Sustentabilidade

ESG, questão de sobrevivência para as empresas familiares

Assunto do momento no mundo todo, a agenda ESG tem forte relação com o propósito e o legado das famílias empresárias, que, por natureza, valorizam a perenidade dos negócios
É sócio-proprietário da Cedar Tree Family Business Advisors e da Consilium Family Office Advisros. Graduado em gestão de recursos humanos e mestrado em consulting and coaching for change pela INSEAD Business School, na França, trabalhou por mais de 20 anos como executivo no conglomerado de empresas de sua família. Especialista em governança Familiar e no desenvolvimento da família empresária, cursou diversos programas como parceria para o desenvolvimento do acionista-PDA e desenvolvimento de conselheiros-PDC, pela Fundação Dom Cabral-FDC. É certificado internacionalmente em Family Business advisor pelo Family Firm Institute-FFI, de Boston (USA). É fundador do Fórum Brasileiro da Família Empresária-FBFE.

Compartilhar:

A pandemia reforçou a necessidade e a urgência das empresas incorporarem os critérios da agenda ESG (Environment, Social and Governance) às suas práticas diárias. Esse é um caminho sem volta, uma mudança imperativa para todos os negócios, independente do porte ou do segmento de atuação.

As empresas familiares, que respondem por mais da metade do PIB brasileiro e empregam 75% da mão de obra, ocupam posição estratégica no “the great reset” – a grande reinicialização – defendido pelo Fórum Econômico Mundial na reunião de 2020, em Davos. A pressão por um futuro mais sustentável, justo e próspero surge de todos os lados: investidores, clientes, consumidores, fornecedores, órgãos reguladores, funcionários, da sociedade de maneira geral.

A transição está ocorrendo de modo acentuado, como revelam os números. No ano passado, mais de US$ 22 bilhões migraram para os fundos negociados em bolsa com foco em valores ESG, ante US$ 9,2 bilhões em 2019, conforme dados da Bloomberg compilados pela consultoria KPMG.

O conceito ESG existe há décadas, mas ganhou tração nos últimos anos. O manifesto assinado em 2019 por 181 CEOs de grandes empresas como Apple, JP Morgan, Johnson & Johnson, Coca-Cola e Dell definindo um novo padrão de responsabilidade corporativa, e a decisão da BlackRock – maior gestora de ativos do mundo –, em investir apenas em empresas comprometidas com os critérios ESG podem ser considerados um turning point. Além disso, a eleição do republicano Donald Trump e a saída dos EUA do Acordo de Paris contribuíram para fortalecer o ativismo pelo clima, imprimindo mais força a essa bandeira.

## Vantagens competitivas

De maneira geral, a agenda ESG tem forte relação com o propósito e o legado das famílias empresárias, o que é uma vantagem competitiva em relação às demais empresas. Por natureza, as empresas pertencentes a famílias têm uma visão de longo prazo, valorizam a perenidade do negócio e têm uma preocupação em perpetuar o legado social, devolvendo para a sociedade parte de suas conquistas, em sintonia com a agenda ESG.

Essa avaliação é corroborada pelo relatório do Credit Suisse Family 1000, de setembro do ano passado, segundo o qual as empresas familiares tendem a ter resultados de pontuação ESG ligeiramente melhores do que as não familiares. Nos últimos quatro anos, esse desempenho se fortaleceu impulsionado pela melhora nos aspectos ambientais e sociais.

Empresas familiares mais antigas têm melhores pontuações ESG do que as mais jovens em todos os três aspectos. A explicação estaria no fato de que, por terem processos mais consolidados, elas têm condições de se concentrar em outras áreas não diretamente ligadas ao processo principal, mas que são relevantes para a sustentabilidade do negócio.

Contudo, as empresas familiares ainda deixam a desejar no quesito governança se comparadas às demais organizações. O estudo do Credit Suisse Family 1000 mostra que os conselhos de administração costumam ser menos diversificados e estariam menos inclinados a se posicionarem publicamente em relação aos direitos humanos e à diversidade.

## De cima para baixo

Aprimorar a governança é essencial para as empresas familiares comprometidas com a transição para um mundo mais sustentável. A adesão à agenda ESG deve estar alinhada à espinha dorsal de negócios e começar pelo topo da pirâmide corporativa (acionistas e conselho de administração), de modo a transmitir uma mensagem consistente às demais lideranças e aos colaboradores.

O discurso precisa estar conectado à prática diária. Trata-se de uma mudança cultural que necessita do engajamento de todos, incluindo parceiros e fornecedores, buscando permear todos os níveis corporativos. Segundo especialistas, companhias com boa governança têm mais condições de serem bem-sucedidas no cumprimento das credenciais ESG.

