Empreendedorismo

Entenda seu grande potencial

Compartilhar:

5 perguntas a Shawn Anchor, por Adriana Salles Gomes
—————————————————-

Em seu livro anterior, _O jeito Harvard de ser feliz_ (ed. Saraiva), o especialista em felicidade de Harvard Shawn Anchor tinha escrito sobre como podemos ser mais felizes adotando hábitos como exercitar a gratidão, ser otimista quanto à própria força e meditar. 

“Experimente mandar um e-mail de agradecimento por dia, para alguém, durante 21 dias”, já sugeriu ele como exercício. O pesquisador também entendeu que, se focarmos apenas a felicidade individual, não conseguiremos sustentá-la. Para Shawn, o único jeito de sustentar nossa felicidade é ajudar os outros a serem felizes também. 

A felicidade não apenas é uma escolha, ela é interconectada. O que Anchor descobriu agora é que também o potencial – o poder de realizar coisas — é mais interconectado do que individual. Pesquisas parecem confirmar que todos os atributos de nosso potencial – como **inteligência, criatividade, engajamento, liderança e personalidade** – são interconectados com os de outras pessoas. Em seu novo livro, _Grande potencial_, Anchor advoga que, para atingir nosso pleno desenvolvimento físico, emocional e espiritual, precisamos buscar esse grande potencial interconectado. 

Não basta ser inteligente; é preciso ajudar outras pessoas a serem inteligentes. Não basta ser criativo; deve-se inspirar a criatividade alheia. Não basta se engajar em fazer algo; há que contagiar a equipe. E, com o big data e o analytics, ficou mais fácil avaliar como cada um de nós afeta a inteligência, a criatividade ou o engajamento dos outros.

 “A sociedade ocidental tem se concentrado demais no pequeno potencial”, argumenta o autor no novo livro. “Hollywood o enaltece a tal ponto que chega a gravar os nomes de suas celebridades em calçadas. Os avanços tecnológicos e o advento das mídias sociais possibilitam anunciar nossas realizações individuais 24 horas por dia, 7 dias por semana.” Porém, quando adotamos essa postura nas empresas e nas escolas, é mais difícil que o potencial de cada um se concretize.

 “Quando o foco é a realização individual, eliminando os ‘outros’ da equação, nosso verdadeiro poder permanece oculto”, argumenta. E mais: para ele, a busca de métricas de sucesso individual nas organizações está levando as pessoas a trabalhar mais, dormir menos e se estressar como nunca. “Um jeito melhor de fazer as coisas começa a surgir”, garante. 

Em entrevista exclusiva a **HSM Management**, Anchor, cuja mulher tem família brasileira, explica um pouco mais de seu trabalho.

###  A diferença entre o pequeno e o grande potencial é, realmente, tão grande?  

O pequeno potencial ocorre quando tratamos a felicidade como “autoajuda”. O grande potencial, que você cria quando se conecta com o ecossistema de potenciais ao seu redor, é exponencialmente maior. A maioria de nossos traços é interconectada. Você fica mais criativo quando está perto de certas pessoas, mais engraçado quando está perto de certos amigos, mais extrovertido perto dos introvertidos. Ignorar o papel dos outros no seu potencial joga contra você. 

### Você sabe muito mais de felicidade do que a maioria de nós, mas teve um momento de depressão. O que houve?

 Sim, fiquei deprimido enquanto estava em Harvard ensinando aos calouros como não ficarem deprimidos _[risos]_. O pior é que eu pensava que poderia sair dessa sozinho, não queria sobrecarregar os outros. Eu estava tendo uma reação de pequeno potencial à minha depressão. A virada ocorreu quando procurei meus oito amigos e familiares mais próximos e pedi ajuda. A onda de apoio foi incrível, porém o mais valioso foi o fato de termos feito um intercâmbio de ajudas. O que me tirou da cama pela manhã foi “eu preciso ver minha amiga no café da manhã porque sei que ela está se sentindo sozinha” ou “eu preciso sair do meu quarto porque preciso me encontrar com meu amigo para ajudá-lo a não beber hoje”. Em vez de tentar brilhar sozinhos, ajudamos uns aos outros a subir a montanha. 

### Em que medida a responsabilidade por fracassos e sucessos é coletiva? Posso culpar os outros por erros que acontecem?

É muito fácil culpar os outros quando coisas ruins acontecem. Isso, porém, nos destitui de nosso poder dentro do coletivo. Quando você sente que o controle sobre os eventos existe somente fora de você, você tem um “lócus” de controle externo. Já as pessoas que têm um lócus de controle interno acreditam que seu comportamento acabará importando quando estiverem ligadas umas às outras. Pesquisas mostram que ter um lócus de controle interno está altamente correlacionado com altas taxas de sucesso e renda. **Entendi: é o individual e o coletivo, não um ou outro…** Isso. Até porque, como diz a pesquisadora Carol Dweck, quando sentimos que o resultado está determinado para nós e não podemos mudá-lo, não nos esforçamos muito para mudar o mundo externo.

