Assunto pessoal

Envelhecimento como meta

Podemos escolher os velhos que queremos ser; Ana Brêtas nos convida a fazer isso

Compartilhar:

A enfermeira, socióloga e escritora Ana Brêtas perdeu a mãe muito jovem. Com apenas 7 anos, a mãe – de 39 – faleceu de câncer de ovário. Brêtas estudou enfermagem e, depois, tornou-se professora da Universidade de Federal de São Paulo (Unifesp) na área de saúde pública.

Na academia, interessou-se por estudar o processo de envelhecimento, enquanto a maioria dos colegas preferia a pediatria. Como enfermeira e professora, passou a atender a população em situação de rua no bairro da Mooca, quando as questões do envelhecimento ficaram realmente evidentes. “Foi quando percebi na prática a diferença no processo de envelhecimento de homens e mulheres, e de pessoas com boas condições financeiras ou não.” Decidiu fazer seu doutorado sobre isso, entrevistando homens e mulheres que atuavam no movimento sindical e perguntando: em que momento você percebeu que estava envelhecendo?

A descoberta: tudo tinha a ver com o trabalho, pois as respostas mais frequentes eram: quando me aposentei ou quando fui demitido(a). Aí ela percebeu a diferença entre o que ela define como mundo do trabalho em oposição ao mercado de trabalho. “As mulheres atuavam no mercado de trabalho, mas nunca saíram do mundo do trabalho – que abrange também os serviços domésticos. Na pesquisa, observei que os homens envelheciam pior porque quase que só tinham trabalho na vida, nele encontravam não só o sustento, mas também os afetos. Quando o homem se aposenta ou perde o emprego, fica completamente sem lugar. E isso prejudica seu envelhecimento.”

O falecimento prematuro da mãe fez com que ela sempre pensasse que não queria morrer tão cedo. E a experiência acadêmica-profissional se transformou em escrita e, mais que isso, em meta. “Conhecer as diferentes formas de envelhecer e entender como a questão social pode interferir nisso me fez perceber que posso escolher a velha que quero ser. Claro que não temos controle sobre as questões genéticas e biológicas, mas, se estamos em uma classe privilegiada, podemos ter o envelhecimento como meta. Se alguém não envelhece, é porque morreu cedo.”

Compartilhar:

Artigos relacionados

Organização

A difícil arte de premiar sem capitular

Desde Alfred Nobel, o ato de reconhecer os feitos dos seres humanos não é uma tarefa trivial, mas quando bem-feita costuma resultar em ganho reputacional para que premia e para quem é premiado

Empreendedorismo
Alinhando estratégia, cultura organizacional e gestão da demanda, a indústria farmacêutica pode superar desafios macroeconômicos e garantir crescimento sustentável.

Ricardo Borgatti

5 min de leitura
Empreendedorismo
A Geração Z não está apenas entrando no mercado de trabalho — está reescrevendo suas regras. Entre o choque de valores com lideranças tradicionais, a crise da saúde mental e a busca por propósito, as empresas enfrentam um desafio inédito: adaptar-se ou tornar-se irrelevantes.

Átila Persici

8 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A matemática, a gramática e a lógica sempre foram fundamentais para o desenvolvimento humano. Agora, diante da ascensão da IA, elas se tornam ainda mais cruciais—não apenas para criar a tecnologia, mas para compreendê-la, usá-la e garantir que ela impulsione a sociedade de forma equitativa.

Rodrigo Magnago

4 min de leitura
ESG
Compreenda como a parceria entre Livelo e Specialisterne está transformando o ambiente corporativo pela inovação e inclusão

Marcelo Vitoriano

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O anúncio do Majorana 1, chip da Microsoft que promete resolver um dos maiores desafios do setor – a estabilidade dos qubits –, pode marcar o início de uma nova era. Se bem-sucedido, esse avanço pode destravar aplicações transformadoras em segurança digital, descoberta de medicamentos e otimização industrial. Mas será que estamos realmente próximos da disrupção ou a computação quântica seguirá sendo uma promessa distante?

Leandro Mattos

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Entenda como a ReRe, ao investigar dados sobre resíduos sólidos e circularidade, enfrenta obstáculos diários no uso sustentável de IA, por isso está apostando em abordagens contraintuitivas e na validação rigorosa de hipóteses. A Inteligência Artificial promete transformar setores inteiros, mas sua aplicação em países em desenvolvimento enfrenta desafios estruturais profundos.

Rodrigo Magnago

4 min de leitura
Liderança
As tendências de liderança para 2025 exigem adaptação, inovação e um olhar humano. Em um cenário de transformação acelerada, líderes precisam equilibrar tecnologia e pessoas, promovendo colaboração, inclusão e resiliência para construir o futuro.

Maria Augusta Orofino

4 min de leitura
Finanças
Programas como Finep, Embrapii e a Plataforma Inovação para a Indústria demonstram como a captação de recursos não apenas viabiliza projetos, mas também estimula a colaboração interinstitucional, reduz riscos e fortalece o ecossistema de inovação. Esse modelo de cocriação, aliado ao suporte financeiro, acelera a transformação de ideias em soluções aplicáveis, promovendo um mercado mais dinâmico e competitivo.

Eline Casasola

4 min de leitura
Empreendedorismo
No mundo corporativo, insistir em abordagens tradicionais pode ser como buscar manualmente uma agulha no palheiro — ineficiente e lento. Mas e se, em vez de procurar, queimássemos o palheiro? Empresas como Slack e IBM mostraram que inovação exige romper com estruturas ultrapassadas e abraçar mudanças radicais.

Lilian Cruz

5 min de leitura
ESG
Conheça as 8 habilidades necessárias para que o profissional sênior esteja em consonância com o conceito de trabalhabilidade

Cris Sabbag

6 min de leitura