Dossiê HSM

Exemplos múltiplos

Para enfrentar a crise e recuperar a economia, os profissionais T-shaped (intra)empreendedores são estratégicos: unem especialidade com várias habilidades, agregando valor por onde passam

Compartilhar:

Foi nos anos 1980 que surgiu, entre os recrutadores, uma forma pouco ortodoxa de classificar os candidatos. Eles são diferenciados entre “profissionais em forma de I” e “profissionais em forma de T” (T-Shaped, em inglês). Os primeiros são lineares, versados em uma área específica do conhecimento e cada vez mais especializados. Os últimos também têm ampla experiência em um segmento, mas são multidisciplinares. Isto é, são dotados de habilidades e conhecimentos de diferentes especialidades – competências representadas pelo eixo horizontal da letra T. Tanto o profissional “I” quanto o “T” são indispensáveis em qualquer organização. Muitos líderes, no entanto, acham o T-shaped mais estratégico. Especialmente no incerto mundo pós-Covid.

“O que torna os indivíduos em forma de T tão eficazes no que fazem é que eles são imensamente empáticos, tendo um senso aguçado quanto às perspectivas dos outros”, é a resposta para uma das FAQs contidas no site da Harvard IT Academy. “Um profissional T-shaped pode ver através dos olhos dos outros, caminhar no lugar deles, ouvir ativamente e criar soluções que se baseiam em suas ideias.”
O que você lerá, a seguir, são sete perfis de profissionais em forma de T. São pessoas com carreiras sólidas, mas que abriram o leque profissional – e hoje tocam vários negócios ao mesmo tempo. O que lhes permite pensar de forma ampla e colaborar de maneira ainda mais eficaz – onde quer que trabalhem. “O aprendizado de uma (área) enriquece a outra. As atividades vão se complementando”, explica Felipe Cerchiari, diretor de inovação da Ambev – e que também é fotógrafo profissional, empreendedor, professor, colunista e um dos entrevistados deste dossiê.

Você ainda conhecerá a história de Neivia
Justa, sócia-fundadora da C-Level Diversity; do executivo Célio Lopes, membro do comitê de finanças da Lojas Marisa; de Claudio Maksoud Filho, gerente de vendas da Uber; da atriz Suzana Pires, que atuou em dez novelas na TV Globo; de Amanda Graciano, desenvolvedora de negócios no iDEXO; e da gerente de produtos Sueli Nascimento que, além da carreira na área de tecnologia, passou a dar mentoria para os colegas de trabalho – e hoje lidera uma rede de colaboradores negros dentro da empresa em que trabalha, a SAP.

![Imagens-11](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/4zurAi9aup32WOIdYqdnGx/9f0bd8bd8892e01a41a6441eed6b9089/Imagens-11.png)

## Neivia Justa, multitarefa de impacto

Muito antes do perfil de profissional T-Shaped vir à tona, Neivia Justa já sabia como conciliar múltiplos interesses em uma trajetória de sucesso. Jornalista de formação, essa cearense radicada em São Paulo começou a carreira transitando por diferentes setores do mercado de comunicação. Foi apresentadora de TV, colunista de jornal, trabalhou com marketing político e atuou em agências de publicidade – tudo isso ainda muito jovem, antes dos 23 anos.

Ao chegar à capital paulista, no início da década de 1990, encontrou um mercado simpático aos profissionais generalistas. As multinacionais buscavam perfis capazes de aliar o conhecimento em comunicação às estratégias de marketing, mas que também soubessem gerenciar projetos e equipes. O job description caía como uma luva para Neivia. E foi assim que ela migrou para a área corporativa. Desde então, são três décadas de experiência e passagens por empresas como Natura, General Eletric, Goodyear e Johnson & Johnson.

Aos 51 anos, Neivia hoje concilia as responsabilidades de mãe, palestrante e professora de empreendedorismo. Além da Justa Causa, consultoria na qual oferece projetos de transformação e cultura digital para executivos e empresas, ela também é sócia-fundadora da C-Level Diversity, empresa de recrutamento e seleção de líderes e executivos com foco em diversidade e inclusão. “Cansei de ouvir que não há CEOs mulheres, negros ou LGBTs porque não existem pessoas qualificadas o bastante”, diz. “Digo para as empresas que eu consigo encontrar esses profissionais. O que pode acontecer é essas pessoas não quererem ir para a organização delas”, acrescenta, fazendo alusão aos negócios que levantam falsas bandeiras de diversidade.

