Saúde Mental

“E eu, que era a rainha da zoeira, perdi a vontade de gargalhar”

Neste 10 de outubro, Dia Mundial da Saúde Mental, além de falar da minha história, faço também um convite à reflexão
CEO e fundadora da Vittude, healthtech no desenvolvimento e gestão estratégica de programas de saúde mental para empresas. É formada em ciência da felicidade e aplicações da psicologia positiva para ambientes de trabalho. Atualmente, faz parte do time de LinkedIn Creators, host e idealizadora do podcast Terapeutizados e empreendedora premiada internacionalmente pela Cartier Women’s Initiative.

Compartilhar:

Hoje, 10 de outubro, é Dia Mundial da Saúde Mental. Data importante para todos que lutam diariamente contra o [adoecimento emocional](https://www.revistahsm.com.br/post/saude-mental-no-trabalho-otimizando-o-roi-do-seu-maior-ativo “adoecimento emocional”) e os sintomas de doenças como a depressão.

Acordei pensando que deveria escrever algo a respeito. Ao pesquisar um pouco de história, descobri que a data foi estabelecida em 1992, pela World Federation for Mental Health. O objetivo? Ampliar o debate sobre as doenças mentais, reduzir o estigma e elevar o grau de conscientização à respeito de um assunto rodeado de preconceito.

A organização citada acima nasceu em 1948, em Londres, e há 62 anos tem como propósito mudar a percepção das pessoas sobre as doenças mentais.

Desde 1992 um programa anual foi criado como forma de dar mais atenção às doenças mentais e seus efeitos na vida individual, no trabalho, na família e na estabilidade geral de comunidades e países. Em 2020, o tema de trabalho será ‘Saúde mental e doenças de longa duração: a necessidade de cuidados continuados e integrados’.

## Primeiras reflexões
Após ler algumas informações, me pego pensando: o que temos feito desde 1992? O que tem sido feito aqui no Brasil? Por que ainda é tão difícil falarmos abertamente sobre o adoecimento emocional? Sobre o sofrimento psíquico? Por que será que ainda ouvimos pessoas falando que ir a um psicólogo é coisa de gente fraca, louca, preguiçosa etc?

O que há de errado com nossa sociedade? Gastamos rios de dinheiro com diversos tipos de serviços estéticos, mas deixamos de lado o cuidado com uma das peças mais importantes do corpo: a mente.

Quando queremos manter corpos belos e saudáveis, praticamos atividade física, mantemos uma alimentação balanceada e investimentos em uma série de procedimentos para garantir aparência mais jovem. Só falta mesmo dormir no formol. Mas, e as emoções? Como será que elas estão?

## Adoecimento silencioso
Lembro, como se fosse hoje, como era assustador me dar conta da minha própria mudança de humor. Uma mulher alegre, extrovertida, de bem com a vida que, por consequência de situações adversas da vida e de um evento traumático, acabou conhecendo a senhora depressão.

A depressão tira a cor, a graça, o sabor, o cheiro das coisas e das situações da vida. Absolutamente tudo fica insosso. A gente simplesmente perde a vontade de levantar da cama. Eu que costumava ser a rainha da zoeira, perdi minha vontade de gargalhar. O choro fácil, o desânimo, a desesperança, a pouca certeza de dias melhores à vista. Eu não pedi para ter depressão. Acho que ninguém pede ou deseja sentir uma tristeza tão profunda. Mas ela aconteceu e eu precisei aprender a lidar com ela.

Estou falando de uma doença, sim doença, como outra qualquer. Só que ela é silenciosa. Ela vem e se instala de mansinho, sem você perceber. Pode ser por um desequilíbrio químico ou hormonal do seu organismo, pode ser por decorrência de alguma situação ambiental (meu caso) e, em alguns casos, pode ser decorrente ainda de fatores genéticos.

Fato é que a depressão, assim como qualquer outra doença mental, requer tratamento, acompanhamento psicológico, psiquiátrico e muito apoio.

