Cultura organizacional

ESG: como transformar uma tendência em cultura organizacional

Da liderança ao operacional, todas as áreas da empresa devem assimilar o conceito. Mas nem sempre é fácil. Veja por onde e como começar
Thais Pegoraro é TED Speaker, formada em direito com MBA em gestão empresarial e pós-graduação em novas tecnologias. Sócia e líder da área de leadership advisory da EXEC, empresa dedicada a projetos de seleção de executivos, avaliação da efetividade de conselhos consultivos e de administração, estruturação e entrega de soluções de desenvolvimento humano e organizacional, com ênfase em transformação cultural e digital.

Compartilhar:

De acordo com um levantamento da Bloomberg, os investimentos ligados à pauta ESG em 2020 totalizaram US$ 35 trilhões. A expectativa é de que em 2025 esse montante chegue a US$ 53 trilhões, o que representaria um terço dos ativos de investimentos.

Ainda assim, muitas companhias têm dificuldade em tornar a pauta ESG uma iniciativa que a envolva por completo. Parte disso vem da falta de conhecimento técnico e prático sobre o tema, afinal o tema é relativamente novo para muitos de nós.

Para o ESG fazer parte da cultura de uma empresa, é importante que elas tenham seus departamentos de ESG, focados em soluções e ações. Esse é o primeiro passo, a pauta deve abranger desde a liderança aos times que atuam na operação.

Mas como isso é possível, principalmente em grandes empresas, com muitos colaboradores? Pode parecer clichê, mas o caminho mais assertivo é pela educação.

O líder ESG não nasce alinhado às premissas desse conceito. Adotar novos comportamentos e pensamentos não é algo natural, é preciso aprender. Até hoje, a grande maioria dos líderes foi treinada para atingir alto desempenho e entregar lucro. Treinada, não educada.

Além da educação, outro pilar importante é a comunicação. É possível fazer essa chamada de consciência de várias maneiras, por meio de um team building ou com um workshop de liderança, por exemplo. É o que a gente chama do início da jornada do herói, desse líder ESG mais humanizado e consciente.

No entanto, para a comunicação funcionar de fato, é preciso ter recorrência nessa conversa. É fundamental adotar um plano, com objetivos que devem ser claros, com linguagem adequada a cada público, liderança e operacional. Nós não nos comunicamos com o conselho administrativo da mesma forma que transmitimos mensagens para a área de operação.

Mas, para fazer a comunicação funcionar, é preciso dar alguns passos para trás. Um dos primeiros entraves encontrados é a falta de definição sobre o que é ESG para a empresa. Vale lembrar que a aplicação prática do conceito é diferente para cada contexto.

Por isso é importante, em primeiro lugar, estabelecer o que é valor ESG para a companhia. Para ajudar nesse processo, sugiro que sejam feitos alguns questionamentos:

– Por que queremos nos tornar ESG?
– É por conta do core business?
– É para ser uma ferramenta de reparação de danos?
– Queremos um diferencial competitivo?
– Queremos conseguir financiamentos e licenças?
– Depois disso, a pergunta que deve ser feita é: quais são os objetivos com isso no longo prazo?

Em seguida, é preciso definir o ponto de partida e de chegada. Faço uma analogia com um aplicativo de GPS: é preciso saber onde você está e para onde vai. Só assim é possível calcular tempo, esforço, as melhores rotas e caminhos alternativos. Na EXEC, possuímos um assessment de cultura detalhado e com metrificações palpáveis, que tem como objetivo avaliar a real aderência dos valores da empresa ao ESG.

É possível iniciar esse movimento formando um grupo focal pequeno. Experimente selecionar aleatoriamente líderes de diferentes áreas de sua empresa e pergunte a eles quais são os valores da companhia. Por aí, já será possível ter um termômetro e ver se o ESG está sendo ou não vivenciado pela companhia. A partir disso, o desenho da estratégia pode ser iniciado.