A paixão por um mercado de trabalho mais inclusivo surgiu, segundo ela, após passar décadas embaixo do “véu da falsa meritocracia”. “Acreditava que se eu, mulher cearense, consegui, todos poderiam. Mas eu ainda não havia aberto os olhos para todos os meus privilégios.” Atualmente, Neivia usa as redes sociais como ferramenta para potencializar a causa. Criou hashtags como #ondeestãoasmulheres e #aquiestãoasmulheres, que divulgam notícias de mulheres em posição de liderança. De quarentena em casa, tem apresentado no LinkedIn a série de lives “Líder com Neivia”. “Duas vezes por semana eu aprendo com executivos C-level que estão fazendo as coisas acontecerem no Brasil”, conta. Ao fim de 2020, terá conversado com 55 líderes de grandes empresas. “É uma verdadeira aula de MBA.”

![Imagens-10](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/1G29RL4Lho6YnNFqjKN8Xy/1e1013462a2fe4934d2fbc415005aded/Imagens-10.png)

## Sueli Nascimento, tríade perfeita

Artes plásticas, tecnologia e recursos humanos: combinar profissionalmente as três áreas é uma aposta inusitada, mas Sueli Nascimento não tem medo de ousar. Product manager na divisão brasileira da SAP, uma das maiores desenvolvedoras de softwares do planeta, ela nunca titubeou quanto à carreira que queria seguir. As três áreas, portanto, fazem parte do plano.

Tudo começou aos 17 anos, quando Nascimento deixou sua cidade natal, São José do Rio Preto (SP), para estudar artes plásticas na capital. Com um ano de curso, percebeu que queria mais. “A arte não me ofereceria, sozinha, todo o retorno que eu desejava”, ela lembra. Nessa época, ganhou um computador de presente do irmão, o que a ajudou a definir um novo rumo. “Entendi que o futuro de toda a humanidade estava ligado às capacidades daquela máquina, e era com aquilo que eu iria trabalhar.”

Sem abandonar a graduação em artes, passou a explorar a tecnologia. Em pouco tempo, viu-se inserida no universo da auditoria. “Eu queria conhecer o mercado, descobrir como tudo acontece. Curiosidade sempre foi a minha característica principal”, ela justifica. Como auditora, fez cursos nos Estados Unidos e implantou, do zero, setores de tecnologia em empresas brasileiras. “Ensinava as pessoas a utilizarem as ferramentas, mostrava como a tecnologia poderia ajudá-las. Sempre foi sobre a tecnologia em função das pessoas.” Antes dos 30 anos, já colecionava passagens por companhias como Sadia, Pirelli e Lojas Americanas.

Em julho, Sueli Nascimento completou 55 anos – 23 deles na SAP. Em duas décadas de empresa, a profissional passou por vários setores ligados à tecnologia – até, finalmente, aproximar-se do RH. “A empresa dá bastante espaço para coaching e mentoria. Antes mesmo de eu completar a formação, três colegas me pediram para orientá-las. Fiquei surpresa, mas aceitei.” Com o apoio da multinacional, e um ímpeto destemido, passou a assistir cada vez mais colaboradores. Agora, ela lidera a Black Employee Network, rede de colaboradores negros da própria SAP.

E onde entram as artes? Nos últimos anos, Nascimento lecionou educação artística em universidades e, inclusive, usou a arte para empreender. “Fiz três bonecas negras de feltro. Vendi todas no primeiro dia, então novos pedidos começaram a chegar”, conta. O que começou por hobby chegou a virar produto de exportação. As bonecas, inclusive, “pagaram” a faculdade de uma funcionária. Para quem também quer ser um profissional T-shaped, ela dá a dica: “Nunca perca ‘os seus’ de vista. Contatos são tudo, e todo mundo pode ser tornar um cliente ou um parceiro.”

![Imagens-09](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/4aQHA45Ll0ZRFB8XVkejhj/3579c6474c5c623cb03621d59e22f5be/Imagens-09.png)

## Célio Lopes, executivo empreendedor

Muitos empresários se reinventaram nesses meses de distanciamento físico, incluindo Célio Lopes. Em agosto de 2020, ele lançou sua fazenda de microgeração de energia solar, a Apoena Energia. Também começou a escrever o primeiro livro de ficção, a plantar cana-de-açúcar e encontrou tempo para fazer serviço voluntário. Tudo enquanto ainda atua como consultor e membro do comitê de finanças do conselho administrativo da varejista Lojas Marisa.

