Inovação

Ensino híbrido: o caminho para o retorno às aulas

Como Pestalozzi, Froebel, Montessori e Paulo Freire influenciam os educadores hoje e no pós-pandemia
Pesquisador, professor, escritor e especialista educacional da International School – programa de educação bilíngue para escolas de ensino regular, e tutor de cursos de certificação de professores (CELTA) pela Universidade de Cambridge, tendo atuado na formação e desenvolvimento de professores no Brasil, América Latina e Reino Unido.

Compartilhar:

O retorno às aulas presenciais está acontecendo gradativamente em todo o país. Analisando a jornada dos educadores do ensino básico atuando remotamente, é importante considerarmos cada desafio enfrentado até o momento como estágio de desenvolvimento em que todos foram adquirindo, no e pelo trabalho, um conjunto de conhecimentos necessários para a transformação da educação escolar no Brasil. 

Considerando este momento inédito de nosso [sistema educaciona](https://revistahsm.com.br/post/arco-educacao-de-olho-no-futuro)l – compreendido entre o fechamento das escolas em março deste ano e o seu gradual retorno às atividades presenciais -, é justo reconhecer-lhe o “caráter excepcional”, sem embargo de admitirmos que muitos foram os avanços e, ainda maiores, os aprendizados que necessitam ser incorporados por professores, instituições escolares e sistemas de ensino de forma perene.

É preciso, dessa forma, refletirmos sobre a necessidade de olhar para todo esse conjunto de mudanças e inovações em face das inúmeras adversidades, ou seja, as novas práticas implementadas, os novos recursos experimentados, as diferentes formas de convívio vivenciadas, e o seu aproveitamento para a educação do futuro, tal qual fizeram muitos dos que nos precederam e que deixaram marcas indeléveis na educação do presente.

## Johann Heinrich Pestalozzi

Johann Heinrich Pestalozzi, pedagogista e educador pioneiro da reforma educacional, chegou a ser tão pobre quanto as crianças órfãs que se propôs a educar em meio à guerra franco-suíça. 

E, não dispondo de grandes recursos, desenvolveu um “método intuitivo”, que levava crianças de diversas idades a observarem, juntas, a própria natureza e o ambiente em que viviam, comparando e deduzindo por elas mesmas ou com o auxílio do professor. 

Apesar das inúmeras dificuldades, modificou profundamente a educação do seu tempo ao aliar conhecimento e sentimento, tornando-se o grande precursor das pedagogias ativas e da educação socioafetiva.

## Friedrich Wilhelm August Frobel

Já o pedagogo alemão Friedrich Wilhelm August Fröbel, igualmente levado pelas tribulações de sua época, abandonou a sua função na Universidade de Berlin para dedicar-se à criação dos três filhos de seu irmão morto por cólera. E, influenciado pelas ideias de Pestalozzi, elaborou uma nova concepção de educação para as crianças menores de 8 anos, fundando o seu Kindergarten ou “jardim da infância”.

Suas ideias, muitas das quais oriundas de experimentações pioneiras com brinquedos e com um ambiente familiar e acolhedor, lançaram as bases para o surgimento da educação infantil tal como a conhecemos hoje.

## Maria Montessori

Maria Montessori, pedagoga italiana, impedida de exercer a medicina por conta dos preconceitos do seu tempo, dedicou-se à educação de crianças com necessidades especiais em situação de isolamento social em hospícios e reformatórios. 

Aliando conhecimento, criatividade e resiliência, Montessori criou um revolucionário método de ensino que respeita a individualidade das crianças e desenvolve a sua autonomia, sendo posteriormente adotado no ensino regular. 

Introduziu uma grande quantidade de inovações e recursos pedagógicos que hoje são tão naturais que não nos damos conta de sua origem, como a criação de mobiliários e objetos sob medida para a educação infantil.

## Paulo Freire

O conhecido educador e filósofo brasileiro Paulo Freire, tendo sofrido na pele as consequências da crise mundial de 1929, testemunhou o êxodo de miseráveis iletrados provenientes do campo e a proliferação de mocambos no Recife. 

Não se acomodando diante dos graves desafios do período, ele desenvolveu e implementou um método revolucionário de alfabetização de adultos em tempo recorde, que culminou na elaboração de uma filosofia da educação radicada na consciência da realidade, nos saberes populares e na transformação social. 