Outro ponto importante é definir o líder e o time que farão esse barco velejar. O melhor caminho é sempre buscar um expert no assunto para liderar o projeto. No entanto, pode-se criar um squad com os perfis necessários e com pessoas genuinamente interessadas no assunto.

Sabendo onde se está, para onde vai e com uma tripulação formada, o momento é de criar um mapa de navegação para a primeira viagem. Para isso, minhas orientações são: estude o ambiente, faça benchmarking interno e externo, coloque o networking para funcionar e participe de eventos.

Essa fase também pede novos cálculos de rota e definições de prazos. Vale lembrar que o aprendizado ao longo desse caminho ESG é constante, mas é fundamental entender o básico para avançar novas casas no jogo.

Com os novos parâmetros definidos, chegou o momento de içar as velas do barco e fazer ele ir mar adentro. Eu penso que ESG é muito mais educação do que dinheiro. Quem tem filhos tem a responsabilidade de criar futuros adultos para o mundo ESG.

Devemos olhar não somente o líder ESG, mas sim o quanto estamos atentos às temáticas sociais, ambientais e de governança. O que é a governança? É simplesmente fazer o certo.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Mercado de RevOps desponta e se destaca com crescimento acima da média 

O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Uso de PDI tem sido negligenciado nas companhias

Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Regulamentação da IA: Como empresas podem conciliar responsabilidades éticas e inovação? 

A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Governança estratégica: a gestão de riscos psicossociais integrada à performance corporativa

A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Liderança
Ascender ao C-level exige mais que habilidades técnicas: é preciso visão estratégica, resiliência, uma rede de relacionamentos sólida e comunicação eficaz para inspirar equipes e enfrentar os desafios de liderança com sucesso.

Claudia Elisa Soares

6 min de leitura
Diversidade, ESG
Enquanto a diversidade se torna uma vantagem competitiva, o reexame das políticas de DEI pelas corporações reflete tanto desafios econômicos quanto uma busca por práticas mais autênticas e eficazes

Darcio Zarpellon

8 min de leitura
Liderança
E se o verdadeiro poder da sua equipe só aparecer quando o líder estiver fora do jogo?

Lilian Cruz

3 min de leitura
ESG
Cada vez mais palavras de ordem, imperativos e até descontrole tomam contam do dia-dia. Nesse costume, poucos silêncios são entendidos como necessários e são até mal vistos. Mas, se todos falam, no fim, quem é que está escutando?

Renata Schiavone

4 min de leitura
Finanças
O primeiro semestre de 2024 trouxe uma retomada no crédito imobiliário, impulsionando o consumo e apontando um aumento no apetite das empresas por crédito. A educação empreendedora surge como um catalisador para o desenvolvimento de startups, com foco em inovação e apoio de mentorias.

João Boos

6 min de leitura
Cultura organizacional, Empreendedorismo
A ilusão da disponibilidade: como a pressão por respostas imediatas e a sensação de conexão contínua prejudicam a produtividade e o bem-estar nas equipes, além de minar a inovação nas organizações modernas.

Dorly

6 min de leitura
ESG
No texto deste mês do colunista Djalma Scartezini, o COO da Egalite escreve sobre os desafios profundos, tanto à saúde mental quanto à produtividade no trabalho, que a dor crônica proporciona. Destacando que empresas e gestores precisam adotar políticas de inclusão que levem em conta as limitações físicas e os altos custos associados ao tratamento, garantindo uma verdadeira equidade no ambiente corporativo.

Djalma Scartezini

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
A adoção de políticas de compliance que integram diretrizes claras de inclusão e equidade racial é fundamental para garantir práticas empresariais que vão além do discurso, criando um ambiente corporativo verdadeiramente inclusivo, transparente e em conformidade com a legislação vigente.

Beatriz da Silveira

4 min de leitura
Inovação, Empreendedorismo
Linhas de financiamento para inovação podem ser uma ferramenta essencial para impulsionar o crescimento das empresas sem comprometer sua saúde financeira, especialmente quando associadas a projetos que trazem eficiência, competitividade e pioneirismo ao setor

Eline Casasola

4 min de leitura