Quando estava fazendo pós-graduação em Harvard, gostava de conhecer as diferentes bibliotecas do campus para mudar de ares.
Cada uma delas, como a biblioteca da faculdade de direito e a biblioteca da faculdade de design, não só tinha uma aparência diferente como também uma atmosfera distinta.
Comecei a notar que, sempre que eu estudava na biblioteca da faculdade de direito, por exemplo, saía frustrado, irritado e esgotado, sem nenhuma razão aparente.
O que poderia estar drenando a minha energia e o meu foco na biblioteca de direito e não em qualquer outra biblioteca de Harvard?
Encontrei a resposta em uma conversa com outra estudante de pós-graduação.
Ela já estava havia um tempo na universidade e conhecia todos os locais para estudar que havia no campus.
A estudante me disse que a Biblioteca Widener [da faculdade de artes e ciências], onde a maioria dos alunos estudava, era “uma mistura agradável de otimismo da juventude e empenho nos estudos, com uma leve redução da inadequação” ou, em outras palavras, um bom lugar para encontrar a motivação a fim de recuperar o terreno perdido em projetos nos quais você estivesse ficando para trás.
Já a biblioteca da faculdade de teologia, ela descreveu como “um lugar austero, mas com profundos e ocultos toques de inspiração”, ou seja, um bom lugar para escrever trabalhos sobre temas amplos.
As bibliotecas “aveludadas e entulhadas” dos dormitórios da graduação eram boas, segundo ela, para mandar e-mails e namorar.
E a biblioteca da faculdade de direito? Tinha “um belo layout, mas com um tom ácido penetrante que deixa um gosto amargo na boca”. Concordei.
A biblioteca da faculdade de direito era realmente uma das mais bonitas, mas, depois de algumas visitas, passei a evitá-la como o diabo evita a cruz.
A explicação para isso me permite introduzir o tema do meu novo livro, o que eu chamo de “grande potencial”.
Cada pessoa tem um pequeno potencial e um grande potencial. O pequeno é o poder de um indivíduo isolado, enquanto o grande é o poder desse indivíduo reforçado por outros indivíduos.
Assim como a felicidade, o potencial é um conceito coletivo. Isso entendido, fica fácil compreender como é importante cercar-se de influências positivas, especialmente em ambientes hipercompetitivos – seja na universidade, seja nas empresas.
Só que as influências negativas nunca foram tão numerosas.
E o que acontecia na biblioteca da faculdade de direito de Harvard, que deixava um amargor na boca?
Todo mundo sabe que, por ser uma das faculdades mais hipercompetitivas de uma universidade já hipercompetitiva, a faculdade de direito de Harvard é uma verdadeira placa de Petri de negatividade, ansiedade, frustração e estresse das pessoas.
Em suas pesquisas, minha colega Liz Peterson descobriu que, apesar de os calouros entrarem na faculdade de direito com níveis médios de pessimismo e depressão, depois de quatro meses esses níveis triplicam em relação à média nacional.
Além disso, ao contrário dos alunos da escola de negócios, que se encontram toda semana para eventos sociais, os alunos de direito só participam de dois eventos por ano organizados pela instituição, levando a mais concorrência e menos conexão.
> Veja também:
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> [Webinar Soft Skills com Adriana Cubas](https://materiais.revistahsm.com.br/webinar-soft-skills-gravacao)
Por isso você se sente tão vulnerável naquela biblioteca; devido à interconexão com o estresse alheio. Nosso cérebro é programado para o contágio emocional e social.
Se a presença de uma única pessoa positiva em uma comunidade pode “contagiar” as demais, pesquisas demonstram que também podemos ser contagiados por negatividade, estresse e apatia – como se fôssemos fumantes passivos disso tudo.
O estresse passa por visão, audição e até pelo cheiro. Cercarmo-nos de pessoas negativas e estressadas nos modifica rapidamente; passamos de motivados e positivos a ansiosos e negativos.
**5 PERGUNTAS A SHAWN ACHOR**
_Por Adriana Salles Gomes_
Em seu livro anterior, *O jeito Harvard de ser feliz* (ed. Saraiva), o especialista em felicidade de Harvard Shawn Achor tinha escrito sobre como podemos ser mais felizes adotando hábitos como exercitar a gratidão, ser otimista quanto à própria força e meditar. “Experimente mandar um e-mail de agradecimento por dia, para alguém, durante 21 dias”, já sugeriu ele como exercício. O pesquisador também entendeu que, se focarmos apenas a felicidade individual, não conseguiremos sustentá-la. Para Shawn, o único jeito de sustentar nossa felicidade é ajudar os outros a serem felizes também. A felicidade não apenas é uma escolha, ela é interconectada.