## É preciso ampliar a conscientização
E o que o dia da saúde mental tem a ver com isso? Oras, ele tem como objetivo trazer para o debate um assunto que muitas vezes queremos varrer para debaixo do tapete. O mundo, e nosso país também, ainda sofre de um mal chamado desinformação.

Dados da Organização Mundial da Saúde apontam para um suicídio a cada 40 segundos no mundo. Aqui no Brasil, a cada 45 minutos uma pessoa tira a própria vida. No entanto, pesquisas comprovam que 90% dos casos de suicídio poderiam ter sido evitados.

Hoje, com tristeza, recebi a notícia de que uma colega de infância foi encontrada ontem, 9 de outubro, enforcada em seu apartamento. Jovem, bela, bem sucedida, dona de um sorriso largo. Aos 37 anos, deixa um filho de 11 e a dor de uma partida sem explicação.

Escrevo esse texto, ainda meio em choque, me questionando: quantas pessoas mais ainda perderemos para nos darmos conta da importância de falar abertamente sobre saúde mental? Para conseguirmos de fato evitar uma tragédia precisamos entender o que acontece. [Educar, conscientizar, compreender os fatores e gatilhos que levam aos estados psíquicos debilitados](https://www.revistahsm.com.br/post/nao-ha-saude-sem-saude-mental).

Lembro-me agora do filme do Coringa, em que o personagem comenta que a pior parte de ter uma doença mental é que as pessoas esperam que você se comporte como se não a tivesse. O que é incongruente e triste, pois quando estamos doentes, precisamos de ajuda, de apoio, de tratamento e não ignorar os sinais da doença.

Quantas vezes não ouvi questionamentos e comentários que remetiam exatamente à frase do Coringa. “Tati, você tem tudo, um bom emprego, uma família legal, por que você fica triste? Você é linda, é jovem, tem uma vida inteira pela frente, não faz sentido ficar chorando o tempo todo” – só para dar um exemplo. A cada frase, um passo para trás. Ninguém compreendia o que se passava.

Para quem olha de fora, a [doença mental](https://www.vittude.com/blog/doencas-psicologicas/ “doença mental”) não tem explicação. Não se entende como ela surge ou porque pessoas são acometidas por ela. Por conta de uma sociedade não acostumada a lidar com os ditos transtornos mentais, somos sempre cobrados para agir como se não estivéssemos mal.

A ironia triste? Mesmo estando doentes precisamos fingir que estamos bem, ou as coisas podem piorar. Mais irônico ainda é que, ao fingir, as coisas de fato pioram.

## Um convite à reflexão
Será que estamos prontos para acolher as pessoas que sofrem com um transtorno mental? Estamos preparados para ouvir, não julgar, e oferecer apoio a quem precisa de ajuda?

Segundo a OMS, vivemos em um dos países com maior incidência de transtornos mentais do mundo. O que é contrastante com a imagem que as pessoas têm do Brasil como um lugar alegre, do samba, do futebol, das belezas naturais e do sorrisão no rosto. O problema é que boa parte disso é “fachada”.

Que tal aproveitarmos essa data para falar abertamente das nossas vulnerabilidades? Que tal usarmos o Dia Mundial da Saúde Mental para escancarar de vez o assunto? Deixo aqui um convite para que façamos do dia de hoje uma ponte para construção de um futuro menos doente emocionalmente.

Que possamos [propor ações educativas sobre saúde mental dentro de nossas empresas](https://www.revistahsm.com.br/post/como-criar-uma-cultura-de-alta-performance-sem-afetar-a-saude-mental-da-sua “propor ações educativas sobre saúde mental dentro de nossas empresas”). Que seja permitido falar abertamente sobre questões que nos afligem. Que sejamos aliados do bom combate.