Uma quantidade tão grande de atividades, e de segmentos tão distintos, poderia lhe trazer problemas de gestão de tempo ou de tarefas? Ele jura que não. “Estou em paz com minha agenda. Consigo tempo para cumprir meus compromissos e manter minhas atividades físicas, sem abrir mão de fazer (e preparar) refeições com minha família e até de passear com o cachorro”, conta Lopes, que é casado e tem três filhos.

Nascido há 47 anos em Monte Santo de Minas, a 487 quilômetros de Belo Horizonte, Célio Lopes tem formação técnica de eletrônica, graduação em administração de empresas e especialização em marketing. Assumiu cedo a responsabilidade sobre a carreira, o que lhe permitiu tomar decisões que o levaram a ser gerente de operações de crédito da GE Capital, aos 26 anos. Dali em diante, ocupou outros cargos executivos – quase sempre na área de finanças – em grandes empresas, como Unibanco e Anhanguera.

Apesar da carreira consolidada como financista, Lopes sentia necessidade de mudar. “Sempre tive o desejo de empreender.” O sonho finalmente virou realidade depois de ler o livro Anticarreira, do headhunter Joseph Teperman, citado na reportagem da página 32. “Lia um capítulo por dia para absorver melhor o conteúdo”, diz Lopes, que desde pequeno mantém o hábito da leitura. Segundo ele, isso fez muita diferença ao longo da própria carreira. “A leitura me deu conteúdo para conseguir me virar em várias frentes.” Mas foi o livro de Taperman que fez Lopes “virar a chave” profissional e concretizar a pretensão que sempre o acompanhou.

Ele ainda quer atuar em conselhos de administração e consultivos. E até mesmo se coloca à disposição para posições executivas. Com uma condição: que consiga conciliar as responsabilidades com os negócios em que investiu. “Minhas escolhas não são de carreira”, ele diz. “São escolhas de vida.”

![Imagens-08](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/1bvmbk3SFNdbXtZIeEmUAP/fa101aa11b504a183bf22d5a2ead9e5d/Imagens-08.png)

## Claudio Maksoud Filho, dobrando a aposta

“Podemos falar ainda hoje”, escreveu Claudio Maksoud Filho, minutos depois do contato pelo WhatsApp. “Mas meus horários não são os convencionais. Estou de licença-paternidade.” Aos 30 anos, o pai de primeira viagem é o gerente sênior de vendas da Uber Eats, sócio-fundador do Tetto Rooftop Lounge e jogador de poker semiprofissional. Antes disso, começou a carreira em agências de publicidade, na área de criação. Após um período vivendo na Espanha, voltou ao Brasil para atuar na área de tecnologia, no setor de vendas. “Quis ir para o lado em que as decisões importantes são tomadas. Aproveitei o momento de mudança do mercado na área de marketing e me joguei.”

Com óbvio gosto por apostas, Maksoud usou o bom momento profissional que vivia na Rapiddo Entregas em 2016 para entrar de cabeça em um novo negócio. Com três amigos, fundou o Tetto Rooftop Lounge na capital paulista. Trata-se de um bar-balada, localizado na cobertura do WZ Hotel, que logo ficou famoso por reunir a elite da cidade, além de diversas estrelas da TV e da música. Para dar conta de tudo, Maksoud descobriu a estreita relação entre produtividade e gerenciamento de tempo, direcionando energia para as áreas em que fosse atingir mais resultado. “Para viver entre dois mundos, as atividades precisam ter sinergia”, conta. “Tanto na Rapiddo, quanto posteriormente na Uber, meus clientes eram restaurantes. E eu estava abrindo o meu próprio bar. Então passei a entender melhor as necessidades das pessoas para quem eu vendia as soluções. Tudo isso é aprendizado que aplico dentro do meu trabalho na área de vendas.”

Outra atividade que “acumula” há mais de dez anos é a paixão por poker. Como jogador semiprofissional, conquistou cerca de R$ 100 mil em prêmios só em 2019. Se não fosse o novo coronavírus, teria ido ao mundial de Las Vegas (EUA) deste ano. Vendo o jogo como um esporte para a mente, Maksoud acredita que o poker estimula diversos aspectos úteis no ambiente empresarial. “O poker é sobre tomar decisões importantes com informações incompletas, e esse é o dia a dia de trabalho em uma empresa”, compara. “Seja como empreendedor ou funcionário, é preciso ter foco, inteligência emocional e ser capaz de ler o ambiente.”

