Soluções TerraDois

Eu te amo

É difícil constatar que temos quereres arbitrários e que, dentre eles, há os mais importantes, como o amor
Psicanalista e psiquiatra, doutor em psicanálise e em medicina. Autor de vários livros, especialmente sobre o tratamento das mudanças subjetivas na pós-modernidade, recebeu o Prêmio Jabuti em 2013. É criador e apresentador do Programa TerraDois, da TV Cultura, eleito o melhor programa da TV brasileira em 2017 pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).

Compartilhar:

Eu te amo!

Não adianta tentar explicar essa declaração. Não adianta fazer DR (discussão de relacionamento) para tentar entender: ama quanto? Como? Por quê? Há quanto tempo? De que forma? Só a mim? E por aí vai.
Amar, hoje, é verbo intransitivo, como escreveu Mário de Andrade. Nem sempre foi assim, por muito tempo amava-se em nome de. Em nome do Senhor, dos filhos, da sociedade, da herança e de outras razões. Aí cabia a pergunta sobre o detalhe do amor. Mas o mundo mudou e o amor, dada a sua importância de afeto primordial, é o melhor exemplo de como a arbitrariedade faz parte de nossas vidas.

Arbitrariedade não se deve confundir com totalitarismo, como sói acontecer. Totalitário é aquele que põe a força no lugar do argumento; já o arbitrário é quem reconhece o limite do argumento por faltarem palavras para explicar. Não há uma boa razão para uma mesa se chamar mesa, ou um cavalo se chamar cavalo, como explicou Ferdinand de Saussure. É arbitrário. Ser arbitrário é deparar com o limite da razão; ser totalitário é colocar um limite na razão.
Quando um pai, uma mãe, um chefe, um líder, um amante expressam uma vontade, muitas vezes não sabem dizer o porquê. Sentem que sua explicação é tosca, seu interlocutor também, e refazem a pergunta: por quê? Por quê? Caetano Veloso foi muito criticado, há anos, pela resposta que deu a um jornal que lhe perguntou se o Brasil tinha jeito. “Sim, ele tem jeito porque eu quero!”, respondeu o criador de Sampa. Foi o suficiente para lhe choverem críticas na linha do voluntarista pretensioso.

É difícil constatar que temos quereres arbitrários e que, dentre eles, há os mais importantes, como o amor. Tememos que frente a uma demanda arbitrária um filho nos diga: eu não gosto de você; ou que um colaborador constate: enlouqueceu!

Bons tempos, suspiram os saudosistas, em que tudo tinha uma razão de ser muito bem explicada: hora de trabalhar, trabalhar; de descansar, descansar; de brincar, brincar. Os obsessivos nadavam de braçadas.

Contrariamente, nesta era em que inauguramos TerraDois o equilíbrio com o intangível é sua marca; a convivência com o arbitrário, sua consequência. Vale um conselho para esses momentos: não se explique, nem se justifique. E se, mesmo assim, insistirem em uma explicação, lembre-os da máxima de Angelus Silesius: “a rosa é sem porquê”.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Liderança na gestão do mundo híbrido

Este modelo que nasceu da necessidade na pandemia agora impulsiona o engajamento, reduz custos e redefine a gestão. Para líderes, o desafio é alinhar flexibilidade, cultura organizacional e performance em um mercado cada vez mais dinâmico.

Data economy: Como a inteligência estratégica redefine a competitividade no século XXI

Na era digital, os dados emergem como o ativo mais estratégico, capaz de direcionar decisões, impulsionar inovações e assegurar vantagem competitiva. Transformar esse vasto volume de informações em valor concreto exige infraestrutura robusta, segurança aprimorada e governança ética, elementos essenciais para fortalecer a confiança e a sustentabilidade nos negócios.

China

O Legado do Progresso

A celebração dos 120 anos de Deng Xiaoping destaca como suas reformas revolucionaram a China, transformando-a em uma potência global e marcando uma era de crescimento econômico, inovação e avanços sociais sem precedentes.

Inteligência Artificial
Marcelo Murilo
Com a saturação de dados na internet e o risco de treinar IAs com informações recicladas, o verdadeiro potencial da inteligência artificial está nos dados internos das empresas. Ao explorar seus próprios registros, as organizações podem gerar insights exclusivos, otimizar operações e criar uma vantagem competitiva sólida.
13 min de leitura
Estratégia e Execução, Gestão de Pessoas
As pesquisas mostram que o capital humano deve ser priorizado para fomentar a criatividade e a inovação – mas por que ainda não incentivamos isso no dia a dia das empresas?
3 min de leitura
Transformação Digital
A complexidade nas organizações está aumentando cada vez mais e integrar diferentes sistemas se torna uma das principais dores para as grandes empresas.

Paulo Veloso

0 min de leitura
ESG, Liderança
Tati Carrelli
3 min de leitura
Gestão de Pessoas, Liderança, Times e Cultura
Como o ferramental dessa ciência se bem aplicado e conectado em momentos decisivos de projetos transforma o resultado de jornadas do consumidor e clientes, passando por lançamento de produtos ou até de calibragem de público-alvo.

Carol Zatorre

0 min de leitura
Gestão de Pessoas, Estratégia e Execução, Liderança, Times e Cultura, Saúde Mental

Carine Roos

5 min de leitura