Business content, Dossiê: Jovens Talentos, Gestão de pessoas

Educação de jovens talentos: por que essa conversa também é do setor privado

Se o desafio de escolas e universidades é promover um ensino mais conectado ao século 21, as empresas podem apostar na inclusão produtiva, treinando antes de contratar
Fundador do Capitalismo Consciente Jovem, iniciativa do Instituto Capitalismo Consciente Brasil para a juventude, é líder de programas de desenvolvimento para jovens na Eureca, consultoria em juventude e empregabilidade, co-autor do livro *Reflexões de Jovens Líderes sobre Liderança* e foi presidente da Federação Catarinense de Empresas Juniores. Já desenvolveu projetos para as organizações Votorantim, PagSeguro, Neoenergia, Livelo, Sicredi, Sodexo, Nike, Renner, entre outras e atuou em projetos no Brasil e no Peru.

Compartilhar:

A situação da educação brasileira é alarmante. Para se ter ideia, quatro em cada 10 jovens cogitaram abandonar os estudos durante a pandemia, segundo o [Conselho Nacional da Juventude](https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2021/06/10/quatro-em-cada-dez-jovens-cogitaram-parar-estudos-na-pandemia-diz-pesquisa.ghtml). Em 2021, a evasão atingiu em cheio o ensino superior e o ensino básico. Quase [3,5 milhões de alunos largaram os estudos em faculdades privadas](https://g1.globo.com/educacao/noticia/2022/01/02/quase-35-milhoes-de-alunos-evadiram-de-universidades-privadas-no-brasil-em-2021.ghtml), uma taxa de 36,6%, conforme o Semesp, instituto que representa mantenedoras do ensino superior no Brasil. Nas escolas, de acordo com um [estudo do *Todos Pela Educação*](https://g1.globo.com/educacao/noticia/2021/12/02/evasao-escolar-de-criancas-e-adolescente-aumenta-171percent-na-pandemia-diz-estudo.ghtml), a evasão cresceu 171% durante a pandemia.

Quais são as causas desse cenário? A pandemia teve sua parcela de culpa, claro. A crise financeira, decorrente da crise sanitária, impactou diretamente o bolso dos alunos e suas famílias. Sem condições de bancar as mensalidades, muitos abandonaram as universidades.

Ao mesmo tempo, a [migração para o ensino remoto dificultou o acesso às aulas](https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2021/03/acesso-internet-foi-maior-dificuldade-de-alunos-da-rede-publica-em-2020.html). Esse foi o principal problema na rede escolar pública – [mais de 4 milhões de estudantes entraram no período pandêmico sem conexão com a internet](https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2021/04/segundo-ibge-43-milhoes-de-estudantes-brasileiros-entraram-na-pandemia-sem-acesso-a-internet.shtml), segundo o IBGE.

Só que a pandemia não é a única explicação. A educação brasileira tropeça nas próprias pernas há décadas. Baseada em uma lógica com data de validade expirada, ela não se conecta com a [realidade atual da juventude](https://www.revistahsm.com.br/post/pos-pandemia-as-expectativas-dos-millennials-e-da-geracao-z). Predomina o modelo que Paulo Freire chama de “educação bancária”. O professor transfere conteúdo para alunos passivos, sem engajá-los no processo de ensino e aprendizagem.

Essa lógica é perversa porque suas consequências se alastram.

Alunos sem motivação largam os estudos ou se formam sem as competências necessárias para lidar com a sociedade e o mercado de trabalho do século 21. Já as empresas têm dificuldades para encontrar talentos. No setor de tecnologia da informação (TI), por exemplo, o déficit anual é de 50 mil profissionais. São criadas 100 mil vagas por ano, mas só a metade é preenchida, conforme a Associação Brasileira das Empresas de TI e Comunicação (Brasscom).

## Um chamado ao setor produtivo
Mesmo que dominem a parte técnica do trabalho, os profissionais sofrem pela falta de habilidades socioemocionais. Uma [pesquisa da Page Personnel](https://hsm.com.br/blog/perfil-comportamental/) detectou que nove em cada 10 pessoas contratadas por suas características técnicas são demitidas por questões comportamentais.

