Estratégia e Execução

“É preciso ter humildade intelectual”

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Ele estava com 27 anos quando assumiu o Grupo Malwee, em 2007. O CEO Guilherme Weege tem se focado nos clientes B2B, fazendo questão de ele mesmo visitá-los. “Tem que gastar muita sola de sapato”, disse para a HSM Management. É na tecnologia que busca soluções para que o cliente venda mais e amplie sua margem de lucro. Assim, num círculo virtuoso, também impacta os negócios da Malwee, que tem faturamento anual superior a R$ 1 bilhão. Com 5,5 mil funcionários, a empresa produz cerca de 35 milhões de peças por ano em três fábricas, que são vendidas em 25 mil lojas. Empreendedor serial, Weege investe em startups, é conselheiro da Endeavor, mentora jovens empresários e ainda se dedica a trabalhos sociais. Para isso, não se coloca como o executivo supremo da empresa, mas se vangloria de estar cercado de pessoas boas. Estimula a colaboração e valoriza o que chama de humildade intelectual: pegar dicas de tudo e de todos, estando sempre aberto a aprender. 

| Por Sandra Regina da Silva

**O perfil do consumidor mudou desde que assumiu a Malwee. Como se manteve relevante?**

O consumidor do setor de moda muda sempre. No passado, buscava qualidade e durabilidade; depois veio a busca pela autoestima. No início, as pessoas queriam parecer muito iguais, pertencer a certos grupos; e hoje querem mais o “seu” estilo. A cada mudança do consumidor, muda tudo: a tendência de cor, de padrão, de tecido, de modelagem. Muda também a inovação. De um tempo para cá, temos notado a busca não só pelo o que dura, mas que tenha história por trás. O produto tem que dialogar com a pessoa, com o estilo. Temos nos ancorado – até porque nossa história é em cima disso – na sustentabilidade. De todas as peças fabricadas no Brasil, as nossas consomem menos água, usam menos química. Isso é valorizado pelos consumidores. 

**Quais foram os aprendizados com a crise?**

A Malwee tem 51 anos e todo ano eu ouvia, desde criança, que o País estava em crise. A sacada é se manter relevante para os nossos clientes, buscando tomar decisões mais rápidas, ser ágil nos processos de negócios. Quando falamos do mercado B2B, em vez de estar mais focado em quanto eu vendo, temos que nos preocupar mais com a venda do parceiro, como ele pode ter maior margem, mais prazo. Em 2011, criamos o programa Malwee Abraça o Varejo, com o propósito de sermos o melhor parceiro dos nossos clientes. Nos últimos dois ou três anos, eu visitei mais clientes do que nos últimos 20. Tenho que entendê-lo para poder ajudar. E, para aumentar o share do meu cliente, tenho que pensar mais nele e menos em mim.

**O plano de investimento da Malwee até 2021 é de R$ 100 milhões. O que está contemplado?**

São três verticais: sustentabilidade; eficiência operacional; varejo e consumidor. Em sustentabilidade, há projetos como a produção de jeans sem água e o tratamento de efluentes com tecnologia que não existe, por meio de pesquisa e desenvolvimento dentro de casa em parceria com fornecedores. Em eficiência, há planos de modernização de parque fabril, de indústria 4.0, de TI. A ideia é sermos mais simples, leves, baratos e ágeis. Isso virá com a adoção de novas tecnologias, como inteligência artificial, IoT (sigla em inglês de internet das coisas), com aplicações em fábrica, logística, produção, manutenção preditiva. Para o consumidor, queremos me­­lhorar a sua jornada. Como criar um relacio­namento mais relevante? Será que um modelo de assinatura ou de aluguel pode ajudar? Temos muitas iniciativas nesse sentido, em que entram diversas parcerias, além de nossa área de inovação. Aí estão startups parceiras ou incubadas por nós, e o Sebrae. Com este, fizemos uma parceria neste ano, para ajudar a trazer melhores práticas de gestão, por exemplo, para aumentar as vendas dos clientes. Sou um entusiasta no tema inovação. Como investidor, estou envolvido em muitos negócios e com diferentes empreendedores. Na Endeavor, onde sou conselheiro, faço muita mentoria, o que também me traz aprendizados. Para startups, muitas vezes é interessante estar acoplado a uma empresa maior, permitindo se provar, ou quando o produto ou serviço não está totalmente pronto. 

**Qual é o peso do propósito e da sustentabilidade para a organização, que é familiar?**

O peso de ambos sempre foi forte. Meu avô já falava em enxergarmos a empresa como uma plataforma para gerar resultado para a sociedade. A gente fatura, lucra, parte do lucro distribui para os sócios, boa parte disso são de institutos que devolvem para a sociedade em diversos projetos. Não fazemos força, porque é algo natural, faz parte da cultura. Para você ter uma ideia, o Parque Malwee, com 1,5 milhão de metros quadrados, foi fundado 41 anos atrás e doado para a sociedade. Ali fomentamos pesquisas da fauna e da flora, com universidades e escolas. O ponto é ser relevante para o consumidor, que é quem deposita nas empresas a responsabilidade de ser sustentável, fazer o bem nos processos, ter bom uso de matéria-prima, da água. Queremos inspirar outros, porque os números do setor não são bonitos. Aqui são 44 horas por semana, mas a média global do trabalhador em empresa de moda é de 96 horas semanais. E em ambiente com poluição, com química, uma realidade de muitas organizações do setor de vestuário no Brasil. Isso precisa mudar, e vai ser com a apoio e pressão do consumidor. Fomos a primeira empresa brasileira do segmento a assinar o Pacto Global da ONU, em setembro último. Basicamente, essa assinatura significa que a Malwee está se colocando uma meta pública de redução de emissões. Mas temos um bom histórico. Em 2015, por exemplo, desenhamos nosso plano 2020 de sustentabilidade, em que estabelecemos um objetivo de reduzir nossa emissão de gases de efeito estufa em 20% em cinco anos; em 2017 batemos a meta e não foram 20% de redução, mas 68%.

**Quem mais inspirou você na vida?**

Meu pai foi inspiração para muitas coisas, na vida pessoal e na corporativa, quanto a valores, a seguir princípios claros e fortes. Outra pessoa importante, mas do ponto de vista de aprendizado, foi Lindolfo Zimmer (ex-presidente da Copel e da Dobrevê Energia-Desa, fundada por mim em 2005, e depois incorporada pela CPFL Renováveis).  Com ele, aprendi como ter relações duradouras e verdadeiras com pessoas e empresas. Zimmer é uma pessoa inspiradora, com fala mansa e conteúdo fantástico.

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