ESG
4 min de leitura

E se o Brasil adotasse o conceito de “best before”?

Adotar o 'Best Before' no Brasil pode reduzir o desperdício de alimentos, mas demanda conscientização e mudanças na cadeia logística para funcionar
CEO e founder da Food To Save - empresa que atua no combate ao desperdício de alimentos no país e na promoção do acesso a bons alimentos. Lucas foi eleito empreendedor do ano pela EY, reconhecido como um dos Top 50 Creators do LinkedIn na categoria Food Industry & Food Tech.

Compartilhar:

O conceito de “Best Before”, já adotado na União Europeia, Reino Unido, EUA e Canadá, indica que a data de validade não significa, necessariamente, que o produto não pode mais ser consumido. Após essa data, é necessário que o consumidor faça uma análise sensorial simples – verificando cheiro, aparência e sabor – para avaliar se o produto ainda está próprio para o consumo. Já no Brasil, essa política do “Best Before” tem ganhado cada vez mais espaço para debates, principalmente por conta da urgência de se falar sobre o desperdício de alimentos, consumo sustentável e mudanças climáticas. 

Recentemente, acompanhei uma entrevista do presidente da ABRAS – Associação Brasileira de Supermercados, João Galassi, comentando sobre a iniciativa, que é defendida como uma das importantes alternativas para baratear o preço dos alimentos. Além disso, acredito que a implementação do “Best Before” no Brasil poderia trazer mudanças significativas para o consumo consciente e para a gestão de alimentos, agregando pontos importantes como a educação, a conscientização e menos desperdício alimentar. 

Só para se ter uma ideia, o Brasil descarta um volume impressionante de alimentos, equivalente à capacidade do estádio Maracanã, totalizando cerca de 46 milhões de toneladas de comida desperdiçada, conforme dados do IBGE de 2024. Ao adotar o “Best Before”, seria possível estimular os consumidores a compreenderem melhor os rótulos. Também seria possível evitar o descarte de alimentos que ainda estão bons e seguros para consumo, ajudando a mudar hábitos e a promover um consumo mais responsável. 

Apesar de não ser uma solução única, podemos nos inspirar e olhar para esse modelo como uma ferramenta poderosa dentro de uma estratégia maior para reduzir o desperdício e ensinar sobre os alimentos. Mas como toda mudança, há desafios, principalmente culturais. É necessário investir na educação do consumidor para evitar confusões e garantir a segurança alimentar. 

Muitos produtos com a indicação “Melhor Antes” já são descartados indevidamente porque os consumidores tendem a confundir essa informação com a data de validade. Porém, enquanto a data de validade indica quando o alimento deixa de ser seguro para consumo, o “Melhor Antes” refere-se à qualidade ideal do produto, que pode permanecer próprio para consumo mesmo após essa data. Essa falta de clareza gera o desperdício de alimentos que ainda poderiam ser aproveitados, destacando a necessidade de maior conscientização e de uma comunicação mais eficaz por parte da indústria e do varejo. Por isso, vejo que a educação sobre o tema é um ponto fundamental para a implementação do “Best Before” no país.

Além disso, o Brasil, com seu clima tropical e dimensões continentais, apresenta particularidades que demandam adaptações no transporte e armazenamento dos alimentos. As variações climáticas entre as regiões do país exigem estratégias diferenciadas para garantir a qualidade e a segurança dos produtos ao longo da cadeia logística. Enquanto algumas áreas lidam com altas temperaturas e umidade excessiva, outras enfrentam climas mais secos ou frios, o que impacta diretamente a durabilidade e a conservação dos alimentos.

Diante desse cenário, é fundamental que o setor alimentício adote soluções inovadoras para preservar a qualidade dos produtos e  reduzir as perdas e o desperdício de alimentos, beneficiando tanto os produtores quanto os consumidores.

Enquanto o “Best Before” não chega por aqui, sigo liderando o maior movimento contra o desperdício de alimentos do Brasil, junto com marcas que já estão de olho nessa tendência que precisa ser discutida fortemente no país. Nos inspiramos em iniciativas de todo o mundo e queremos cada vez mais nos unir para transformar o desperdício em oportunidade, repensando o estilo de consumo e de vendas, criando um ciclo virtuoso que beneficia a sociedade como um todo e também o planeta.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Reaprender virou a palavra da vez

Reaprender não é um luxo – é sobrevivência. Em um mundo que muda mais rápido do que nossas certezas, quem não reorganiza seus próprios circuitos mentais fica preso ao passado. A neurociência explica por que essa habilidade é a verdadeira vantagem competitiva do futuro.

Lifelong learning
19 de dezembro de 2025
Reaprender não é um luxo - é sobrevivência. Em um mundo que muda mais rápido do que nossas certezas, quem não reorganiza seus próprios circuitos mentais fica preso ao passado. A neurociência explica por que essa habilidade é a verdadeira vantagem competitiva do futuro.

Isabela Corrêa - Cofundadora da People Strat

8 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Inovação & estratégia
18 de dezembro de 2025
Como a presença invisível da IA traz ganhos enormes de eficiência, mas também um risco de confiarmos em sistemas que ainda cometem erros e "alucinações"?

Rodrigo Cerveira - CMO da Vórtx e Cofundador do Strategy Studio

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
17 de dezembro de 2025
Discurso de ownership transfere o peso do sucesso e do fracasso ao colaborador, sem oferecer as condições adequadas de estrutura, escuta e suporte emocional.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional

4 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
16 de dezembro de 2025
A economia prateada deixou de ser nicho e se tornou força estratégica: consumidores 50+ movimentam trilhões e exigem experiências centradas em respeito, confiança e personalização.

Eric Garmes é CEO da Paschoalotto

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
15 de dezembro de 2025
Este artigo traz insights de um estudo global da Sodexo Brasil e fala sobre o poder de engajamento que traz a hospitalidade corporativa e como a falta dela pode impactar financeiramente empresas no mundo todo.

Hamilton Quirino - Vice-presidente de Operações da Sodexo

2 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Inovação & estratégia
12 de dezembro de 2025
Inclusão não é pauta social, é estratégia: entender a neurodiversidade como valor competitivo transforma culturas, impulsiona inovação e constrói empresas mais humanas e sustentáveis.

Marcelo Vitoriano - CEO da Specialisterne Brasil

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
11 de dezembro de 2025
Do status à essência: o luxo silencioso redefine valor, trocando ostentação por experiências que unem sofisticação, calma e significado - uma nova inteligência para marcas em tempos pós-excesso.

Daniel Skowronsky - Cofundador e CEO da NIRIN Branding Company

3 minutos min de leitura
Estratégia
10 de dezembro de 2025
Da Coreia à Inglaterra, da China ao Brasil. Como políticas públicas de design moldam competitividade, inovação e identidade econômica.

Rodrigo Magnago - CEO da RMagnago

17 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
9 de dezembro de 2025
Entre liderança e gestação, uma lição essencial: não existe performance sustentável sem energia. Pausar não é fraqueza, é gestão - e admitir limites pode ser o gesto mais poderoso para cuidar de pessoas e negócios.

Tatiana Pimenta - Fundadora e CEO da Vittude,

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
8 de dezembro de 2025
Com custos de saúde corporativa em alta, a telemedicina surge como solução estratégica: reduz sinistralidade, amplia acesso e fortalece o bem-estar, transformando a gestão de benefícios em vantagem competitiva.

Loraine Burgard - Cofundadora da h.ai

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança