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Educação precisa de engajamento

A inovação na gestão pública da educação tem como denominador comum a busca da motivação dos alunos, o que tem sido possível com escolas de tamanho menor ou que criam competições
A entrevista é de Sílvio Anaz, colaborador de HSM Mannagement.

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A inovação em educação pública segue o caminho da customização da relação professor-aluno em um ambiente cada vez mais democrático e igualitário. Quem afirma isso é Eduardo Shimahara, cofundador do coletivo Educ-ação, que visitou 13 diferentes escolas inovadoras em nove países entre 2012 e 2013, para entender como a área pode ser melhorada, e lançou o livro Volta ao Mundo em 13 Escolas. Em regra, o que move essas iniciativas é a busca do engajamento do aluno no aprendizado e, na maioria dos casos, seus protagonistas são educadores que se dispõem a vencer as barreiras do sistema, o que, aliás, é facilitado no Brasil, porque nossa Lei de Diretrizes e Bases da Educação prevê autonomia. 

**ESCOLA: QUANTO MENOR, MELHOR**

Após a Segunda Guerra Mundial, a política educacional norte-americana apostou nas grandes escolas de ensino médio, com mais de 2 mil alunos, como o modelo mais vantajoso economicamente. Nos anos 1980, os defensores da ideia de que escolas menores traziam vantagens dos pontos de vista social e educacional começaram a obter suas primeiras vitórias. Foi quando abriram 15 pequenas escolas públicas na cidade de Nova York. O movimento, que ganhou fôlego a partir de 2000, aposta que pequenas escolas possibilitam aos educadores criar um ambiente onde o estudante seja mais facilmente acompanhado e sinta-se mais seguro, o que aumenta sua motivação, sua participação e, consequentemente, seu desempenho acadêmico. 

Notou-se que isso é especialmente benéfico para estudantes de baixa renda e oriundos de minorias. Não à toa, quando o Departamento de Educação de Nova York, em parceria com o Sindicato dos Professores e o Conselho dos Supervisores Escolares, lançou o programa “New Century High School Initiative”, propondo a escola do novo século, 70% das cerca de 150 novas pequenas escolas que começaram a funcionar em Nova York foram localizadas nos bairros do Bronx e do Brooklyn. Estudo sobre a experiência nova-iorquina feito pelo National Bureau of Economic Research encontrou evidências consistentes de que as pequenas escolas de ensino médio estimulam os estudantes a atingir melhoras significativas em seus processos de graduação, tanto nas notas alcançadas nos exames oficiais como nos créditos acumulados. 

> **E no Brasil?**
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> Também aqui as práticas inovadoras de gestão na educação buscam o maior engajamento dos alunos. Em São Paulo, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Desembargador Amorim Lima desenvolveu um modelo de tomada de decisão conjunta com os pais e subverteu o papel dos professores, que se tornaram tutores dos alunos, acompanhando-os por vários anos e construindo uma relação de proximidade, como conta o livro Volta ao Mundo em 13 Escolas, do coletivo Educ-Ação. Na mesma linha, escolas estaduais de Pernambuco, Rio de Janeiro, Acre e Sergipe engajaram seus alunos do 8º e 9º anos do ensino fundamental convidando-os a participar de uma olimpíada baseada na internet. Em equipes de seis a dez integrantes, eles enfrentam desafios, como games e enigmas, e só conseguem solucioná-los utilizando o conteúdo de todas as disciplinas estudadas. 
>
> A figura do “professor aliado”, essencial, envolveu o educador na jornada, e cada equipe escolheu ainda um capitão, responsável por ajudar na administração e integração do grupo. Assim, a olimpíada engajou pelo entretenimento, mas exigiu, no processo, além do domínio do conteúdo, capacidades como narrativa, pensamento crítico, estratégias, colaboração e liderança. Entre as escolas públicas com maior nota no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), métrica criada em 2007, a tônica também é o engajamento: em Foz do Iguaçu (PR), a escola Santa Rita de Cássia fortaleceu-se com melhoria de infraestrutura, maior participação dos professores na transformação (incluindo a preparação do material didático) e gestão democrática. Em Sobral (CE), onde várias escolas se saem bem no Ideb, o foco está no conceito de rede entre escolas, na valorização do professor e em aulas em período integral. 

**REDE DE ESCOLAS**

Também vem dos Estados Unidos outra inovação significativa na área educacional. Trata-se da Leadership Public Schools (LPS), uma organização não governamental formada por quatro escolas públicas situadas na Bay Area, da Califórnia, que atendem cerca de 1,5 mil estudantes. 

O principal objetivo da rede é preparar os alunos para que sejam bem-sucedidos no ingresso na universidade e transformá-los em líderes em suas comunidades com o uso mais intensivo de recursos educacionais. Estes são de uso livre, ou seja, têm licenças para ser compartilhados sem a necessidade de pagamento de direitos autorais. A medida é revolucionária, de três maneiras: reduz drasticamente os custos do material escolar, além de possibilitar sua permanente atualização e a customização do conteúdo para as necessidades de cada grupo de estudantes. As dificuldades para essas crianças chegarem à universidade são enormes. 

Nas quatro escolas públicas que formam a LPS, 94% dos alunos são afro-americanos ou latinos, e mais de 62% deles pertencem a famílias de baixa renda. Conforme a escola, até 50% dos estudantes ingressam no primeiro ano do ensino médio com as habilidades de um aluno do 4º ano do ensino fundamental. Pois, na LPS, todos esses estudantes passam por um curso preparatório para ingresso no ensino superior e tem dado certo: 97% deles obtêm vaga em universidade e as escolas saltaram das faixas de notas mais baixas para as mais altas nos exames oficiais do estado. 

A principal inovação da proposta da LPS é, na verdade, a construção de uma rede de pesquisa e desenvolvimento formada pelos professores das escolas envolvidas. A possibilidade de atualizar e customizar o material escolar tem feito com que os educadores se envolvam, eles mesmos, em um contínuo processo colaborativo de revisão dos conteúdos e produção de vários recursos sob medida, o que é estimulante e minimiza o impacto da alta taxa de rotatividade de professores. 

Outro dos fundamentos diferenciados do projeto é que as escolas funcionem também como incubadoras de ideias inovadoras. A LPS distribui entre as escolas os desafios que surgem no processo educacional, e as soluções desenvolvidas são compartilhadas em rede. Isso faz com que a LPS tenha múltiplas inovações em diferentes estágios sendo desenvolvidas ao mesmo tempo. Cada ideia é elaborada, adotada ou adaptada por uma equipe de professores. Os protótipos são então distribuídos para um grupo maior de docentes, que vão interagindo em um processo colaborativo por meio de seminários na internet, até a ideia se concretizar. 

**CORRER PARA INOVAR**

Em Múrcia, na Espanha, o caminho escolhido para engajar os alunos de maior faixa etária foi a competição. Todos os anos, estudantes de universidades e escolas técnicas locais criam protótipos de carros movidos a energia solar para competir na Murcia Solar Race. A competição ocorre desde 2009 e vem engajando cada vez mais os estudantes, além de contaminá-los de espírito empreendedor.

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