O relatório [*The Future of Jobs*, do Fórum Econômico Mundial](https://www.weforum.org/reports/the-future-of-jobs-report-2020), é certeiro ao destacar a importância crescente das soft skills no mundo do trabalho. Estamos falando da capacidade de resolução de problemas, criatividade, pensamento crítico e analítico, comunicação, entre outras. O conhecimento técnico não pode ser abandonado, mas [essas características já figuram na lista de pré-requisitos das vagas de emprego](https://www.revistahsm.com.br/post/pos-pandemia-as-expectativas-dos-millennials-e-da-geracao-z).

Trata-se, portanto, de uma lacuna na formação escolar e universitária. Poucas instituições de ensino desenvolvem o autoconhecimento e as soft skills em seus alunos. Uma [nova geração de talentos](https://www.revistahsm.com.br/post/protagonistas-do-futuro) depende do desenho de currículos inovadores, atrativos aos jovens, recheados de atividades permeadas pela tecnologia e conectados com a sociedade e o mercado de trabalho, favorecendo habilidades técnicas e emocionais na mesma medida.

Mas essa tarefa não cabe somente às instituições de ensino. O setor privado não pode ficar de braços cruzados enquanto sofre as consequências de uma educação formal insuficiente. É preciso trazer as empresas para essa conversa.

Nesse sentido, minha sugestão é adicionar um novo termo ao dicionário corporativo: a inclusão produtiva.

## Em primeiro lugar, capacitação
Isso significa, por exemplo, capacitar antes de contratar. Cursos, workshops, videoaulas, hackathons, painéis, lives, eventos e programas de inovação aberta são atividades que funcionam como [ponto de contato entre a empresa e os jovens talentos](https://www.mitsloanreview.com.br/post/o-paradoxo-de-envelhecer-e-a-inteligencia-artificial). Eles recebem treinamento e saem com certificados que podem validar horas na faculdade ou incrementar seus currículos.

As empresas, por sua vez, montam um banco de dados pelo qual acompanham quem mais participa das ações, quem tem as melhores avaliações e mais fit cultural com a organização.

A [estratégia facilita as contratações](https://www.revistahsm.com.br/post/quer-que-sua-carreira-deslanche-aprenda-a-liderar-jovens), que se tornam mais precisas. Em vez de convidar centenas ou milhares de pessoas para o processo seletivo, basta acessar o banco de dados, que pode ser abastecido o ano inteiro pelas formações. Nesse formato, aqueles que não são contratados, continuam no mercado e podem ir para outras corporações, contribuindo para a economia como um todo.

Apesar das lacunas sistêmicas na educação, o setor privado pode garantir a formação de profissionais com domínio de competências técnicas e socioemocionais. Basta caminhar em direção à inclusão produtiva e desenvolver uma lógica de colaboração intersetorial..

__*O E-dossiê: Jovens Talentos é uma coprodução HSM Management e Eureca.*
__

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Empreendedorismo
Um guia para a liderança se antecipar às consequências não intencionais de suas decisões

Lilian Cruz e Andréa Dietrich

4 min de leitura
ESG
Entre nós e o futuro desejado, está a habilidade de tecer cada nó de um intricado tapete que une regeneração, adaptação e compromisso climático — uma jornada que vai de Baku a Belém, com a Amazônia como palco central de um novo sistema econômico sustentável.

Bruna Rezende

5 min de leitura
ESG
Crescimento de reclamações à ANS reflete crise na saúde suplementar, impulsionada por reajustes abusivos e falta de transparência nos planos de saúde. Empresas enfrentam desafios para equilibrar custos e atender colaboradores. Soluções como auditorias, BI e humanização do atendimento surgem como alternativas para melhorar a experiência dos beneficiários e promover sustentabilidade no setor.
4 min de leitura
Finanças
Brasil enfrenta aumento de fraudes telefônicas, levando Anatel a adotar medidas rigorosas para proteger consumidores e empresas, enquanto organizações investem em tecnologia para garantir segurança, transparência e uma comunicação mais eficiente e personalizada.

Fábio Toledo

4 min de leitura
Finanças
A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Rui Rocha

0 min de leitura
Finanças
O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Fábio Duran

3 min de leitura
Empreendedorismo
Trazer os homens para a discussão, investir em ações mais intencionais e implementar a licença-paternidade estendida obrigatória são boas possibilidades.

Renata Baccarat

4 min de leitura
Uncategorized
Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Ivan Cruz

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Edmee Moreira

4 min de leitura
ESG
A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Ana Carolina Peuker

4 min de leitura