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Em busca do Santo Graal

Trabalhar menos tempo é uma demanda válida, porque nos permite viver outras identidades. Mas temos de trabalhar melhor –e estar dispostos a fazer sacrifícios.Essa é a mensagem-chave do britânico David Baker, ex-editor da Wired UK e professor da The School of life. Ele também tem uma sugestão para as empresas: respeitar quem não é workaholic

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> **Saiba mais sobre David Baker**
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> Quem é: Professor da The School of Life, coach e consultor; ex-editor da Wired UK. 
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> Temas abordados: De economia a antropologia, passando por qualidade de vida. Suas vidas: Mergulhador profissional, leitor, cozinheiro, caminhante etc.

**Trabalhar 40 horas por semana ou mais é bom?**

Eu acho que não. Fazemos isso por sermos catastróficos: criamos a ilusão de que, se não trabalharmos tanto, vamos perder tudo. Não procede. O santo graal a perseguir deve ser trabalhar menos, mas melhor, porque a vida fora do trabalho é muito interessante. Uns 20 anos atrás, eu tinha várias ocupações, mas decidi trabalhar menos. Fiz sacrifícios: ganhar menos, gastar menos. Decidi mudar porque na vida fora do trabalho há grandes oportunidades de descobertas.

Segundo Herminia ibarra, do insead, uma pessoa tem talvez umas cem identidades dentro de si, só descobertas quando exploradas. O modelo tradicional do trabalho destrói a aventura dessas descobertas. 

**Muitos executivos dizem que o equilíbrio entre o trabalho e outras identidades é ilusório.**

Existem pessoas que creem nisso, mas eu penso que devemos buscar os três equilíbrios descritos pelo poeta David Whyte, o que ele chama de três casamentos: um com o trabalho, um com nós mesmos e um terceiro com os outros. Quando uma pessoa trabalha 18 horas por dia, não consegue manter o equilíbrio nem em dois desses casamentos. Equilíbrio é bom, mas não é tudo. Para mim, existe algo mais importante: os intervalos para não fazer nada. Neles é que surgem as oportunidades e as novas ideias. Não quero nunca parar de trabalhar, mas faço intervalos todos os dias. 

**Ajuda a lidar com a pressão?**

Nós, homens, gostamos de pressão, sabia? No entanto, devemos evitá-la; não precisamos dela, não gera resultados melhores nem piores. É algo inócuo. Quando participei da criação da Wired no Reino Unido, desenvolvi uma cultura de tranquilidade e funcionou. O ambiente calmo persiste ali até hoje. 

**Mulheres gostam de pressão tanto quanto homens?**

Menos, segundo minha observação. Acho que porque muitas têm fontes de recompensa mais variadas. lembro de, quando era jornalista foca, ter entrevistado a CEO de uma empresa de materiais de construção que havia ganhado o prêmio “Businesswoman of the Year” no Reino Unido. Eu lhe perguntei a diferença entre os homens e as mulheres nos negócios e ela disse: “Quando me reúno com mulheres, mesmo concorrentes, compartilhamos tudo, até leads, e é muito bom; já em reu niões com homens, ninguém compartilha nada para não ser roubado”. Pressão tem a ver com falta de confiança. Não sei quando foi que nós, homens, ficamos tão desconfiados.

**Como garantir que o horror ao workaholism não leve ao comportamento burocrático?**

O vício em trabalho é uma patologia, mas temos de aceitar que há alguns viciados de um jeito bom, que gostam muito do que fazem. a maioria das pessoas, no entanto, não tem a doença e possui outros interesses na vida, preferindo trabalhar menos. Para esses indivíduos não se tornarem burocratas, as empresas deveriam adaptar o trabalho a essas expectativas, o que faria com que eles gostassem de trabalhar. 

> **“O PORTUGUÊS DO BRASIL É MINHA LÍNGUA FAVORITA”**
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> David Baker estava em Londres quando concedeu esta entrevista por Skype, falando quase totalmente em português. Recorreu ao inglês em poucas expressões. “Aprendi muito, mas quero aprender mais e melhor. O português do Brasil é minha língua favorita.” O elogio não é pouco, vindo de alguém que também fala francês, espanhol, italiano e hebraico, entre outros idiomas. “Falo muitas línguas, mas com muitos erros; o importante é me comunicar, porque assim surgem as amizades.”

**Os brasileiros são equilibrados? A sensação é que somos ruins de gerenciar o tempo…** 

Não posso responder a isso 100%, mas me parece que é funcional o modo como o tempo é gerido no mundo do trabalho no Brasil. Por exemplo, eu gosto de fazer reuniões de trabalho com brasileiros, porque o clima geralmente é descontraído, e isso leva a decisões boas.

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