Empreendedorismo

[EVENTO] O que aprendemos com Magic Johnson

Um dos pontos altos do Expo Magalu, na semana que terminou, foram os segredos do sucesso do icônico armador do basquete americano

Compartilhar:

Franca, no interior de São Paulo, é a terra do basquete. O time da cidade tem 62 anos ininterruptos de atividades, 11 campeonatos brasileiros e 4 panamericanos de clubes, e a formação atual inclui três jogadores da seleção brasileira – Jorginho, Lucas Mariano e Lucas Dias. Franca também é a terra do Magalu, uma das empresas brasileiras que melhor tem conduzido sua transformação digital e cuja valorização em bolsa de valores nos últimos dez anos, desde que a virada rumo ao e-commerce começou, é inquestionável. Não à toa, o Magalu é um dos patrocinadores do basquete local desde 2017. Assim, fez todo o sentido que a segunda edição do Expo Magalu, este ano aberta ao público em geral, tivesse como ápice um dos maiores astros do basquete mundial: Magic Johnson.

O icônico armador do basquete americano foi cinco vezes campeão da liga profissional do esporte dos EUA, a NBA, com o Los Angeles Lakers. Também foi três vezes MVP (jogador mais valioso), quatro vezes líder em assistências e duas vezes líder em roubadas de bola, entre muitos títulos. Integrou o dream team de 1992, o único dream team de verdade do basquete, medalha de ouro na Olimpíada de Barcelona. Aquela seleção americana reunia, simplesmente, Magic, Michael Jordan, Larry Bird, Charles Barkley, Scottie Pippen, Patrick Ewing, Karl Malone…, um elenco inimaginável, e assim inspirou a onda do basquete no mundo inteiro (daí a NBA começou a receber estrangeiros). Quem viu as jogadas de Magic Johnson, no Lakers ou na seleção – eram quase uma coreografia de tão estéticas – não se esquece.

O CEO do Magalu e fã de basquete, Fred Trajano, entrevistou o ex-atleta ao vivo, junto com o assessor de imprensa internacional da empresa, o americano Arick Wierson. Falou-se tanto do esportista como do empresário. Para quem não sabe, Magic Johnson se tornou um empresário de sucesso, dono da Magic Johnson Enterprises, cuja valuation é estimada (tem capital fechado) em US$ 1 bilhão. Pode-se dizer que é uma valorização considerável, que levou 20 anos, para um jogador que ganhou US$ 40 milhões em toda a sua carreira nas quadras. Hoje ele tem mais de cem lojas Starbucks, mais de 30 fast-foods Burger King, academias de ginástica, shopping centers, cinemas, uma empresa de seguros etc.

Johnson já tinha falado no evento de uma empresa brasileira em 2020, mas a ligação de Trajano com o basquete, e o fato de o Magalu se mobilizar por causas sociais e antirracistas, assim como faz Magic, fizeram com que a conexão fosse particularmente forte. Como o público do evento – que contou com a HSM na organização – era composto majoritariamente de empreendedores, atuais e potenciais sellers no marketplace do Magalu, a conversa girou em torno de conselhos para empreendedores. Foi uma apresentação motivacional, não há dúvida, para dar esperança e coragem a todos que a viram. Mas também rendeu boas ideias de gestão, e dividimos aqui as principais:

__• Uma métrica.__ Tanto como jogador quanto como empresário, Magic Johnson foi e é o primeiro a chegar e o último a sair do trabalho. Ele contou que acorda às 4h todos os dias para se exercitar.

__• Um comportamento.__ Ele sempre foi de sorrir e abraçar, ter leveza na abordagem, algo que diz ter puxado de sua mãe. Foi assim nas quadras e continua a ser nos negócios. “Sou uma ‘people person’”, disse, concordando que isso facilitou seu caminho como líder.

__• Uma discordância.__ Hoje o perfeccionismo é criticado – “feito é melhor que perfeito”, todos dizem em coro –, mas Magic se admite perfeccionista e defende essa busca da perfeição.

__• Um “como fazer”.__ Para ele, há só uma: preparação. Magic disse dar 150% de si nos treinos, mais até do que nos jogos. E preparar-se tanto para as jogadas de ataque quanto as de defesa. E ele faz assim nos negócios também. Exemplos de preparação nos negócios são o estudo do cliente que antecede a negociação, o estudo da gestão para ser um bom gestor. Quanto a ataque e defesa, são os movimentos de inovação no mercado (ataque, tomar) e de reação à concorrência (defesa). Vale destacar que os mentores foram a principal forma de preparação de Magic. Quando ele se aposentou do Lakers, marcou almoços com 50 CEOs que eram torcedores do clube para aprender com cada um deles. Seis deles ainda são seus mentores. Com um deles – Howard Schulz, do Starbucks – fez negócio.

__• Um estilo de liderança.__ Magic Johnson era o líder nas quadras, assim como é na sua empresa. E ele resume a cinco suas regras para liderar bem (1) mostrar-se sempre disposto a aprender com os outros (sejam eles quem forem, seja qual for a posição que ocupam), (2) jamais microgerenciar alguém (ou a pessoa anda sozinha ou não anda), (3) garantir que todo mundo esteja executando a estratégia e com prontidão para o que virá, (4) ser pontual (a questão do respeito ao tempo é bem importante para ele, como frisou), e (5) deixar-se liderar – “a great leader can be led” – ou seja, um líder só é um grande líder se puder ser liderado”. Magic disse que gosta de vitórias, sempre. E que entendeu só ser possível ter vitórias fazendo os outros jogarem melhor. No esporte e na vida.

