Uncategorized

Eduardo Foresti: Expediente de 6 Horas

Compartilhar:

No dia 4 de novembro, Eduardo Foresti tomou coragem e abandonou o pudor que o acompanhava há anos. Em seu perfil no Facebook, o designer publicou um texto intitulado “Trabalhar 6 horas por dia. Um sonho?”. 

Em meia dúzia de parágrafos, a revelação de que na sua empresa, a Foresti Design, o expediente vai das 13h às 19h, rigorosamente. Nada de serão, nada de levar trabalho para casa. O receio com a postagem estava ligado à ideia de que é necessário estar sempre brigando com o tempo, com o escaninho abarrotado. “Às vezes, ainda acho que pode transparecer alguma espécie de displicência trabalhar menos de oito horas por dia – mas isso é uma besteira.”

Formado em arquitetura no início da década de 1990, Foresti, 51 anos, construiu sólida carreira como designer. O começo foi em um dos mais conceituados estúdios do Brasil, o escritório Cauduro Martino. De lá ele saiu para estudar na Basel School of Design, na Suíça, e passou por um estágio nos Estados Unidos. Na volta ao Brasil, trabalhou em duas das maiores agências de propaganda do País, a Almap BBDO e a F/Nazca, entre outras. 

“Lembro-me do primeiro dia na AlmapBBDO, quando bateu 19h e vi todo mundo lá. Olhei para os lados e pensei que não aguentaria ficar até às 20h ou mais todos os dias, virando noite, passando fins de semana em projetos”, rememora Foresti. Das experiências em agências, tirou um ensinamento que sedimentaria as bases do próprio negócio: produtividade tem a ver com comprometimento. 

Em junho de 2012, a Foresti Design abriu as portas. Ele comandava um exército de um homem só. Apesar disso, não se deixou seduzir pelo home office e alugou uma sala a três quarteirões de casa. “Pratico a ‘imobilidade urbana’, me movimentando o mínimo possível para não perder tempo”, brinca ele, que costuma se locomover de bicicleta. Ao perceber que as manhãs não eram produtivas para o ofício de designer, Foresti aliou o útil ao agradável e decidiu que as manhãs seriam dedicadas a atividades pessoais, como pagar contas, ir ao médico, nadar e, especialmente, ficar com o filho, João, hoje com 10 anos. 

Na medida em que as demandas aumentaram, a equipe cresceu. Mas não muito, pois a ideia é manter o padrão de butique. A regra das seis horas é aplicada às cinco colaboradoras. Assim, todas têm um turno comercial livre para fazer o que bem entenderem. Em compensação, quando chega a hora de trabalhar, é fundamental que a equipe abrace a causa. “A prova de que funciona é ver as pessoas mais produtivas e mais felizes. Hoje trabalho menos e ganho mais”, afirma Foresti. No estúdio, o clima é de leveza e camaradagem. 

**META: 5 HORAS**

O designer almoça ao meio-dia. Quem mora longe é obrigado a comer ainda mais cedo. Por isso, ele estuda a possibilidade de reduzir a jornada para cinco horas, iniciando às 14h. Para garantir a eficiência do atendimento aos clientes – são em média oito projetos concomitantes – e a captacão de novos clientes, ele usa – veja só – as redes sociais. Além do perfil no Facebook, fala com eles em quatro contas no Instagram: pessoal, do estúdio, de ilustração e, acredite, de memes. As combinações com o time são feitas pessoalmente, no começo da semana, ou por um grupo no WhatsApp. No passado, chegaram a usar o Trello, mas a prática caiu no ostracismo. “Não usamos muitas ferramentas de organização.” 

Foresti também é professor na Escola Britânica de Artes Criativas (Ebac), instituição que “coincidentemente” fica no mesmo bairro onde ele vive. A preparação das aulas e a leitura de livros (que vão do design a biografias) são feitas quase sempre pela manhã. Às vezes, quando precisa de concentração para criar, o designer se isola depois que o filho João vai para a cama, por volta das 21h. No escritório de casa, às vezes, ele invade a madrugada. “A noite é mais ligada à reflexão, um momento só meu, sem interrupções”, explica. Mas ele só faz isso com a condição de dormir até mais tarde no dia seguinte. O que não é nenhum pecado para quem “bate ponto” à uma da tarde. 