### O brasileiro é muito sociável, conforme os estudos do Geert Hoftstede. Isso pode aumentar suas chances de atingir a felicidade sustentável e o grande potencial? Nós também somos bem hierárquicos, por outro lado… 

Sou casado com uma mulher que é metade brasileira e concordo totalmente quanto a essa sociabilidade. Acho que o foco na conexão social torna os brasileiros mais felizes e mais resilientes do que pessoas de muitas culturas. Enquanto alguns países ocidentais valorizam a simples independência que produz um pequeno potencial, no Brasil se está mais perto do grande potencial, que é alcançado quando há amplitude, profundidade e significado em nossas relações sociais. No entanto, às vezes, um alto foco nas hierarquias pode nos impedir de expandir nosso ecossistema de potencial, e podemos deixar de aprender uns com os outros. Tornar os outros melhores independentemente da hierarquia ou classe é crucial para enxergar todo o nosso potencial.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

ESG
No mundo corporativo, onde a transparência é imperativa, a Washingmania expõe a desconexão entre discurso e prática. Ser autêntico não é mais uma opção, mas uma necessidade estratégica para líderes que desejam prosperar e construir confiança real.

Marcelo Murilo

8 min de leitura
Empreendedorismo
Em um mundo onde as empresas têm mais ferramentas do que nunca para inovar, por que parecem tão frágeis diante da mudança? A resposta pode estar na desconexão entre estratégia, gestão, cultura e inovação — um erro que custa bilhões e mina a capacidade crítica das organizações

Átila Persici

0 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A ascensão da DeepSeek desafia a supremacia dos modelos ocidentais de inteligência artificial, mas seu avanço não representa um triunfo da democratização tecnológica. Embora promova acessibilidade, a IA chinesa segue alinhada aos interesses estratégicos do governo de Pequim, ampliando o debate sobre viés e controle da informação. No cenário global, a disputa entre gigantes como OpenAI, Google e agora a DeepSeek não se trata de ética ou inclusão, mas sim de hegemonia tecnológica. Sem uma governança global eficaz, a IA continuará sendo um instrumento de poder nas mãos de poucos.

Carine Roos

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A revolução da Inteligência Artificial está remodelando o mercado de trabalho, impulsionando a necessidade de upskilling e reskilling como estratégias essenciais para a competitividade profissional. Empresas como a SAP já investem pesadamente na requalificação de talentos, enquanto pesquisas indicam que a maioria dos trabalhadores enxerga a IA como uma aliada, não uma ameaça.

Daniel Campos Neto

6 min de leitura
Marketing
Empresas que compreendem essa transformação colhem benefícios significativos, pois os consumidores valorizam tanto a experiência quanto os produtos e serviços oferecidos. A Inteligência Artificial (IA) e a automação desempenham um papel fundamental nesse processo, permitindo a resolução ágil de demandas repetitivas por meio de chatbots e assistentes virtuais, enquanto profissionais se concentram em interações mais complexas e empáticas.

Gustavo Nascimento

4 min de leitura
Empreendedorismo
Pela primeira vez, o LinkedIn ultrapassa o Google e já é o segundo principal canal das empresas brasileiras. E o seu negócio, está pronto para essa nova era da comunicação?

Bruna Lopes de Barros

5 min de leitura
ESG
O etarismo continua sendo um desafio silencioso no ambiente corporativo, afetando tanto profissionais experientes quanto jovens talentos. Mais do que uma questão de idade, essa barreira limita a inovação e prejudica a cultura organizacional. Pesquisas indicam que equipes intergeracionais são mais criativas e produtivas, tornando essencial que empresas invistam na diversidade etária como um ativo estratégico.

Cleide Cavalcante

4 min de leitura
Empreendedorismo
A automação e a inteligência artificial aumentam a eficiência e reduzem a sobrecarga, permitindo que advogados se concentrem em estratégias e no atendimento personalizado. No entanto, competências humanas como julgamento crítico, empatia e ética seguem insubstituíveis.

Cesar Orlando

5 min de leitura
ESG
Em um mundo onde múltiplas gerações coexistem no mercado, a chave para a inovação está na troca entre experiência e renovação. O desafio não é apenas entender as diferenças, mas transformá-las em oportunidades. Ao acolher novas perspectivas e desaprender o que for necessário, criamos ambientes mais criativos, resilientes e preparados para o futuro. Afinal, o sucesso não pertence a uma única geração, mas à soma de todas elas.

Alain S. Levi

6 min de leitura
Carreira
O medo pode paralisar e limitar, mas também pode ser um convite para a ação. No mundo do trabalho, ele se manifesta na insegurança profissional, no receio do fracasso e na resistência à mudança. A liderança tem papel fundamental nesse cenário, influenciando diretamente a motivação e o bem-estar dos profissionais. Encarar os desafios com autoconhecimento, preparação e movimento é a chave para transformar o medo em crescimento. Afinal, viver de verdade é aceitar riscos, aprender com os erros e seguir em frente, com confiança e propósito.

Viviane Ribeiro Gago

4 min de leitura