A expressão “gestão sustentável” foi cunhada em 1713 pelo alemão Hans Carl von Carlowitz, capitão-mor de minas do Eleitorado da Saxônia. A Assembleia Geral das Nações Unidas conceituou a ideia de desenvolvimento sustentável em 1979. A preocupação com a gestão sustentável já faz parte do cotidiano da maioria das empresas do mundo desde o início do século 21, se não na prática, ao menos no discurso. Mas é agora, nos anos 2020, catalisada pela pandemia de covid-19 entre outros fatores, que ela ganha finalmente o status de novo paradigma dos negócios. Com um valioso empurrão da tecnologia.
Essa cronologia foi recuperada pela jornalista e apresentadora Patricia Maldonado na abertura do terceiro “Eixo Exponencial: O Futuro no Agora”, realizado no dia 6 de maio último. O evento online, idealizado pela SAP Brasil, com patrocínio da Intel, teve como tema: [“Como a tecnologia em nuvem torna-se uma aliada nas práticas ESG de empresas inteligentes?”](https://event.on24.com/eventRegistration/EventLobbyServlet?target=reg20.jsp&partnerref=hsm&eventid=3086211&sessionid=1&key=07B749F1C856174603557CBC714869B2®Tag=&V2=false&sourcepage=register) e mostra como uma mudança, que, ainda que crucial à sobrevivência da espécie humana, pode demorar muito tempo para acontecer, e que a estrutura tecnológica certa consegue acelerar o processo.
“É urgente entender as [responsabilidades sociais, ambientais e de governança das empresas](https://www.revistahsm.com.br/post/reimaginando-negocios-com-esg-e-foco-no-g), porque isso envolve o destino da humanidade”, disse Mario Tiellet, especialista em transformação digital e vice-presidente de midmarket na SAP Brasil. Segundo ele, a filosofia ESG é o instrumento que pode compatibilizar a linguagem e os critérios ambientais, sociais e de governança corporativa com as avaliações e decisões de negócios.
Os entrevistados deste Eixo Exponencial foram Zeina Latif, consultora especialista em conjuntura econômica, e o próprio Tiellet, que responderam às perguntas lançadas pelos jornalistas Cynthia Rosenburg, editora-chefe da __HSM Management__; Adriana Salles, diretora-editorial da *MIT Sloan Management Review Brasil*; e José Vicente Bernardo, editor-chefe da edição brasileira da *Forbes*.
Inicialmente, Latif traçou o cenário macroeconômico em que o Brasil se insere, que indica tempos de incertezas pela frente. “Não significa um ambiente ruim, um quadro de crise, mas com certeza é desafiador para o qual as empresas precisam se preparar”, disse ela, explicando que a pandemia exacerbou o risco fiscal. Apesar de ter sido inevitável o governo dar um socorro às famílias, o gasto foi excessivo, explicou.
Além disso, “não cuidamos da calibragem das políticas”, destacou a economista, apontando a falta de apoio governamental às empresas para que, com tecnologia, pudessem se adaptar aos novos tempos e para que pudessem qualificar a mão de obra. “Faltou um maior zelo na gestão da saúde. Estamos respirando em 2021 os erros de calibragem nas políticas públicas de 2020; estamos ainda discutindo a imunidade da sociedade, por conta da vacina, que segue em ritmo lento”, pontuou Latif.
E como o [ESG se insere nesse cenário](https://www.revistahsm.com.br/post/esg-e-importante-na-evolucao-do-modelo-de-negocio)? Zeina Latif explicou que as empresas brasileiras terão de enfrentar os dois desafios ao mesmo tempo – o das incertezas do Brasil e o do mundo que não aceita mais o “business as usual”. Segundo ela, com o mundo cada vez mais complexo, as empresas têm que lidar com questões que vão muito além das suas fronteiras convencionais – e aí entram a governança ambiental e a social.
Não é uma moda, segundo Latif; é uma mudança de paradigma, algo que veio para ficar, como fruto de mudança de crenças na sociedade. “O ESG é um movimento que se inicia nas nações mais avançadas e vai se espalhando e se consolidando no mundo cada vez mais”, observou. Começou com os jovens millennials e com a geração Z, incomodados com a herança ambiental, com o quadro de desigualdade social, [de oportunidades e de diversidade](https://www.revistahsm.com.br/post/conecte-a-sua-estrategia-de-diversidade-a-pauta-esg), mas já não se limita a eles, de modo algum.