> **Horas diárias trabalhadas.** em média, seis horas, com foco total. É o tempo em que seu estúdio fica aberto, de segunda a sexta, das 13h às 19h. 
>
> **Esportes.** Foresti procura andar sempre de bike, inclusive quando visita clientes. Além disso, gosta de nadar.
>
> **Redes sociais.** Ele mantém perfis ativos no Facebook, LinkedIn e Instagram (neste, são quatro contas). Segundo ele, nada disso atrapalha: “Eu consigo ser multitask”.
>
> **Sabático.** Como sempre foi apaixonado pelo que faz, nunca pensou em se afastar do design. Nutre a ideia, no entanto, de viver um tempo fora do País – mas sem abandonar o trabalho. 
>
> **Fim de semana.** Procura aproveitar em família e com amigos. Tem dois hobbies: cria abelhas e é apaixonado por carros antigos – ele tem cinco, com os quais participa de encontros de colecionadores. 
>
> **Reflexões mais profundas.** Ele as faz em casa, depois que o filho dorme.
>
>

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Inovação
O SXSW 2025 transformou Austin em um laboratório de mobilidade, unindo debates, testes e experiências práticas com veículos autônomos, eVTOLs e micromobilidade, mostrando que o futuro do transporte é imersivo, elétrico e cada vez mais integrado à tecnologia.

Renate Fuchs

4 min de leitura
ESG
Em um mundo de conhecimento volátil, os extreme learners surgem como protagonistas: autodidatas que transformam aprendizado contínuo em vantagem competitiva, combinando autonomia, mentalidade de crescimento e adaptação ágil às mudanças do mercado

Cris Sabbag

7 min de leitura
Gestão de Pessoas
Geração Beta, conflitos ou sistema defasado? O verdadeiro choque não está entre gerações, mas entre um modelo de trabalho do século XX e profissionais do século XXI que exigem propósito, diversidade e adaptação urgent

Rafael Bertoni

0 min de leitura
Empreendedorismo
88% dos profissionais confiam mais em líderes que interagem (Edelman), mas 53% abandonam perfis que não respondem. No LinkedIn, conteúdo sem engajamento é prato frio - mesmo com 1 bilhão de usuários à mesa

Bruna Lopes de Barros

0 min de leitura
ESG
Mais que cumprir cotas, o desafio em 2025 é combater o capacitismo e criar trajetórias reais de carreira para pessoas com deficiência – apenas 0,1% ocupam cargos de liderança, enquanto 63% nunca foram promovidos, revelando a urgência de ações estratégicas além da contratação

Carolina Ignarra

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O SXSW revelou o maior erro na discussão sobre IA: focar nos grãos de poeira (medos e detalhes técnicos) em vez do horizonte (humanização e estratégia integrada). O futuro exige telescópios, não lupas – empresas que enxergarem a IA como amplificadora (não substituta) da experiência humana liderarão a disrupção

Fernanda Nascimento

5 min de leitura
Liderança
Liderar é mais do que inspirar pelo exemplo: é sobre comunicação clara, decisões assertivas e desenvolvimento de talentos para construir equipes produtivas e alinhada

Rubens Pimentel

4 min de leitura
ESG
A saúde mental no ambiente corporativo é essencial para a produtividade e o bem-estar dos colaboradores, exigindo ações como conscientização, apoio psicológico e promoção de um ambiente de trabalho saudável e inclusivo.

Nayara Teixeira

7 min de leitura
Empreendedorismo
Selecionar startups vai além do pitch: maturidade, fit com o hub e impacto ESG são critérios-chave para construir ecossistemas de inovação que gerem valor real

Guilherme Lopes e Sofia Szenczi

9 min de leitura
Empreendedorismo
Processos Inteligentes impulsionam eficiência, inovação e crescimento sustentável; descubra como empresas podem liderar na era da hiperautomação.

Tiago Amor

6 min de leitura