Uncategorized

Economia criativa x medo de pensar

Para o especialista John Howkins, essa economia em ascensão exige “ecologias criativas”, nas quais as empresas dão liberdade a seus colaboradores –e estes atuam com autoconfiança
Colaboradora de HSM Management.

Compartilhar:

> **Saiba mais sobre  John Howkins**
>
> Quem é: Consultor, professor e pesquisador inglês especializado em economia criativa, é um dos responsáveis por seu desenvolvimento na China. 
>
> Trajetória: Foi o responsável, em 2001, por agregar ao conceito de economia criativa a visão empresarial, transformando a criatividade em produto. 
>
> Livros: Economia Criativa: Como as Pessoas Ganham Dinheiro com Ideias e Creative Ecologies: Where Thinking Is a Proper Job. 

Quando lançou o Global Creativity Index, em 2011, como métrica da economia criativa mundial, o Martin Prosperity Institute  surpreendeu pela abordagem (desconstruiu essa economia em tecnologia, talentos e tolerância) e pelos dados revelados. Deixou claro, por exemplo, que os países de economia emergente estão muito atrasados nesse front. 

O Brasil teve desempenho especialmente decepcionante: apesar de ser uma marca-país associada ao futebol e ao carnaval, ocupou apenas a 46ª posição do ranking. Segundo o mapeamento da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), em 2013 apenas 2,6% do PIB era gerado pela indústria criativa. 

Como comparação, em outro país emergente, a Rússia (31º posto no ranking), mais de 6,3% do PIB se deve à economia criativa. Não se trata apenas dos países; há cidades inteiras definidas pela economia criativa, como Londres, que se especializou em negócios voltados para a arte, design, marketing, entretenimento e cultura de modo geral. No entanto, ainda não se associa uma cidade brasileira a isso. Parece haver uma decisão estratégica a tomar: os brasileiros querem ser pagos para pensar ou não? Pesquisador pioneiro em economia criativa, o londrino John Howkins esteve no Brasil recentemente, a convite da Escola de Belas-Artes de São Paulo, onde contribui para o primeiro curso de graduação na área, e falou com exclusividade a HSM Management sobre  requisitos e oportunidades desse tipo de economia.

**Como ver a economia criativa dentro da economia?** 

É a parte que mais cresce. Produtos criativos são encontrados em todos os setores de atividade. Tome o iPhone, bem da indústria eletrônica, como exemplo: o preço de seus componentes é US$ 189; o custo para juntá-los é US$ 11; e a criatividade vale US$ 400, representada no design, na marca, na embalagem [nos EUA, ele é vendido por US$ 600]. E é ela que gera demanda pelo aparelho.

**Como a criatividade gera demanda? Por exemplo, o artista plástico brasileiro Romero Britto é criticado pelos especialistas em arte, mas tem imenso sucesso comercial… Por que a arte dele tem demanda e a de outros não?**

O que cria demanda é a relação emocional do consumidor com o produto, e esta não tem a ver com beleza, como querem alguns críticos. Penso em um artista de meu país, Damien Hirst: quando ele coloca uma ovelha morta e moscas em uma vitrine, aquilo não é belo; ele gera demanda por ser chocante, angustiante, perturbador.

> **Economia criativa é…**
>
> … usar ideias para criar outras ideias, o que geralmente acontece nos segmentos de arte, cultura, design, entretenimento, moda e mídia, mas  aplica-se a qualquer inovação. Movimenta de 8% a 10% do PIB mundial.

**A economia criativa ainda é muito modesta no Brasil. Apesar de nos vermos como um povo criativo, muitos de nós dizemos: “Não sou pago para pensar”. Há explicação?** 

Não tenho conhecimento para analisar o Brasil, mas, na economia criativa, o indivíduo tem de pensar por conta própria. Agora, isso não é algo apenas individual; costumo falar em “ecologias criativas”, que favoreçam o pensar. Pessoas criativas não têm medo de pensar. Não têm medo de considerar alternativas que possam ser melhores e mais agradáveis, uma cor diferente, outro arranjo que reflita o mundo em que gostariam de viver. As empresas da economia criativa são receptivas a esse comportamento autônomo, e isso implica receptividade na liderança e na gestão, no recrutamento, na remuneração, nos incentivos não financeiros… É preciso, além de tudo, que a propriedade intelectual seja aceita pelas empresas. As pessoas, por sua vez, devem aprender a pensar por si mesmas, compartilhar suas ideias com o grupo e depois voltar a pensar sozinhas. Isso é raro, porque algumas tendem a trabalhar bem sozinhas, e outras, em grupo, não as duas coisas. Importante: pessoas criativas realmente aprendem o tempo todo; isso faz parte do trabalho. E confiam –em si mesmas e na empresa; agir individualmente demanda confiança. 

