Empreendedorismo
5 min de leitura

Encontrando a agulha: precisamos de uma mudança radical no palheiro corporativo

No mundo corporativo, insistir em abordagens tradicionais pode ser como buscar manualmente uma agulha no palheiro — ineficiente e lento. Mas e se, em vez de procurar, queimássemos o palheiro? Empresas como Slack e IBM mostraram que inovação exige romper com estruturas ultrapassadas e abraçar mudanças radicais.
Cofundadora da Ambidestra. Consultora e mentora em estratégia, inovação e transformação organizacional.

Compartilhar:

Imagino que ninguém nunca se propôs a de fato buscar uma agulha em um palheiro. Mas, por curiosidade, resolvi perguntar ao ChatGPT se teria sugestões de bons métodos para resolver esta tarefa.

Algumas das soluções apresentadas pela ferramenta foram desde a separação magnética (a agulha, sendo metálica, poderia ser atraída por um ímã), a utilização de um detector de metais, uma busca manual de maneira sistemática (dividindo o palheiro em seções menores e examinando cada uma minuciosamente), até outras mais tecnológicas (aplicação de técnicas de análise estatística e algoritmos de busca para detectar padrões ou anomalias que indicassem a presença da agulha). Também sugeriu abordagens criativas como espalhar o conteúdo do palheiro em uma superfície plana e iluminada para facilitar a visualização de objetos metálicos devido ao reflexo da luz na agulha.

Procurar uma agulha no palheiro é também um desafio importante em vários contextos de formulação de estratégia de empresas e tomada de decisão de gestores. Mas, e se a solução não for procurar mais, mas repensar nossa abordagem completamente?

Abordagens tradicionais: peneirando o feno

No mundo corporativo, o palheiro representa a sobrecarga de informações e dados, processos desatualizados e mentalidades fixas que podem travar nosso caminho para a inovação. Muitas vezes, os métodos tradicionais de resolver problemas se resumem à realização de análises detalhadas baseadas em histórico para gerar propostas de ajustes graduais e puramente incrementais.

Embora esses métodos tenham seu valor, às vezes podem ser semelhantes à busca manual e sistemática sugerida pelo ChatGPT acima, na esperança de eventualmente tropeçar na agulha. Mas, será que estamos prontos para repensar nossas abordagens e abraçar novas formas de encontrar a agulha?

Abordagens radicais: queimando o palheiro

E se, em vez de procurar a agulha, a gente simplesmente incendiasse o palheiro? Essa ideia sugere que, para realmente inovar, devemos desmontar as estruturas que já existem e desafiar antigas suposições. Quando eliminamos o palheiro, a agulha aparece. Na prática, isso significa abraçar uma mudança radical.

Mas como iniciar esse processo transformador em sua organização?

  1. Identifique o feno: reconheça obstáculos burocráticos e barreiras culturais que formam seu palheiro. Elimine redundâncias, simplifique operações para remover complexidades desnecessárias que impedem o progresso.

    A Slack Technologies é um exemplo real de inovação que surgiu a partir desta abordagem. Originalmente concebida como uma ferramenta de comunicação interna para uma empresa de jogos chamada Tiny Speck, a empresa identificou as ineficiências generalizadas na comunicação de suas equipes e transformou sua solução interna em um produto com potencial de criar um mercado completamente novo.

    A Slack cresceu muito rápido: em 2013, a empresa lançou uma “versão preview” em modelo semelhante ao Spotify, apenas para convidados. No primeiro dia do lançamento, 8.000 pessoas manifestaram interesse. Uma semana depois, mais de 15.000 pessoas solicitaram acesso à ferramenta.

    Após alguns meses, ela já tinha mais de 1 milhão de usuários diários, sendo 300 mil deles pagos. Em apenas 8 meses, a startup atingiu status de unicórnio, com valor de mercado de US$1 bilhão. Foi comprada pela Salesforce em 2021 por US$27.7 bilhões, a maior aquisição na história da empresa.

  2. Aja decisivamente: assim que identificar os elementos desatualizados, tome medidas ousadas para removê-los e abra o caminho para soluções inovadoras. A IBM é um caso bastante conhecido de transformação de negócios a partir de uma pivotagem radical.

    Enfrentando desafios de queda nas vendas de hardware e aumento da concorrência, que achataram as margens dos seus produtos, a empresa mudou o foco para serviços de consultoria de software e TI, linhas de receita mais rentáveis para o negócio.

    Encontrar a agulha no palheiro corporativo requer mais do que apenas uma busca detalhada. Não dá para peneirar o feno. Para revelar o sucesso, precisamos encontrar
    coragem para atear o fogo.

Compartilhar:

Cofundadora da Ambidestra. Consultora e mentora em estratégia, inovação e transformação organizacional.

Artigos relacionados

Quando o colaborador é o problema

Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura – às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

Marketing & growth, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
17 de setembro de 2025
O futuro do varejo já está digitando na sua tela. O WhatsApp virou canal de vendas, atendimento e fidelização - e está redefinindo a experiência do consumidor brasileiro.

Leonardo Bruno Melo - Global head of sales da Connectly

4 minutos min de leitura
Liderança, Cultura organizacional, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
11 de setembro de 2025
Agilidade não é sobre seguir frameworks - é sobre gerar valor. Veja como OKRs e Team Topologies podem impulsionar times de produto sem virar mais uma camada de burocracia.

João Zanocelo - VP de Produto e Marketing e cofundador da BossaBox

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, compliance, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Liderança
10 de setembro de 2025
Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura - às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

Tatiana Pimenta - CEO da Vittude

5 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Inovação & estratégia
9 de setembro de 2025
Experiência também é capital. O ROEx propõe uma nova métrica para valorizar o repertório acumulado de profissionais em times multigeracionais - e transforma diversidade etária em vantagem estratégica.

Fran Winandy e Martin Henkel

10 minutos min de leitura
Inovação
8 de setembro de 2025
No segundo episódio da série de entrevistas sobre o iF Awards, Clarissa Biolchini, Head de Design & Consumer Insights da Electrolux nos conta a estratégia por trás de produtos que vendem, encantam e reinventam o cuidado doméstico.

Rodrigo Magnago

2 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
5 de setembro de 2025
O maior desafio profissional hoje não é a tecnologia - é o tempo. Descubra como processos claros, IA consciente e disciplina podem transformar sobrecarga em produtividade real.

Diego Nogare

6 minutos min de leitura
Marketing & growth, Cultura organizacional, Inovação & estratégia, Liderança
4 de setembro de 2025
Inspirar ou limitar? O benchmark pode ser útil - até o momento em que te afasta da sua singularidade. Descubra quando olhar para fora deixa de fazer sentido.

Bruna Lopes de Barros

3 minutos min de leitura
Inovação
Em entrevista com Rodrigo Magnago, Fernando Gama nos conta como a Docol tem despontado unindo a cultura do design na organização

Rodrigo Magnago

4 min de leitura
ESG, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
3 de setembro de 2025
O plástico nasceu como símbolo do progresso - hoje, desafia o futuro do planeta. Entenda como uma invenção de 1907 moldou a sociedade moderna e se tornou um dos maiores dilemas ambientais da nossa era.

Anna Luísa Beserra - CEO da SDW

0 min de leitura
Inovação & estratégia, Empreendedorismo, Tecnologia & inteligencia artificial
2 de setembro de 2025
Como transformar ciência em inovação? O Brasil produz muito conhecimento, mas ainda engatinha na conversão em soluções de mercado. Deep techs podem ser a ponte - e o caminho já começou.

Eline Casasola - CEO da Atitude Inovação

5 minutos min de leitura