O desafio de ESG no Brasil é significativo, na visão de Latif, porque, no passado recente, há redução na participação do País no investimento global. “Existe ainda o risco de medidas protecionistas de outras regiões prejudicando nossa produção, principalmente na agropecuária, em função de questões ambientais.”
Juros baixos globais impulsionam investidores a buscar alternativas de investimento, e o Brasil poderia se beneficiar disso, mas, sem compromissos ESG, não conseguirá atrair esse capital, porque há uma forte tendência nesse sentido, para a economista. “Ao olharmos os investimentos no mundo, 30% já estão alocados em empresas com [compromissos ESG](https://www.revistahsm.com.br/post/cooperativismo-e-sgcs-uma-parceria-de-sucesso). E o percentual só deve aumentar”, avaliou a especialista. Para se ter uma ideia, apenas 0,12% dos investimentos hoje no Brasil estão associados com as responsabilidades ESG, o que significa que a mudança de orientação deve ser radical.
Latif ainda frisou que adotar os fatores ESG não serve apenas para atrair os investidores. Empresas com essa preocupação são mais bem geridas e, portanto, tendem a ter maior rentabilidade e performance. Isso ajuda a mitigar os riscos, o que atrai investidores, formando um círculo virtuoso. “É oportunidade para atrair investimentos e consolidar marcas.”
A economista acrescenta que ESG é cada vez mais um tema de regulação dos bancos centrais e legisladores, um movimento que tem se intensificado. Mas, ainda assim, ela insiste para que as empresas não vejam isso como um peso. “Deve ser visto muito mais como oportunidade do que como um peso”, afirmou.
## Como adotar o ESG
O que deve ser priorizado na transição para o novo paradigma de mercado? Tiellet citou que, de modo geral, os especialistas tendem a recomendar uma certa priorização da governança corporativa, ao considerarem que o G é a evolução econômica mais relevante na sigla ESG. “São as políticas e práticas que regulam o modo como a empresa é dirigida: diversidade, remuneração, ética, combate à corrupção, tecnologias de contabilidade, controle e alocação de capital”, enumerou o executivo da SAP.
Cynthia Rosenburg questionou, então, sobre o que deve ser prioritário no curto prazo dentro da prioridade à governança corporativa. Tiellet sugere que se deve começar pelo básico. “Por exemplo, na gestão de recursos humanos, qual índice de mulheres no corpo diretivo? Entre os fornecedores, quais são transparentes em suas embalagens, quais cuidam do ecossistema? São coisas simples, que já estão habilitadas, num olhar não somente técnico, mas cultural”, ensinou Tiellet.
Muito mais do que responsabilidade social, disse ele, existem questões práticas, de curto prazo, que têm relação direta com a economia de cada empresa. “Quão claros são os meus processos? Quanto transparente sou com o mercado? Quão justo sou com a minha diversidade? Quanto estou captando de gente diversa para melhorar o meu negócio? Como mitigo o risco? Estou falando, com tudo isso, em como [melhorar a economia do meu negócio](https://www.revistahsm.com.br/post/um-mapa-para-acessar-capital-o-combustivel-para-o-crescimento-das-empresas) com o ESG. ESG não é para aumentar o risco ou burocratizar a empresa, não!”. É para manter o negócio. Sem transparência com produtos, números e comunidade, não haverá investidor – e talvez nem consumidor, observou Tiellet, fazendo coro ao que Latif disse, sobre não haver mais espaço para o “business as usual”.
E é aí que a tecnologia pode entrar como um acelerador da transição das empresas ao novo paradigma. Dando o exemplo das [soluções da SAP em nuvem](https://www.mitsloanreview.com.br/post/nuvem-para-todos-os-portes), Tiellet disse que elas já vêm com as práticas ESG, garantindo essa transparência e ajudando a empresa a [recriar sua cultura](https://www.revistahsm.com.br/post/a-autoconsciencia-tecnica-e-seus-impactos-na-cultura-de-inovacao), sua forma de pensar, seu time to market. “É claro que (a transição) leva tempo, porque a conscientização leva tempo”, avisou Tiellet. Mas a tecnologia pode abreviar esse tempo. Zeina Latif concordou: “De um lado está essa conscientização, uma mudança de crença para valer, da sociedade brasileira como um todo; e do outro estão as condições técnicas, ou tecnológicas, como as empresas vão ter condições de abraçar essa agenda, do ponto de vista dos custos envolvidos, das tecnologias, das informações.”
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