**Ao menos no Brasil, muitas pessoas são desconfiadas, inseguras ante as mudanças. Tudo o que querem é a estabilidade de um funcionário público.**

Não é só no Brasil. Isso também acontece na Inglaterra e na China. Os empregos que mais cresceram na Inglaterra foram os públicos; as pessoas só se mantêm nos mesmos empregos por mais de dez anos se estiverem em serviços públicos. 

**Há lugar na economia criativa para pessoas que têm medo?** 

Sim, na economia criativa, nem todos são criativos, assim como, na economia industrial, apenas 30% da população trabalhava em fábricas. A sociedade sempre vai precisar de pessoas que façam tarefas repetitivas, que continuarão a existir mesmo com todo o avanço tecnológico.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Liderança na gestão do mundo híbrido

Este modelo que nasceu da necessidade na pandemia agora impulsiona o engajamento, reduz custos e redefine a gestão. Para líderes, o desafio é alinhar flexibilidade, cultura organizacional e performance em um mercado cada vez mais dinâmico.

Data economy: Como a inteligência estratégica redefine a competitividade no século XXI

Na era digital, os dados emergem como o ativo mais estratégico, capaz de direcionar decisões, impulsionar inovações e assegurar vantagem competitiva. Transformar esse vasto volume de informações em valor concreto exige infraestrutura robusta, segurança aprimorada e governança ética, elementos essenciais para fortalecer a confiança e a sustentabilidade nos negócios.

China

O Legado do Progresso

A celebração dos 120 anos de Deng Xiaoping destaca como suas reformas revolucionaram a China, transformando-a em uma potência global e marcando uma era de crescimento econômico, inovação e avanços sociais sem precedentes.

Tecnologias exponenciais
Em meio aos mitos sobre IA no RH, empresas que proíbem seu uso enfrentam um paradoxo: funcionários já utilizam ferramentas como ChatGPT por conta própria. Casos práticos mostram que, quando bem implementada, a tecnologia revoluciona desde o onboarding até a gestão de performance.

Harold Schultz

3 min de leitura
Gestão de Pessoas
Diferente da avaliação anual tradicional, o modelo de feedback contínuo permite um fluxo constante de comunicação entre líderes e colaboradores, fortalecendo o aprendizado, o alinhamento de metas e a resposta rápida a mudanças.

Maria Augusta Orofino

3 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A Inteligência Artificial, impulsionada pelo uso massivo e acessível, avança exponencialmente, destacando-se como uma ferramenta inclusiva e transformadora para o futuro da gestão de pessoas e dos negócios

Marcelo Nóbrega

4 min de leitura
Liderança
Ao promover autonomia e resultados, líderes se fortalecem, reduzindo estresse e superando o paternalismo para desenvolver equipes mais alinhadas, realizadas e eficazes.

Rubens Pimentel

3 min de leitura
Empreendedorismo, Diversidade, Uncategorized
A entrega do Communiqué pelo W20 destaca o compromisso global com a igualdade de gênero, enfatizando a valorização e o fortalecimento da Economia do Cuidado para promover uma sociedade mais justa e produtiva para as mulheres em todo o mundo

Ana Fontes

3 min de leitura
Diversidade
No ambiente corporativo atual, integrar diferentes gerações dentro de uma organização pode ser o diferencial estratégico que define o sucesso. A diversidade de experiências, perspectivas e habilidades entre gerações não apenas enriquece a cultura organizacional, mas também impulsiona inovação e crescimento sustentável.

Marcelo Murilo

21 min de leitura
Finanças
Casos de fraude contábil na Enron e Americanas S.A. revelam falhas em governança corporativa e controles internos, destacando a importância de transparência e auditorias eficazes para a integridade empresarial

Marco Milani

3 min de leitura
Liderança
Valorizar o bem-estar e a saúde emocional dos colaboradores é essencial para um ambiente de trabalho saudável e para impulsionar resultados sólidos, com lideranças empáticas e conectadas sendo fundamentais para o crescimento sustentável das empresas.

Ana Letícia Caressato

6 min de leitura
Empreendedorismo
A agência dos agentes em sistemas complexos atua como força motriz na transformação organizacional, conectando indivíduos, tecnologias e ambientes em arranjos dinâmicos que moldam as interações sociais e catalisam mudanças de forma inovadora e colaborativa.

Manoel Pimentel

3 min de leitura
Liderança
Ascender ao C-level exige mais que habilidades técnicas: é preciso visão estratégica, resiliência, uma rede de relacionamentos sólida e comunicação eficaz para inspirar equipes e enfrentar os desafios de liderança com sucesso.

Claudia Elisa Soares

6 min de leitura