Marketing e vendas

Employer branding para adultos

Algumas marcas caem no grave erro de forçar a barra em temáticas pueris e de praticar, internamente, ações totalmente contrárias aos seus discursos
Atua como consultora em projetos de comunicação, employer branding e gestão da mudança pela Smart Comms, empresa que fundou em 2016. Pós-graduada em marketing (FGV), graduada em comunicação (Cásper Líbero) e mestranda em psicologia organizacional (University of London), atuou por 13 anos nas áreas de comunicação e marca em empresas como Johnson&Johnson, Unilever, Touch Branding e Votorantim Cimentos. É professora do curso livre de employer branding da Faculdade Cásper Líbero, um dos primeiros do Brasil, autora de artigos sobre o tema em publicações brasileiras e internacionais e co-autora do livro Employer Branding: conceitos, modelos e prática.

Compartilhar:

Em março de 2020, a Viviane Mansi, também [colunista desta __HSM Management__](https://www.revistahsm.com.br/colunistas/viviane-mansi), e eu tínhamos acabado de completar dois anos ministrando nosso curso de employer branding na Faculdade Cásper Líbero. A turma presencial que aconteceria naquele mês foi cancelada em respeito ao isolamento social e, dali algum tempo, retomaríamos as aulas em formato online. Essa jornada de quase um ano ensinando e trabalhando com EB durante a pandemia trouxe muitos aprendizados, dúvidas, questionamentos e descobertas.

Naquele mesmo mês de março traduzi para o português um [artigo do James Ellis](https://www.linkedin.com/pulse/hoje-%C3%A9-o-dia-em-que-sua-marca-empregadora-mostra-seu-bruna/), líder de employer branding da Roku, que falava justamente do que enfrentaríamos como profissionais da área durante a pandemia. O título era “Hoje é o dia em que sua marca empregadora mostra seu valor”, e James falava sobre o quanto marcas empregadoras, apoiadas em estruturas frágeis, seriam testadas e provavelmente sofreriam diante dos desafios da pandemia.

Essas marcas, geralmente construídas com muito foco em atração, com muita ativação, barulho e pouco conhecimento de si mesmas como lugares para trabalhar, provavelmente sofreriam mais do que aquelas realmente comprometidas com marca empregadora como um ecossistema, algo vivo dentro da organização.

Quase um ano depois, revisitei o texto do James e posso dizer que essa previsão se concretizou de forma visível. Com boa parte dos chamados trabalhadores do conhecimento em casa, pouco adianta o barulho sobre lindos novos escritórios e eventos badalados para chamar a atenção. Com todos os trabalhadores essenciais na linha de frente, expostos ao risco para manter a vida funcionando minimamente, como falar de proteger e cuidar das pessoas? Para onde correr quando a realidade de todos muda e não há fundamentos para a marca empregadora – só movimento, barulho e buzz?

## A realidade entre os discursos

Andei lendo artigos criticando o fato de empresas ainda quererem trabalhar temas como “orgulho de pertencer”, “vestir a camisa” e coisas do tipo, sendo que não são perfeitas e não cumprem tudo que prometem, além poderem decidir cortar vínculos com quem “veste a camisa” a qualquer momento, especialmente quando a coisa aperta, como agora. Justo. Esse tipo de crítica é pertinente e passa por uma discussão maior sobre como podemos trabalhar conexão entre empresas e pessoas de uma forma mais madura.

No cenário que temos vivido desde março de 2020, a corrida pela visibilidade pura e simples em marca empregadora parece ainda mais sem sentido. É claro que, especialmente para empresas menos conhecidas, alguma visibilidade que diga “eu existo e essa sou eu” é relevante. Ainda assim, forçar a barra trabalhando marca empregadora intensamente em temáticas de como é “incrível” estar na empresa, como é “fantástico” vestir a camisa e como “meu programa X é o pioneiro” começa a parecer pueril, como se todo adulto não soubesse que, da porta para dentro, mesmo a mais coerente das empresas não consegue ser tudo que promete 100% do tempo.

## EUFEMISMO

Empresas são feitas de pessoas e pessoas não são incríveis 100% do tempo. E tudo bem. Só precisamos falar mais sobre isso, sem essa necessidade de dourar a pílula o tempo todo. A pílula dourada dura somente até a porta de entrada e, como se sabe, é o que vem depois dela que conta. Então, que possamos fazer employer branding de adultos para adultos.
Por fim, sinto a necessidade de apresentar um post scriptum. Se você é novo por aqui e novo no tema marca empregadora, fica aqui uma explicação sobre os três termos mais usados dentro desse universo:

__Marca Empregadora (Employer Brand):__ a percepção que as pessoas têm da organização como lugar para se trabalhar.

__EVP:__ Employee Value Proposition, ou proposta de valor ao empregado. É conjunto de atributos pelos quais a empresa deseja – e pode! – ser conhecida como lugar para se trabalhar. É a base identitária da marca empregadora.

__Employer branding:__ é a gestão da marca empregadora. Quando bem feita, cuida para que a base identitária da marca empregadora (EVP) seja trabalhada de forma a gerar identificação com as pessoas certas, atraindo-as e mantendo-as por perto.

*Gostou do artigo escrito pela Bruna Gomes Mascarenhas? Então saiba mais sobre gestão employer branding assinando [nossas newsletters](https://www.revistahsm.com.br/newsletter) e escutando [nossos podcasts](https://www.revistahsm.com.br/podcasts) em sua plataforma de streaming favorita.*

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Empreendedorismo
Um guia para a liderança se antecipar às consequências não intencionais de suas decisões

Lilian Cruz e Andréa Dietrich

4 min de leitura
ESG
Entre nós e o futuro desejado, está a habilidade de tecer cada nó de um intricado tapete que une regeneração, adaptação e compromisso climático — uma jornada que vai de Baku a Belém, com a Amazônia como palco central de um novo sistema econômico sustentável.

Bruna Rezende

5 min de leitura
ESG
Crescimento de reclamações à ANS reflete crise na saúde suplementar, impulsionada por reajustes abusivos e falta de transparência nos planos de saúde. Empresas enfrentam desafios para equilibrar custos e atender colaboradores. Soluções como auditorias, BI e humanização do atendimento surgem como alternativas para melhorar a experiência dos beneficiários e promover sustentabilidade no setor.
4 min de leitura
Finanças
Brasil enfrenta aumento de fraudes telefônicas, levando Anatel a adotar medidas rigorosas para proteger consumidores e empresas, enquanto organizações investem em tecnologia para garantir segurança, transparência e uma comunicação mais eficiente e personalizada.

Fábio Toledo

4 min de leitura
Finanças
A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Rui Rocha

0 min de leitura
Finanças
O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Fábio Duran

3 min de leitura
Empreendedorismo
Trazer os homens para a discussão, investir em ações mais intencionais e implementar a licença-paternidade estendida obrigatória são boas possibilidades.

Renata Baccarat

4 min de leitura
Uncategorized
Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Ivan Cruz

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Edmee Moreira

4 min de leitura
ESG
A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Ana Carolina Peuker

4 min de leitura