Embora tenham “vocação natural” para ESG, a pauta ainda não é prioritária para os negócios familiares, conforme mostra a pesquisa global sobre empresas familiares realizada pela consultoria PwC durante a pandemia, entre outubro e dezembro de 2020. Apenas 35% das 2.801 empresas entrevistadas, em 87 países, apontaram a sustentabilidade e a comunidade local como prioridades.

## Nova geração

Os aspectos de sustentabilidade e diversidade são muito valorizados pelas novas gerações, que enxergam na agenda ESG um propósito para os negócios, adicionando mais competitividade às empresas. A expectativa é que a profissionalização crescente dos empreendimentos familiares e a chegada das novas gerações de herdeiros ao comando acelerem a transição para a fase ESG 2.0.

Com a crescente pressão para que as empresas assumam compromissos genuínos com as estratégias ESG, evitando que se tornem apenas mais um projeto do tipo greenwashing (maquiagem verde), há também uma cobrança cada vez maior pela mensuração de resultados e pela transparência nas informações, o que contribui para o desenvolvimento e amadurecimento desse modelo.

Algumas empresas estão incorporando as métricas ESG na política de remuneração de seus executivos e criando pontuações para medir o impacto gerado. Há um movimento em direção ao rating ESG, para classificar as companhias conforme o grau de elegibilidade para cada um dos referidos princípios. As agências de rating S&P, Moody’s e Fitch já adicionaram análises ESG em suas avaliações de crédito.

No mundo pós-pandemia, as organizações que não aderirem ao “novo normal” correm o risco de desaparecer. Alguma dúvida de que as três letrinhas do acrônimo são a nova regra dominante?

Compartilhar:

Artigos relacionados

Competitividade da Indústria Brasileira diante do Protecionismo Global

A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Mercado de RevOps desponta e se destaca com crescimento acima da média 

O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Uso de PDI tem sido negligenciado nas companhias

Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Regulamentação da IA: Como empresas podem conciliar responsabilidades éticas e inovação? 

A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Governança estratégica: a gestão de riscos psicossociais integrada à performance corporativa

A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Liderança, times e cultura, ESG
Conheça as 4 skills para reforçar sua liderança, a partir das reflexões de Fabiana Ramos, CEO da Pine PR.

Fabiana Ramos

ESG, Empreendedorismo, Transformação Digital
Com a onda de mudanças de datas e festivais sendo cancelados, é hora de repensar se os festivais como conhecemos perdurarão mais tempo ou terão que se reinventar.

Daniela Klaiman

ESG, Inteligência artificial e gestão, Diversidade, Diversidade
Racismo algorítimico deve ser sempre lembrado na medida em que estamos depositando nossa confiança na inteligência artificial. Você já pensou sobre esta necessidade neste futuro próximo?

Dilma Campos

Inovação
A transformação da cultura empresarial para abraçar a inovação pode ser um desafio gigante. Por isso, usar uma estratégia diferente, como conectar a empresa a um hub de inovação, pode ser a chave para desbloquear o potencial criativo e inovador de uma organização.

Juliana Burza

ESG, Diversidade, Diversidade, Liderança, times e cultura, Liderança
Conheça os seis passos necessários para a inserção saudável de indivíduos neuroatípicos em suas empresas, a fim de torná-las também mais sustentáveis.

Marcelo Franco

Lifelong learning
Quais tendências estão sendo vistas e bem recebidas nos novos formatos de aprendizagem nas organizações?

Vanessa Pacheco Amaral

ESG
Investimentos significativos em tecnologia, infraestrutura e políticas governamentais favoráveis podem tornar o país líder global do setor de combustíveis sustentáveis

Deloitte

Estratégia, Liderança, times e cultura, Cultura organizacional
À medida que o mercado de benefícios corporativos cresce as empresas que investem em benefícios personalizados e flexíveis não apenas aumentam a satisfação e a produtividade dos colaboradores, mas também se destacam no mercado ao reduzir a rotatividade e atrair talentos.

Rodrigo Caiado

Empreendedorismo, Liderança
Entendimento e valorização das características existentes no sistema, ou affordances, podem acelerar a inovação e otimizar processos, demonstrando a importância de respeitar e utilizar os recursos e capacidades já presentes no ambiente para promover mudanças eficazes.

Manoel Pimentel

ESG, Liderança, times e cultura, Liderança
Conheça e entenda como transformar o etarismo em uma oportunidade de negócio com Marcelo Murilo, VP de inovação e tecnologia da Benner e conselheiro do Instituto Capitalismo Consciente.

Marcelo Murilo