Suas práticas educacionais e reflexões sobre as mesmas repercutem ainda hoje em todo o mundo, influenciando educadores e políticas educacionais de diversos países.

## Influência no pós-pandemia

A pandemia do coronavírus, a seu turno, apresentou aos educadores da atualidade o problema do ensino remoto emergencial no ensino básico, e deixará como legado a oferta do ensino híbrido como necessidade educacional em todas as redes de ensino, especialmente diante da resolução do CNE – Conselho Nacional de Educação, que autoriza a modalidade até o final de 2021. 

Na medida em que vislumbramos as possibilidades de retorno às aulas presenciais, a desigualdade social que caracteriza o sistema educacional brasileiro suscita importantes questionamentos sobre a qualidade, necessidade de investimentos, bem como formação para esse tipo de oferta, especialmente no âmbito da educação pública.

Mas, no campo do trabalho e dos desafios, a consciência dos educadores é sempre a mesma, com o imperativo da mobilização de saberes para transformá-los pelo e para o trabalho com vistas à oferta de uma educação verdadeiramente transformadora, de qualidade e em segurança para todos. 

O [momento atual](https://revistahsm.com.br/post/os-impactos-do-coronavirus-no-comportamento-online) nos convida, assim como no passado, a uma reflexividade, retirando dos acontecimentos do presente as lições necessárias para a melhoria dos processos educativos no futuro.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Liderança
14 de novembro de 2025
Como dividir dúvidas, receios e decisões no topo?

Rubens Pimentel - CEO da Trajeto Desenvolvimento Empresarial

2 minutos min de leitura
Sustentabilidade
13 de novembro de 2025
O protagonismo feminino se consolidou no movimento com a Carta das Mulheres para a COP30

Luiza Helena Trajano e Fabiana Peroni

5 min de leitura
ESG, Liderança
13 de novembro de 2025
Saiba o que há em comum entre o desengajamento de 79% da força de trabalho e um evento como a COP30

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
12 de novembro de 2025
Modernizar o prazo de validade com o conceito de “best before” é mais do que uma mudança técnica - é um avanço cultural que conecta o Brasil às práticas globais de consumo consciente, combate ao desperdício e construção de uma economia verde.

Lucas Infante - CEO da Food To Save

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, ESG
11 de novembro de 2025
Com a COP30, o turismo sustentável se consolida como vetor estratégico para o Brasil, unindo tecnologia, impacto social e preservação ambiental em uma nova era de desenvolvimento consciente.

André Veneziani - Vice-Presidente Comercial Brasil & América Latina da C-MORE Sustainability

3 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
10 de novembro de 2025
A arquitetura de software deixou de ser apenas técnica: hoje, ela é peça-chave para transformar estratégia em inovação real, conectando visão de negócio à entrega de valor com consistência, escalabilidade e impacto.

Diego Souza - Principal Technical Manager no CESAR, Dayvison Chaves - Gerente do Ambiente de Arquitetura e Inovação e Diego Ivo - Gerente Executivo do Hub de Inovação, ambos do BNB

8 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
7 de novembro de 2025
Investir em bem-estar é estratégico - e mensurável. Com dados, indicadores e integração aos OKRs, empresas transformam cuidado com corpo e mente em performance, retenção e vantagem competitiva.

Luciana Carvalho - CHRO da Blip, e Ricardo Guerra - líder do Wellhub no Brasil

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
6 de novembro de 2025
Incluir é mais do que contratar - é construir trajetórias. Sem estratégia, dados e cultura de cuidado, a inclusão de pessoas com deficiência segue sendo apenas discurso.

Carolina Ignarra - CEO da Talento Incluir

5 minutos min de leitura
Liderança
5 de novembro de 2025
Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas - mas sim coragem para sustentar as perguntas certas. Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Angelina Bejgrowicz - Fundadora e CEO da AB – Global Connections

12 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
4 de novembro de 2025
Na era da hiperconexão, encerrar o expediente virou um ato estratégico - porque produtividade sustentável exige pausas, limites e líderes que valorizam o tempo como ativo de saúde mental.

Tatiana Pimenta - Fundadora e CEO da Vittude

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)