Uncategorized

Estamos desbussolados

A revolução tecnológica mudou nossas vidas e ainda não nos encontramos
Psicanalista e psiquiatra, doutor em psicanálise e em medicina. Autor de vários livros, especialmente sobre o tratamento das mudanças subjetivas na pós-modernidade, recebeu o Prêmio Jabuti em 2013. É criador e apresentador do Programa TerraDois, da TV Cultura, eleito o melhor programa da TV brasileira em 2017 pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).

Compartilhar:

Estamos todos desbussolados, sem rumo, virados de cabeça para baixo e agarrando no primeiro tronco dessa enxurrada para tentar nos salvar. Do nascimento à morte, passando por todas as etapas da vida, como o amor, a família, o trabalho, a saúde, o lazer, a educação, nada mais é como era antes. Nossos tempos pós-modernos – TerraDois, como costumo chamar –põem em evidência que, à diferença de todos os animais, não temos um determinismo biológico que nos oriente com segurança inquebrantável. Não temos uma bússola segura, somos todos GPS ambulantes.

Vejamos os animais, as abelhas, por exemplo. Abelhas existem há 80 milhões de anos e são sempre as mesmas, sempre fazendo tudo igual. Nesse tempo todo a colmeia continua sendo composta por hexágonos perfeitos, nunca tendo surgido uma abelha Niemeyer que tenha resolvido inovar fazendo uma curva sensual no padrão tão exato de sua casa. E zebras, e pinguins, e onças, e porcos, e borboletas sabem desde o nascimento o que devem fazer de suas vidas. A espécie humana, não; por isso podemos falar em eras éticas, ou seja, épocas sucessivas que se caracterizam por um determinado comportamento coletivo.

Vivemos uma abissal mudança ocasionada, em especial, pelo surgimento da web na década de 1990. O laço social, pela primeira vez em 2.800 anos, deixou de ser vertical, padronizado, hierárquico, linear, passando a ser horizontal, múltiplo, flexível, criativo. A primeira reação a essa flexibilização é de euforia, pela liberdade de escolha, logo seguida de medo, pela mesmíssima razão: a liberdade de escolha atemoriza por não estar amparada em nenhuma garantia. Surgem então tentativas toscas de acalmar os medrosos, buscando fazer da ciência o que ela não é, a saber, oráculo do destino, semelhante ao periquito do realejo. 

Sob o prestigioso título de “neurociência” cria-se um amplo guarda-chuva sob o qual convivem práticas das mais consequentes e fundamentais às mais duvidosas, capazes de envergonhar o referido passarinho. E quando a isso se somam neossacerdotes cheios de termos ingleses, aconselhadores do lugar-comum, está preparado o caldo da desistência de sermos responsáveis pela singularidade de nossas formas de viver. 

Podemos fazer bem melhor esse novo tempo.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Uncategorized
Há alguns anos, o modelo de capitalismo praticado no Brasil era saudado como um novo e promissor caminho para o mundo. Com os recentes desdobramentos e a mudança de cenário para a economia mundial, amplia-se a percepção de que o modelo precisa de ajustes que maximizem seus aspectos positivos e minimizem seus riscos

Sérgio Lazzarini

Gestão de Pessoas
Os resultados só chegam a partir das interações e das produções realizadas por pessoas. A estreia da coluna de Karen Monterlei, CEO da Humanecer, chega com provocações intergeracionais e perspectivas tomadas como normais.

Karen Monterlei

Liderança, times e cultura, Cultura organizacional, Gestão de pessoas
Entenda como utilizar a metodologia DISC em quatro pontos e cuidados que você deve tomar no uso deste assessment tão popular nos dias de hoje.

Valéria Pimenta

Inovação
Os Jogos Olímpicos de 2024 acabaram, mas aprendizados do esporte podem ser aplicados à inovação organizacional. Sonhar, planejar, priorizar e ter resiliência para transformar metas em realidade, são pontos que o colunista da HSM Management, Rafael Ferrari, nos traz para alcançar resultados de alto impacto.

Rafael Ferrari

6 min de leitura
Liderança, times e cultura, ESG
Conheça as 4 skills para reforçar sua liderança, a partir das reflexões de Fabiana Ramos, CEO da Pine PR.

Fabiana Ramos

ESG, Empreendedorismo, Transformação Digital
Com a onda de mudanças de datas e festivais sendo cancelados, é hora de repensar se os festivais como conhecemos perdurarão mais tempo ou terão que se reinventar.

Daniela Klaiman

ESG, Inteligência artificial e gestão, Diversidade, Diversidade
Racismo algorítimico deve ser sempre lembrado na medida em que estamos depositando nossa confiança na inteligência artificial. Você já pensou sobre esta necessidade neste futuro próximo?

Dilma Campos

Inovação
A transformação da cultura empresarial para abraçar a inovação pode ser um desafio gigante. Por isso, usar uma estratégia diferente, como conectar a empresa a um hub de inovação, pode ser a chave para desbloquear o potencial criativo e inovador de uma organização.

Juliana Burza

ESG, Diversidade, Diversidade, Liderança, times e cultura, Liderança
Conheça os seis passos necessários para a inserção saudável de indivíduos neuroatípicos em suas empresas, a fim de torná-las também mais sustentáveis.

Marcelo Franco

Lifelong learning
Quais tendências estão sendo vistas e bem recebidas nos novos formatos de aprendizagem nas organizações?

Vanessa Pacheco Amaral