Neste dia 10 de outubro, desejo apenas que todo ser humano possa se sentir livre e acolhido para falar sobre qualquer doença, física ou mental.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

Saúde psicossocial é inclusão

Quando 84% dos profissionais com deficiência relatam saúde mental afetada no trabalho, a nova NR-1 chega para transformar obrigação legal em oportunidade estratégica. Inclusão real nunca foi tão urgente

Empreendedorismo
Em um mundo onde as empresas têm mais ferramentas do que nunca para inovar, por que parecem tão frágeis diante da mudança? A resposta pode estar na desconexão entre estratégia, gestão, cultura e inovação — um erro que custa bilhões e mina a capacidade crítica das organizações

Átila Persici

0 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A ascensão da DeepSeek desafia a supremacia dos modelos ocidentais de inteligência artificial, mas seu avanço não representa um triunfo da democratização tecnológica. Embora promova acessibilidade, a IA chinesa segue alinhada aos interesses estratégicos do governo de Pequim, ampliando o debate sobre viés e controle da informação. No cenário global, a disputa entre gigantes como OpenAI, Google e agora a DeepSeek não se trata de ética ou inclusão, mas sim de hegemonia tecnológica. Sem uma governança global eficaz, a IA continuará sendo um instrumento de poder nas mãos de poucos.

Carine Roos

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A revolução da Inteligência Artificial está remodelando o mercado de trabalho, impulsionando a necessidade de upskilling e reskilling como estratégias essenciais para a competitividade profissional. Empresas como a SAP já investem pesadamente na requalificação de talentos, enquanto pesquisas indicam que a maioria dos trabalhadores enxerga a IA como uma aliada, não uma ameaça.

Daniel Campos Neto

6 min de leitura
Marketing
Empresas que compreendem essa transformação colhem benefícios significativos, pois os consumidores valorizam tanto a experiência quanto os produtos e serviços oferecidos. A Inteligência Artificial (IA) e a automação desempenham um papel fundamental nesse processo, permitindo a resolução ágil de demandas repetitivas por meio de chatbots e assistentes virtuais, enquanto profissionais se concentram em interações mais complexas e empáticas.

Gustavo Nascimento

4 min de leitura
Empreendedorismo
Pela primeira vez, o LinkedIn ultrapassa o Google e já é o segundo principal canal das empresas brasileiras. E o seu negócio, está pronto para essa nova era da comunicação?

Bruna Lopes de Barros

5 min de leitura
ESG
O etarismo continua sendo um desafio silencioso no ambiente corporativo, afetando tanto profissionais experientes quanto jovens talentos. Mais do que uma questão de idade, essa barreira limita a inovação e prejudica a cultura organizacional. Pesquisas indicam que equipes intergeracionais são mais criativas e produtivas, tornando essencial que empresas invistam na diversidade etária como um ativo estratégico.

Cleide Cavalcante

4 min de leitura
Empreendedorismo
A automação e a inteligência artificial aumentam a eficiência e reduzem a sobrecarga, permitindo que advogados se concentrem em estratégias e no atendimento personalizado. No entanto, competências humanas como julgamento crítico, empatia e ética seguem insubstituíveis.

Cesar Orlando

5 min de leitura
ESG
Em um mundo onde múltiplas gerações coexistem no mercado, a chave para a inovação está na troca entre experiência e renovação. O desafio não é apenas entender as diferenças, mas transformá-las em oportunidades. Ao acolher novas perspectivas e desaprender o que for necessário, criamos ambientes mais criativos, resilientes e preparados para o futuro. Afinal, o sucesso não pertence a uma única geração, mas à soma de todas elas.

Alain S. Levi

6 min de leitura
Carreira
O medo pode paralisar e limitar, mas também pode ser um convite para a ação. No mundo do trabalho, ele se manifesta na insegurança profissional, no receio do fracasso e na resistência à mudança. A liderança tem papel fundamental nesse cenário, influenciando diretamente a motivação e o bem-estar dos profissionais. Encarar os desafios com autoconhecimento, preparação e movimento é a chave para transformar o medo em crescimento. Afinal, viver de verdade é aceitar riscos, aprender com os erros e seguir em frente, com confiança e propósito.

Viviane Ribeiro Gago

4 min de leitura
Liderança
A liderança eficaz exige a superação de modelos ultrapassados e a adoção de um estilo que valorize autonomia, diversidade e tomada de decisão compartilhada. Adaptar-se a essa nova realidade é essencial para impulsionar resultados e construir equipes de alta performance.

Rubens Pimentel

6 min de leitura