![Imagens-07](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/3Hk2GihnzKWuFDAw4frl6t/25bfb49f40ee6f8212066157d1c85f02/Imagens-07.png)

## Amanda Graciano, como um canivete suíço

Amanda Graciano tem 29 anos e uma agenda cheia, mas organizada, a ponto de permitir até certa flexibilidade. Dá para dizer o mesmo da sua carreira. Economista por formação com MBA em inovação, ela atua como startup hunter, gestora de aceleração e desenvolvedora de negócios no iDEXO, braço de inovação aberta da TOTVS. Também presta consultoria e dá palestras – além de TEDx speaker, foi eleita LinkedIn Top Voice em 2019. E tem mais: é sócia de três negócios – uma empresa familiar de consultoria, da Indique Uma Mina e da Nassa Design & Inovação. É versatilidade para ruborizar qualquer canivete suíço. “Se não for para acordar com várias coisas para fazer, o dia perde a graça para mim”, afirma.
Mais velha de quatro irmãos, Graciano encontrava abrigo na biblioteca enquanto adolescente. Tinha sede de conhecer diferentes assuntos, e isso colaborou para o seu bom repertório. Os pais foram grandes incentivadores para que ela desenvolvesse os talentos que tinha. Já a visão holística, além da percepção das interações entre assuntos e temas diferentes, ela atribui à formação em economia. “Investir no autoconhecimento também garante que se tire melhor proveito da própria atividade, pois facilita identificar exatamente em quais horários, dias e situações você está mais produtiva e inspirada”, sugere.

Graciano entrou para o mercado de trabalho quando a especificidade era bastante valorizada. Sua multipotencialidade, porém, era uma espécie de carta na manga nas entrevistas de recrutamento. “Não fazia sentido para mim a cobiça das empresas por especialistas em uma única área.” Durante o período na Liga Ventures, quando atuou com a italiana Ferrero, costumava escutar o idioma em reuniões e diálogos com clientes. Isso treinou sua audição e a compreensão de uma língua que nunca tinha estudado. “De repente, em uma apresentação, surpreendi meus colegas ao chamar um convidado ao palco em italiano. Vi que, de fato, tudo o que se aprende é usado pelo nosso cérebro em algum momento.”

Mas ser multi, segundo ela, nem sempre é sinônimo de produtividade. “Ser produtiva para mim é fazer o que precisa ser feito, ter repertório, investir nele, ler e estudar muito.” Quando à tecnologia, Graciano é taxativa: “É fundamental usá-la seu favor, e não se deixar dominar por ela”.

![Imagens-06](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/4enV4IfyP18AhZFykTwxrv/491e2834080d5e028cec1ca4c1e64903/Imagens-06.png)

## Felipe Cerchiari, o retrato de um T-shaped

A Ambev foi o primeiro emprego de Felipe Cerchiari, aos 22 anos. Começou como trainee, passou pela área de vendas, inteligência de mercado, marketing e hoje, 13 anos depois, é executivo de inovação. Mas não apenas. Ele também é fotógrafo profissional, empreendedor e já deu aulas, como professor convidado, em instituições de ensino superior, incluindo Insper, FGV e ESPM. Também escreve uma coluna para o site da HSM Management e da revista MIT Technology Review. Para equilibrar tantas tarefas, ele tem um fio condutor: “O aprendizado de uma (área) enriquece a outra. Quando você gosta do que está fazendo, as atividades vão se complementando”.

Trabalhar com inovação, segundo Cerchiari, é lidar com arte e ciência – ter talento e sensibilidade para encontrar necessidades não atendidas dos consumidores, criando um produto que os encantem. “Tudo conta: a origem, a história, o design, o conteúdo, os influenciadores. Com a fotografia não é muito diferente”, afirma.

Filho de artista plástica, o executivo sempre se identificou com o mundo da criatividade. Começou a viajar e fazer workshops com fotógrafos que admirava. “As fotos de valor não são retratos, mas histórias contadas apenas com imagem. Uso isso no desenvolvimento de produtos.”

