Healing leadership

ESG para inglês ver?

É hora de criar um modelo próprio, para nossos problemas
Dario Neto é diretor geral do Instituto Capitalismo Consciente Brasil e CEO do Grupo Anga. Também é pai do Miguel e marido da Bruna. Marcel Fukayama é diretor geral do Sistema B Internacional e cofundador da consultoria em negócios de impacto Din4mo.

Compartilhar:

Fomos de (algo perto de) zero a 100 na exposição da agenda ESG durante os últimos 18 meses, mas paradoxalmente não temos só razões para celebrar. É também preocupante a evidente sedimentação de conceitos e de uma narrativa que aterrissa ESG nos conselhos de administração e nas discussões entre lideranças de negócio enquanto uma agenda de gestão de risco. Não precisamos ir muito além dos jornais para colher evidências e estímulos reais que confirmam a hipótese de que, sim, estamos também diante de um tema de gestão de risco e compliance – basta olhar para as crises hídrica e energética, riscos que se confirmaram e que poderiam ter sido evitadas com a agenda adequada. Mas…

__…será que a agenda ESG não deve ir além do risco/compliance num País de 20 milhões de CNPJs e tantos desafios socioambientais? O que pode fazer um líder que cura em relação ao tema:__
– __Tropicalizar:__ importamos da Europa uma visão de ESG enquanto agenda de gestão de risco com uma visão reducionista ligada à redução de impacto do carbono e promoção de equidade de gênero. Em um Brasil com uma das desigualdades mais abissais do planeta, o maior desemprego juvenil do G20, histórico escravocrata e racista, insegurança alimentar atingindo mais da metade da população e pouco menos da metade dela sem acesso a coleta e tratamento de esgoto, e, portanto, bem distinto da Europa, dá para imaginar outro alcance para a agenda ESG das organizações.
– __Educar(-se):__ estamos falando de conceitos novos; poucas lideranças sabem de fato como incorporá-los na estratégia do negócio. Talvez você ache que saiba, mas desafie seu próprio conhecimento e invista em educar seus conselhos e lideranças a respeito do tema, em profundidade. A educação verdadeira em ESG é capaz de despertar a visão de que tanto precisamos, de uma abordagem profunda de transformação cultural com novos paradigmas de liderança e nova visão sobre negócios.
– __Começar:__ se há uma dimensão das organizações que não tolera washing é a governança corporativa. Invista em uma que seja ética, transparente, orientada aos stakeholders e que garanta sustentabilidade da organização e toda a cadeia de valor. Conselhos e lideranças executivas devidamente educadas e uma governança bem estruturada, ética e transparente são um bom começo para transformar a cultura.
– __Transformar(-se):__ o que vai dizer se o ESG ganhará espaço em sua organização enquanto agenda de risco ou de transformação cultural (com abordagem reducionista europeia ou ampla abrasileirada) é o nível de consciência de suas lideranças, incluindo o seu. E a construção de novas crenças e paradigmas, e de uma nova cosmovisão sobre negócios passa pela real compreensão dos males que nos assolam, sucedida por uma profunda ressignificação do papel de empresas e líderes empresariais como agentes corresponsáveis pela transformação do País.

Portanto, muito além de simplesmente embarcar numa agenda internacional ou atender “apenas” a uma gestão de risco/compliance, a agenda ESG exige a incorporação de elementos para que ganhe relevância, legitimidade e consistência em uma organização que opera no Brasil. Assim, mitiga-se o risco de este ser mais uma buzzword passageira importada do hemisfério norte. As evidências nos mostram que essa agenda veio para ficar e é um ponto sem retorno.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Há um fio entre Ada Lovelace e o CESAR

Fora do tempo e do espaço, talvez fosse improvável imaginar qualquer linha que me ligasse a Ada Lovelace. Mais improvável ainda seria incluir, nesse mesmo

Empreendedorismo
Embora talvez estejamos longe de ver essa habilidade presente nos currículos formais, é ela que faz líderes conscientes e empreendedores inquietos
3 min de leitura
Marketing Business Driven
Leia esta crônica e se conscientize do espaço cada vez maior que as big techs ocupam em nossas vidas
3 min de leitura
Empreendedorismo
Falta de governança, nepotismo e desvios: como as empresas familiares repetem os erros da vilã de 'Vale Tudo'

Sergio Simões

7 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Já notou que estamos tendo estas sensações, mesmo no aumento da produção?

Leandro Mattos

7 min de leitura
Empreendedorismo
Fragilidades de gestão às vezes ficam silenciosas durante crescimentos, mas acabam impedindo um potencial escondido.

Bruno Padredi

5 min de leitura
Empreendedorismo
51,5% da população, só 18% dos negócios. Como as mulheres periféricas estão virando esse jogo?

Ana Fontes

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial está reconfigurando decisões empresariais e estruturas de poder. Sem governança estratégica, essa tecnologia pode colidir com os compromissos ambientais, sociais e éticos das organizações. Liderar com consciência é a nova fronteira da sustentabilidade corporativa.

Marcelo Murilo

7 min de leitura
ESG
Projeto de mentoria de inclusão tem colaborado com o desenvolvimento da carreira de pessoas com deficiência na Eurofarma

Carolina Ignarra

6 min de leitura
Saúde mental, Gestão de pessoas
Como as empresas podem usar inteligência artificial e dados para se enquadrar na NR-1, aproveitando o adiamento das punições para 2026
0 min de leitura
ESG
Construímos um universo de possibilidades. Mas a pergunta é: a vida humana está realmente melhor hoje do que 30 anos atrás? Enquanto brasileiros — e guardiões de um dos maiores biomas preservados do planeta — somos chamados a desafiar as retóricas de crescimento e consumo atuais. Se bem endereçados, tais desafios podem nos representar uma vantagem competitiva e um fôlego para o planeta

Filippe Moura

6 min de leitura