__• Um processo estratégico.__ Magic contou que ele para, uma ou duas vezes por ano, para fazer matriz SWAP, ou seja, uma análise de forças, fraquezas, oportunidades e ameaças de tudo em sua vida, profissional e pessoal – até pensando em como pode melhorar em seus casamento ou com os três filhos. (Johnson já apoiou publicamente o filho gay, EJ Johnson, por exemplo.)

__• Um compromisso.__ No início dos anos 1990, uma época em que a aids era um grande tabu, e artistas no Brasil escondiam ter o vírus da aids, Magic veio a público dizer que ele era HIV positivo. Ajudou a tirar o estigma da doença. Como empresário, ele age constantemente a favor dos negros. Por exemplo, agora, na pandemia, abriu uma linha de crédito de US$ 300 milhões para 5 mil negócios de pequenos empresários negros e latinos nos EUA, que quase não têm acesso a crédito. Também investem melhorar a infraestrutura de banda larga nos bairros pobres, para que as crianças tenham internet de qualidade nas escolas.

__• Um norte.__ O ex-jogador acredita que, tanto em nível pessoal como empresarial, o mais importante é ter uma “trust brand”, uma marca de confiança. E isso pressupõe, nas decisões difíceis, sempre escolher fazer a coisa certa. “Se você perder dinheiro, você recupera. Confiança e reputação você não recupera”, disse.

__• Uma filosofia.__ Magic diz que sempre olhou para o lado positivo das coisas. Em sua carreira, sua grande batalha era com Larry Bird, do Boston Celtics. Mas, em vez de ter raiva de Bird, ele sabia que a qualidade do oponente o fazia ser melhor, e julgava que isso era positivo. Ele dividiu um episódio interessante: quando se aposentou, foi procurar um famoso agente de Hollywood, Michael Owens (THE Artist Agency), para contratá-lo. Preciso esperar três horas para ser atendido em apenas 45 minutos, e saiu da reunião se sentindo menor. “Foi muito positivo ele me fazer ver que ninguém se importava realmente com quem eu era”, comentou Magic.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Superando os legados de negócio e de mindset

Lembra-se das Leis de Larman? As organizações tendem a se otimizar para não mudar; então, você precisa fazer esforços extras para escapar dessa armadilha. Os exemplos e as boas práticas deste artigo vão ajudar

O RH pode liderar o futuro do trabalho?

A área de gestão de pessoas é uma das mais capacitadas para isso, como mostram suas iniciativas de cuidado. Mas precisam levar em conta quatro tipos de necessidades e assumir ao menos três papéis

Empreendedorismo
Afinal, o SXSW é um evento de quem vai, mas também de quem se permite aprender com ele de qualquer lugar do mundo – e, mais importante, transformar esses insights em ações que realmente façam sentido aqui no Brasil.

Dilma Campos

6 min de leitura
Uncategorized
O futuro das experiências de marca está na fusão entre nostalgia e inovação: 78% dos brasileiros têm memórias afetivas com campanhas (Bombril, Parmalat, Coca-Cola), mas resistem à IA (62% desconfiam) - o desafio é equilibrar personalização tecnológica com emoções coletivas que criam laços duradouros

Dilma Campos

7 min de leitura
Gestão de Pessoas
O aprendizado está mudando, e a forma de reconhecer habilidades também! Micro-credenciais, certificados e badges digitais ajudam a validar competências de forma flexível e alinhada às demandas do mercado. Mas qual a diferença entre eles e como podem impulsionar carreiras e instituições de ensino?

Carolina Ferrés

9 min de leitura
Inovação
O papel do design nem sempre recebe o mérito necessário. Há ainda quem pense que se trata de uma área do conhecimento que é complexa em termos estéticos, mas esse pensamento acaba perdendo a riqueza de detalhes que é compreender as capacidades cognoscíveis que nós possuímos.

Rafael Ferrari

8 min de leitura
Inovação
Depois de quatro dias de evento, Rafael Ferrari, colunista e correspondente nos trouxe suas reflexões sobre o evento. O que esperar dos próximos dias?

Rafael Ferrari

12 min de leitura
ESG
Este artigo convida os profissionais a reimaginarem a fofoca — não como um tabu, mas como uma estratégia de comunicação refinada que reflete a necessidade humana fundamental de se conectar, compreender e navegar em paisagens sociais complexas.

Rafael Ferrari

7 min de leitura
ESG
Prever o futuro vai além de dados: pesquisa revela que 42% dos brasileiros veem a diversidade de pensamento como chave para antecipar tendências, enquanto 57% comprovam que equipes plurais são mais produtivas. No SXSW 2025, Rohit Bhargava mostrou que o verdadeiro diferencial competitivo está em combinar tecnologia com o que é 'unicamente humano'.

Dilma Campos

7 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Para líderes e empreendedores, a mensagem é clara: invista em amplitude, não apenas em profundidade. Cultive a curiosidade, abrace a interdisciplinaridade e esteja sempre pronto para aprender. O futuro não pertence aos que sabem tudo, mas aos que estão dispostos a aprender tudo.

Rafael Ferrari e Marcel Nobre

5 min de leitura
ESG
A missão incessante de Brené Brown para tirar o melhor da vulnerabilidade e empatia humana continua a ecoar por aqueles que tentam entender seu caminho. Dessa vez, vergonha, culpa e narrativas são pontos cruciais para o entendimento de seu pensamento.

Rafael Ferrari

0 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A palestra de Amy Webb foi um chamado à ação. As tecnologias que moldarão o futuro – sistemas multiagentes, biologia generativa e inteligência viva – estão avançando rapidamente, e precisamos estar atentos para garantir que sejam usadas de forma ética e sustentável. Como Webb destacou, o futuro não é algo que simplesmente acontece; é algo que construímos coletivamente.

Glaucia Guarcello

5 min de leitura