A prática da fotografia, que realiza há mais de dez anos, possibilitou conexões que jamais havia imaginado. Depois de viajar com dois fotógrafos da revista National Geographic, Cerchiari percebeu que seus sentidos foram aguçados.
Essa olhar sensível também aflora quando escolhe alguém para trabalhar em seu time na Ambev. Para trabalhar com ele, o candidato precisa ter capacidade de criar, transformar e melhorar a vida das pessoas. “Estou buscando repertório, energia, garra, e os caminhos que as pessoas trilham dizem muito sobre isso. Afinal, não estou contratando horas de trabalho, mas sim conhecimento e habilidade de transformação.”

Quando questionado sobre como é possível conciliar tantas atividades diferentes com a mesma dedicação, a resposta vem rápido. “É ter a paixão pelo que faz”, diz. “As coisas se combinam. Minhas férias na Ambev são viagens fotográficas. Durante a noite eu leio, participo de aulas e lives sobre inovação e crio os projetos dos meus quadros. E enquanto estou criando, tenho ideias de produtos.”

![Imagens-05](//images.ctfassets.net/ucp6tw9r5u7d/0KNVC3t4cshdiAqN69jKT/d3d1ac55cff61edb2aa6a19533edf7dd/Imagens-05.png)

## Suzana Pires, empreendedora de si mesma

Suzana Pires já interpretou diversos papéis na TV. Na vida real não é diferente. A carioca de 44 anos é atriz, escritora, roteirista, produtora e empreendedora – tudo ao mesmo tempo.

Desde a adolescência, Pires sabia que seria artista. Aos 15, fazia aulas de teatro e escrevia por prazer. A carreira de atriz decolou em seguida. Em busca de embasamento teórico e domínio técnico, ingressou na faculdade de filosofia. “A filosofia ensinava a pensar com complexidade e explorava a Grécia Antiga, onde o drama nasceu. Os textos daquela época continuam sendo a base para o trabalho que fazemos hoje”, conta.

Ela chama a atenção para as semelhanças entre a filosofia e a arte. “O filósofo observa o fenômeno humano. O artista também faz isso, e ainda o reproduz”, explica. Nos últimos 23 anos, a artista reproduziu o fenômeno humano intensamente. Na TV Globo, atuou em dez novelas como atriz e escreveu outras três. No teatro, rodou o Brasil com peças de todos os gêneros, inclusive com a obra De perto ela não é normal – que redigiu, produziu
e estrelou.

Mas a carreira T-shaped de Pires vai ainda além: ela também foi colunista de revista Marie Claire, onde nasceu a marca Dona de Si. “Esse era o nome da coluna. Quando vi, já existia um público fiel, que queria ouvir o que eu tinha para dizer. Fui empreendedora de mim mesma a vida toda, e naquele momento não seria diferente”, lembra. Hoje ela escreve para a revista Vogue.

Com a versatilidade de sua idealizadora, é claro que a marca também teria um destino plural. Com seu novo negócio, Pires já lançou linhas de bolsas e roupas femininas, pensadas para todos os perfis de mulheres. Diversidade e inclusão são, há muito tempo, pautas relevantes para a artista. “A minha equipe é totalmente diversa. Não faço isso porque sou boazinha. Faço isso porque é o único jeito de criarmos um caldeirão de ideias e alcançarmos todas as realidades”, defende. O projeto também tem um braço social: o Instituto Dona de Si. “Oferecemos formação qualificada em empreendedorismo, para que todas as mulheres tenham a chance de ser exatamente o que desejarem”, conta. No instituto, ela combina todas as suas experiências para apoiar mulheres que querem dar uma guinada na carreira.

Dar conta de rotinas intensas é uma habilidade dos profissionais multi. Ou, como diz Suzana Pires, daqueles que conseguem “usar todas as suas competências ao mesmo tempo”. Aos olhos da empreendedora, o profissional do futuro precisará ser capaz de estabelecer boas parcerias e bons relacionamentos. “Ninguém sabe fazer tudo. Por isso, é importante construir relações de soma”, conclui.

Compartilhar:

Artigos relacionados

O novo sucesso que os RHs não estão percebendo

As novas gerações estão redefinindo o conceito de sucesso no trabalho, priorizando propósito, bem-estar e flexibilidade, enquanto muitas empresas ainda lutam para se adaptar a essa mudança cultural profunda.

Quem pode mais: o que as eleições têm a nos dizer? 

Exercer a democracia cada vez mais se trata também de se impor na limitação de ideias que não façam sentido para um estado democrático por direito. Precisamos ser mais críticos e tomar cuidado com aquilo que buscamos para nos representar.