O que Achor descobriu agora é que também o potencial – o poder de realizar coisas — é mais interconectado do que individual. Pesquisas parecem confirmar que todos os atributos de nosso potencial – como inteligência, criatividade, engajamento, liderança e personalidade – são interconectados com os de outras pessoas. Em seu novo livro, Grande potencial, Achor advoga que, para atingir nosso pleno desenvolvimento físico, emocional e espiritual, precisamos buscar esse grande potencial interconectado. Não basta ser inteligente; é preciso ajudar outras pessoas a serem inteligentes. Não basta ser criativo; deve-se inspirar a criatividade alheia. Não basta se engajar em fazer algo; há que contagiar a equipe. E, com o big data e o analytics, ficou mais fácil avaliar como cada um de nós afeta a inteligência, a criatividade ou o engajamento dos outros.
“A sociedade ocidental tem se concentrado demais no pequeno potencial”, argumenta o autor no novo livro. “Hollywood o enaltece a tal ponto que chega a gravar os nomes de suas celebridades em calçadas. Os avanços tecnológicos e o advento das mídias sociais possibilitam anunciar nossas realizações individuais 24 horas por dia, 7 dias por semana.” Porém, quando adotamos essa postura nas empresas e nas escolas, é mais difícil que o potencial de cada um se concretize. “Quando o foco é a realização individual, eliminando os ‘outros’ da equação, nosso verdadeiro poder permanece oculto”, argumenta. E mais: para ele, a busca de métricas de sucesso individual nas organizações está levando as pessoas a trabalhar mais, dormir menos e se estressar como nunca. “Um jeito melhor de fazer as coisas começa a surgir”, garante. Em entrevista exclusiva a __HSM Management__, Achor, cuja mulher tem família brasileira, explica um pouco mais de seu trabalho.
**A diferença entre o pequeno e o grande potencial é, realmente, tão grande?**
O pequeno potencial ocorre quando tratamos a felicidade como “autoajuda”. O grande potencial, que você cria quando se conecta com o ecossistema de potenciais ao seu redor, é exponencialmente maior. A maioria de nossos traços é interconectada. Você fica mais criativo quando está perto de certas pessoas, mais engraçado quando está perto de certos amigos, mais extrovertido perto dos introvertidos. Ignorar o papel dos outros no seu potencial joga contra você.
**Você sabe muito mais de felicidade do que a maioria de nós, mas teve um momento de depressão. O que houve?**
Sim, fiquei deprimido enquanto estava em Harvard ensinando aos calouros como não ficarem deprimidos [risos]. O pior é que eu pensava que poderia sair dessa sozinho, não queria sobrecarregar os outros. Eu estava tendo uma reação de pequeno potencial à minha depressão. A virada ocorreu quando procurei meus oito amigos e familiares mais próximos e pedi ajuda. A onda de apoio foi incrível, porém o mais valioso foi o fato de termos feito um intercâmbio de ajudas. O que me tirou da cama pela manhã foi “eu preciso ver minha amiga no café da manhã porque sei que ela está se sentindo sozinha” ou “eu preciso sair do meu quarto porque preciso me encontrar com meu amigo para ajudá-lo a não beber hoje”. Em vez de tentar brilhar sozinhos, ajudamos uns aos outros a subir a montanha.
**Em que medida a responsabilidade por fracassos e sucessos é coletiva? Posso culpar os outros por erros que acontecem?**
É muito fácil culpar os outros quando coisas ruins acontecem. Isso, porém, nos destitui de nosso poder dentro do coletivo. Quando você sente que o controle sobre os eventos existe somente fora de você, você tem um “lócus” de controle externo. Já as pessoas que têm um lócus de controle interno acreditam que seu comportamento acabará importando quando estiverem ligadas umas às outras. Pesquisas mostram que ter um lócus de controle interno está altamente correlacionado com altas taxas de sucesso e renda.
**Entendi: é o individual e o coletivo, não um ou outro…**
Isso. Até porque, como diz a pesquisadora Carol Dweck, quando sentimos que o resultado está determinado para nós e não podemos mudá-lo, não nos esforçamos muito para mudar o mundo externo.
