 700 mil.
Em que setores a demanda será maior? Conforme projeção do US Bureau of Labor Statistics, das dez áreas que mais usam gerenciamento de projeto, sete devem crescer, com desenvolvimento de software puxando o cordão, especialmente de aplicativos mobile. Também avançam segurança de tecnologia da informação, tecnologia de healthcare, setor financeiro, marketing etc. Devem decrescer os profissionais apenas em entretenimentos, serviços pessoais e advocacia.
A movimentação pode animar as pessoas a desenvolverem habilidades em gerenciamento de projetos, inclusive as que atuam em outras funções nas empresas. A julgar pelo relatório Pulse of the Profession 2020, do PMI, várias companhias estão dispostas a financiar a capacitação: 61% delas oferecem alguma forma de treinamento na área e 47% estabelecem um caminho de desenvolvimento claro para PMO. Mas o relatório The State of Project Management 2020, da europeia Wellingtone, traz uma informação contraditória: a segunda reclamação dos profissionais da área, após o excesso de projetos sob sua responsabilidade, diz respeito a ter conhecimento insuficiente. Tanto é que obter certificações é o maior objetivo de carreira para os profissionais da área [veja figura no fim deste artigo.] Entende-se: um certificado, em método tradicional ou ágil, aumenta o salário em 10%.
## Formação
O que um gestor de projetos faz? Suas dez principais atividades, segundo o relatório da Wellingtone, são, em ordem decrescente, (1) reportar status do projeto, (2) manter a lista/portfólio do projeto, (3) manter os templates de metodologias e documentos, (4) facilitar os processos de aprovação do projeto, (5) fornecer sua expertise de gestão de projetos aos outros, (6) facilitar o aprendizado de lições, (7) dar segurança ao projeto, (8) treinar os profissionais, (9) planejar e gerenciar recursos e (10) ter senso de dono com as metodologias.
Algumas atividades específicas dos métodos ágeis não aparecem com destaque na lista, mas deveriam: (1) organizar a conceituação do projeto e as sessões de brainstorming, (2) entregar partes do projeto para o feedback de stakeholders, (3) receber feedbacks e implantar as respectivas mudanças, (4) atualizar as metas e (5) produzir novas partes do projeto nos parâmetros redefinidos.
O conhecimento técnico é considerado insubstituível, incluindo o de riscos, mas, pelo relatório Pulse of Profession 2020, do PMI, 91% dos CEOs acreditam que a habilidade número um dos gestores de projeto é uma soft skill: empatia. Outros traços comportamentais muito desejados são proatividade e comunicação. Conforme o podcast PM for the Masses, apresentado pelo brasileiro residente no Canadá Cesar Abeid, gerentes de projeto gastam 90% de seu tempo se comunicando; e 28% relatam a má comunicação como a principal causa de insucesso. Gestão do tempo e planejamento também são tidas como soft skills diferenciais.
Conforme o report de 2020 da Wellingtone, se quisermos priorizar conhecimentos que exijam menor grau de dificuldade e gerem maior valor, a escolha é por engajamento de stakeholders, seguido de gestão de risco e planejamento.
A sétima edição do PMBOK, de 2021, no entanto, trocou a recomendação de áreas de conhecimento pela de domínios de desempenho: (1) relação com os stakeholders; (2) equipe (promover seu desenvolvimento e comportamentos de liderança de todos os membros); (3) ciclo de vida (saber entregar nas diversas fases do projeto escolhendo a metodologia mais adequada – ágil, tradicional ou híbrida); (4) planejamento; (5) incerteza e ambiguidade (atividades associadas aos riscos); (6) entrega de valor; (7) desempenho (garantir que o desempenho planejado seja alcançado); e (8) trabalho no projeto (para manter as operações fluindo; aqui entra a habilidade da comunicação, entre outras).
A mudança parece estar convocando o gestor de projeto a ampliar seu olhar para o trabalho. Antes, a maioria achava que as disciplinas estudadas, como cronograma, custo, risco etc., garantiam-lhe o sustento. O especialista José Finocchio explica que os domínios são distintos: são os aspectos do projeto a que precisam prestar atenção.
## Desafios
As perspectivas para os project managers são boas, o trabalho é interessante, mas sobram desafios. Segundo pesquisa do site monday.com, 54% deles dizem gastar cinco ou mais horas por semana em tarefas que poderiam ser feitas por máquinas, 57% relatam sintomas de burnout e 63% acham que não vêm tendo a chance de fazer o seu melhor. De acordo com o portal Girl’s Guide to PM, mais de um terço das pessoas já cogitaram pelo menos uma vez sair da área.
![9 – maiores objetivos de carreira](//images.contentful.com/ucp6tw9r5u7d/2RcuxAvKOJ6CMaTAOGTyWL/87d9d8b709943e8fd6be6a4005d8afd6/9_-_maiores_objetivos_de_carreira.png)