O retorno às aulas presenciais está acontecendo gradativamente em todo o país. Analisando a jornada dos educadores do ensino básico atuando remotamente, é importante considerarmos cada desafio enfrentado até o momento como estágio de desenvolvimento em que todos foram adquirindo, no e pelo trabalho, um conjunto de conhecimentos necessários para a transformação da educação escolar no Brasil.
Considerando este momento inédito de nosso [sistema educaciona](https://revistahsm.com.br/post/arco-educacao-de-olho-no-futuro)l – compreendido entre o fechamento das escolas em março deste ano e o seu gradual retorno às atividades presenciais -, é justo reconhecer-lhe o “caráter excepcional”, sem embargo de admitirmos que muitos foram os avanços e, ainda maiores, os aprendizados que necessitam ser incorporados por professores, instituições escolares e sistemas de ensino de forma perene.
É preciso, dessa forma, refletirmos sobre a necessidade de olhar para todo esse conjunto de mudanças e inovações em face das inúmeras adversidades, ou seja, as novas práticas implementadas, os novos recursos experimentados, as diferentes formas de convívio vivenciadas, e o seu aproveitamento para a educação do futuro, tal qual fizeram muitos dos que nos precederam e que deixaram marcas indeléveis na educação do presente.
## Johann Heinrich Pestalozzi
Johann Heinrich Pestalozzi, pedagogista e educador pioneiro da reforma educacional, chegou a ser tão pobre quanto as crianças órfãs que se propôs a educar em meio à guerra franco-suíça.
E, não dispondo de grandes recursos, desenvolveu um “método intuitivo”, que levava crianças de diversas idades a observarem, juntas, a própria natureza e o ambiente em que viviam, comparando e deduzindo por elas mesmas ou com o auxílio do professor.
Apesar das inúmeras dificuldades, modificou profundamente a educação do seu tempo ao aliar conhecimento e sentimento, tornando-se o grande precursor das pedagogias ativas e da educação socioafetiva.
## Friedrich Wilhelm August Frobel
Já o pedagogo alemão Friedrich Wilhelm August Fröbel, igualmente levado pelas tribulações de sua época, abandonou a sua função na Universidade de Berlin para dedicar-se à criação dos três filhos de seu irmão morto por cólera. E, influenciado pelas ideias de Pestalozzi, elaborou uma nova concepção de educação para as crianças menores de 8 anos, fundando o seu Kindergarten ou “jardim da infância”.
Suas ideias, muitas das quais oriundas de experimentações pioneiras com brinquedos e com um ambiente familiar e acolhedor, lançaram as bases para o surgimento da educação infantil tal como a conhecemos hoje.
## Maria Montessori
Maria Montessori, pedagoga italiana, impedida de exercer a medicina por conta dos preconceitos do seu tempo, dedicou-se à educação de crianças com necessidades especiais em situação de isolamento social em hospícios e reformatórios.
Aliando conhecimento, criatividade e resiliência, Montessori criou um revolucionário método de ensino que respeita a individualidade das crianças e desenvolve a sua autonomia, sendo posteriormente adotado no ensino regular.
Introduziu uma grande quantidade de inovações e recursos pedagógicos que hoje são tão naturais que não nos damos conta de sua origem, como a criação de mobiliários e objetos sob medida para a educação infantil.
## Paulo Freire
O conhecido educador e filósofo brasileiro Paulo Freire, tendo sofrido na pele as consequências da crise mundial de 1929, testemunhou o êxodo de miseráveis iletrados provenientes do campo e a proliferação de mocambos no Recife.
Não se acomodando diante dos graves desafios do período, ele desenvolveu e implementou um método revolucionário de alfabetização de adultos em tempo recorde, que culminou na elaboração de uma filosofia da educação radicada na consciência da realidade, nos saberes populares e na transformação social.
Suas práticas educacionais e reflexões sobre as mesmas repercutem ainda hoje em todo o mundo, influenciando educadores e políticas educacionais de diversos países.
## Influência no pós-pandemia
A pandemia do coronavírus, a seu turno, apresentou aos educadores da atualidade o problema do ensino remoto emergencial no ensino básico, e deixará como legado a oferta do ensino híbrido como necessidade educacional em todas as redes de ensino, especialmente diante da resolução do CNE – Conselho Nacional de Educação, que autoriza a modalidade até o final de 2021.
Na medida em que vislumbramos as possibilidades de retorno às aulas presenciais, a desigualdade social que caracteriza o sistema educacional brasileiro suscita importantes questionamentos sobre a qualidade, necessidade de investimentos, bem como formação para esse tipo de oferta, especialmente no âmbito da educação pública.
Mas, no campo do trabalho e dos desafios, a consciência dos educadores é sempre a mesma, com o imperativo da mobilização de saberes para transformá-los pelo e para o trabalho com vistas à oferta de uma educação verdadeiramente transformadora, de qualidade e em segurança para todos.
O [momento atual](https://revistahsm.com.br/post/os-impactos-do-coronavirus-no-comportamento-online) nos convida, assim como no passado, a uma reflexividade, retirando dos acontecimentos do presente as lições necessárias para a melhoria dos processos educativos no futuro.