**O brasileiro é muito sociável, conforme os estudos do Geert Hoftstede. Isso pode aumentar suas chances de atingir a felicidade sustentável e o grande potencial? Nós também somos bem hierárquicos, por outro lado…**
Sou casado com uma mulher que é metade brasileira e concordo totalmente quanto a essa sociabilidade. Acho que o foco na conexão social torna os brasileiros mais felizes e mais resilientes do que pessoas de muitas culturas. Enquanto alguns países ocidentais valorizam a simples independência que produz um pequeno potencial, no Brasil se está mais perto do grande potencial, que é alcançado quando há amplitude, profundidade e significado em nossas relações sociais.
No entanto, às vezes, um alto foco nas hierarquias pode nos impedir de expandir nosso ecossistema de potencial, e podemos deixar de aprender uns com os outros. Tornar os outros melhores independentemente da hierarquia ou classe é crucial para enxergar todo o nosso potencial.
Por isso, proponho um minicurso de “Defesa Contra as Artes das Trevas”, como o feito pelo personagem Harry Potter, de J. K. Rowling, do qual sou fã. Não vou ensinar nenhum feitiço aqui, mas apresentarei cinco estratégias para de defesa, desarme e derrota das forças que ameaçam drenar seu potencial [por causa da interconexão ambiental]:
**• ESTRATÉGIA 1:** Construir um fosso.
**• ESTRATÉGIA 2:** Uma fortaleza mental.
**• ESTRATÉGIA 3:** O aikidô mental.
**• ESTRATÉGIA 4:** Tirar férias.
**• ESTRATÉGIA 5:** Escolher as batalhas.
**ESTRATÉGIA 1: CONSTRUIR UM FOSSO**
O Mont Saint-Michel, na França, é um dos lugares mais lindos do mundo. Durante a Guerra dos Cem Anos, um pequeno grupo de soldados franceses alocados na ilha conseguiu impedir um ataque do exército inglês, muito mais forte. Não porque os franceses conheciam técnicas de combate mais eficazes, tinham um planejamento melhor ou mais sorte, mas porque o monte é uma “ilha de maré”. Tirando o período da maré baixa, a cidadela (com seu icônico mosteiro no alto) é cercada por um fosso natural que a separa do continente, e que pode chegar a 14 metros de profundidade. Os soldados franceses não precisavam passar o dia todo se defendendo. Durante a maré baixa, tinham a chance de se organizar e poupar energia para impedir os ataques.
Um “fosso de maré” é a metáfora perfeita para o tipo de fosso que eu uso no meu dia a dia. Pesquisadores de psicologia positiva já sabem há algum tempo que ouvir ou ler notícias negativas pode ter um efeito imediato sobre o nosso nível de estresse, mas novos estudos que Michelle Gielan e eu conduzimos em parceria com Arianna Huffington mostram a extensão em que esses efeitos podem prejudicar a motivação e o potencial. Descobrimos que pessoas expostas a apenas três minutos de notícias negativas de manhã têm 27% mais chances de reportar que tiveram um dia infeliz seis a oito horas depois. É que sentimos que nosso comportamento não faz diferença alguma para aquilo e, na psicologia, essa crença de que nosso comportamento é irrelevante para superar as dificuldades tem sido associada a um baixo desempenho e a maiores chances de depressão.
Além disso, a mídia social é como um canal de notícias sempre ligado, e o conteúdo nem precisa ser negativo para nos deprimir ou chatear. Se vemos fotos dos nossos amigos em uma viagem fabulosa enquanto estamos no escritório trabalhando feito camelos em um cubículo, podemos ser vulneráveis a emoções tóxicas, como inveja, amargura e ressentimento.
É importante defender nosso Mont Saint-Michel. Uma estratégia muito simples é construir um fosso em nossa rotina diária. Desligar-se do mundo antes do café da manhã e depois de ir para a cama é uma boa ideia – não ler notícias, abrir e-mail, olhar as mídias sociais, assistir à TV ou ouvir o rádio. Aproveitar para meditar ou, ao menos, passar períodos em silêncio sempre que possível também é bom (por exemplo, 5 minutos dirigindo no carro ou nos intervalos comerciais diante da TV). Evitar reuniões inúteis funciona muito bem – elas são um verdadeiro buraco negro de energia e produtividade. Para saber quais reunião são inúteis, faça como os líderes do Dropbox e cancele todas as reuniões durante duas semanas. Depois, reagende só as que, em uma avaliação de benefício, mostrarem ter feito falta. Mas vá reduzindo o tempo de duração. Crie, por fi m, um fi ltro automático para o seu computador, para não receber todo tipo de informação.
**ESTRATÉGIA 2: UMA FORTALEZA MENTAL**
Militarmente, uma fortaleza é um lugar para o qual o lado que estiver perdendo uma luta pode recuar, um local abastecido de suprimentos e reforçado em caso de ataque. Criar uma fortaleza mental é uma prática que provê um estoque de reservas mentais para as quais você sempre vai poder recorrer em circunstâncias difíceis. A prática diária da gratidão é um exemplo de uma fortaleza mental. Veja exemplos de outras práticas que você pode usar para se defender do estresse, das adversidades ou da tristeza: (1) criar um ritual de preparação para o otimismo, tentando todos os dias pensar em três coisas boas que aconteceram nas últimas 24 horas, ou reservando dez minutos por semana, sempre no mesmo dia, para focar os aspectos positivos da vida; (2) criar uma “entrada positiva” nas conversas, para neutralizar tons negativos – troque o início de seus telefonemas com “Estou atolado de trabalho” por “Que bom falar com você!”; (3) investir no mindfulness, nem que sejam dois minutos por dia dedicados a se focar em observar a respiração.
**ESTRATÉGIA 3: O AIKIDÔ MENTAL**
Alia Crum, do Mind & Body Lab de Stanford, e seu pai, Thomas Crum, elaboraram uma técnica incrível. Os dois são versados na arte marcial do aikidô, uma luta na qual, em vez de tentar bloquear um ataque, você usa a energia do adversário para redirecionar a força dele. Eles aplicaram os princípios dessa arte marcial para lidar com o estresse. A ideia é parar de tentar bloqueá-lo ou rejeitá-lo e, em vez disso, redirecioná-lo de um jeito mais positivo. Você também pode aplicar o aikidô mental em sua vida. Para redirecionar a força do estresse e assim torná-la positiva, a primeira coisa que pode fazer é se dar conta de que, na raiz de cada fonte de estresse, está o propósito.
Se perceber que está começando a se estressar com alguma coisa, pergunte-se: “Por que isso importa?”. Pela felicidade de seus filhos? Pelo compromisso com a equipe? Você pode anotar a resposta e colar um post-it em seu computador ou sua geladeira para se lembrar.
O objetivo do aikidô mental é fazer o cérebro redirecionar essa energia que seria desperdiçada no estresse para coisas que têm propósito. Além disso, ver as dificuldades como uma oportunidade de melhorar também contribui para o aikidô mental. Uma terceira forma de aikidô mental envolve mudar o modo como conceituamos o fracasso. Como no caso do estresse, muita gente crê que fracasso é algo a ser evitado. Na verdade, ele também pode ser fonte de energia e motivação se visto como aprendizado.
Faz parte da natureza humana sermos um pouco egocêntricos, acreditando que somos a causa do problema, o alvo da piada ou a razão pela qual uma plateia repleta de fãs de beisebol parece distraída na noite da final do campeonato. Em geral, não somos.
**ESTRATÉGIA 4: TIRAR FÉRIAS**
A maior vantagem competitiva da economia moderna é um cérebro positivo e engajado. Pesquisas comprovam que, quando o cérebro está em “modo positivo”, a produtividade aumenta 31%; as vendas, 37%; a criatividade triplica e as receitas também podem triplicar. Isso se consegue tirando férias – não adiando ou pulando as férias.
Quaisquer férias? Não. Em um estudo com 400 viajantes do mundo todo, descobrimos que as férias resultam em mais felicidade e energia, em 94% dos casos, se a pessoa sair da cidade onde mora (quanto mais longe, melhor) e se planejá-las bem. Isso significa planejar com um mês de antecedência e preparar os colegas de trabalho para sua ausência, encontrar alguém que conhece bem o lugar para lhe apresentar os principais pontos e resolver os detalhes da viagem antes da partida (para não se estressar lá).
**ESTRATÉGIA 5: ESCOLHER AS BATALHAS**
Hoje ouvimos muito sobre o valor da perseverança, e diversas pesquisas associam esse atributo ao alto desempenho e ao sucesso. Mas, na vida profissional e pessoal, quando tropeçamos repetidamente em determinado caminho, em vez de levantar, sacudir a poeira e voltar a tentar (vez após vez), pode ser melhor parar para saber se é o caminho certo.
O que estou dizendo é que, às vezes, a melhor estratégia é desistir. Em vez de continuar namorando aquela pessoa negativa que se recusa a mudar, desista. Em vez de dedicar toda a sua criatividade, seu tempo e sua energia ao emprego terrível no qual você vive sendo desrespeitado e desvalorizado, desista. Algumas circunstâncias estão além do nosso controle – nem o fosso, a fortaleza, o aikidô mental e as férias resolverão a negatividade. Não fi que esperando para trilhar outro caminho.