Uncategorized

Faça o cisne negro fortalecer você

A especialista em estratégia Solange Mata Machado analisa as lições do livro Antifragile, de Nassim Taleb, autor também de Cisne Negro, e como isso é aplicável às organizações.
Professora da HSM educação executiva

Compartilhar:

Desde que Nassim Taleb disseminou seu conceito de “cisne negro” –eventos impactantes, imprevisíveis e aleatórios– em 2007, temos a impressão de que esse tipo de acontecimento de consequências desastrosas ficou mais frequente. 

Não é só impressão: a cada cisne negro que surge, o mundo fica mais frágil e mais vulnerável ao seguinte; a cada tentativa de reduzir seus efeitos, eles se tornam mais devastadores. E, infelizmente, os cisnes negros continuam a ser explicáveis só quando os vemos pelo retrovisor, como ensinou Taleb.

 No entanto, ele aventurou-se a lançar um novo livro para discutir como se tornar mais resiliente a cisnes negros, intitulado Antifragile. Ousadamente, ele sugere que uma organização pode aprender a melhorar e se fortalecer com a ocorrência de cisnes negros. Seu ponto de partida é a necessidade de entender a incerteza. Há duas abordagens para fazê-lo: analisar o “normal” ou analisar o “anormal” –a maioria dos estudos se concentra no “normal”.

> Uma breve conversa com  Nassim Taleb a HSM management, o especialista em estratégia destaca a fragilidade do Brasil só conseguimos ver os cisnes negros pelo retrovisor mesmo? Há algo que governos e empresas possam fazer para vê-los antes? 
>
> O tempo é um detector de fragilidades, de fato, mas não é o único. As organizações podem, sim, identificar fontes de risco e verificar se existem respostas não lineares para elas. Sugiro que busquem o método que criei para isso, publicado em um paper em colaboração com  o Fundo Monetário Internacional (FMI).
>
> Hoje o Brasil está vivendo muita incerteza  e volatilidade; ele sairá dessa mais antifrágil? O Brasil tem problemas crônicos que  o tornam frágil: 
>
> 1. centralização; 
>
> 2. ilusão de que maior é melhor –projetos em larga escala são perigosos. Além disso, há agora a ameaça do aumento de ingressantes na classe média, querendo mais. Eu responderia que, para ser mais antifrágil, o País precisa dar às pessoas oportunidades para estarem também no topo, e não oferecer apenas algum benefício material.
>
> Há concentrações geográficas de lições de antifragilidade? Sim, por exemplo, no Vale do Silício. Eles nos ensinam a: 
>
> **1.** fracassar logo; 
>
> **2.** ser autoconfiantes; 
>
> **3.** transformar cada problema em crescimento potencial e oportunidade de fazer dinheiro.
>
> Com base na antifragilidade, como serão as melhores companhias no futuro? Serão aquelas que: 
>
> **1.** permanecerão geridas por sócios que têm a perder se a empresa não for bem e sem gestores “profissionais” que gostem de fazer reuniões; 
>
> **2.** terão baixo endividamento;
>
> **3.** apresentarão baixa alavancagem operacional; 
>
> **4.** serão de tamanho médio ou pequeno; nunca muito grandes.

Independentemente da abordagem escolhida, contudo, todos admitem a existência de sistemas que se beneficiam do “anormal”, crescendo e desenvolvendo-se em ambientes voláteis, desordenados e arriscados. 

Trata-se de sistemas caracterizados pela falta de fragilidade ou “unfragility”, termo em inglês utilizado por Taleb. Unfragility, explica ele, significa mais do que ter resiliência; diz respeito a tornar-se melhor no caos. Unfragility é uma característica humana; nossa espécie é melhor executora do que pensadora graças a ela. Para ter unfragility, reduz-se a fragilidade, assim como, para melhorar a saúde, reduzem-se as doenças.

 A unfragility não é mensurável como a fragilidade, mas é detectável por meio da assimetria: sistemas que apresentam mais vantagens do que desvantagens em ocorrências aleatórias são antifrágeis. 

Há três tipos de sistemas: frágeis, robustos e antifrágeis. Um artesão é mais antifrágil do que um pequeno negócio, mas um cantor de rock é mais antifrágil que um artesão. O espectro é relativo. Um sistema político centralizado é frágil, por exemplo.

 Ali os erros são raros, mas, quando acontecem, causam danos irreversíveis. No campo da ciência, a teoria é frágil, o estudo dos fenômenos é robusto e as evidências baseadas em padrões mostram-se antifrágeis.

**Como ser antifrágil** 

Unfragility é uma característica observável em todos os sistemas naturais que sobrevivem ao longo dos anos. São sistemas compostos de pequenos erros, benignos e reversíveis quando identificados rapidamente. 

Operam com base em tentativa e erro e são ricos em informação. Assim como ficar deitado um mês inteiro cria atrofia muscular em nosso corpo, os sistemas se enfraquecem ou morrem na ausência da incerteza. Políticas do tipo comando e controle nas empresas e países protecionistas sabotam a unfragility.

 Processos previsíveis que não permitem erros são extremamente frágeis. Há maneiras de fazer o sistema de sua empresa ser antifrágil, segundo Taleb. E elas contrariam o que faz a maioria das escolas de negócios, que prepara seus alunos para empregarem-se em empresas de sucesso. Profissionais autônomos como consultores são muito mais antifrágeis, aprendendo com os cisnes negros que surgem ao longo de sua jornada. 

Para se tornar antifrágil, é preciso ser, de um lado, extremamente avesso ao risco e, de outro, extremamente amante do risco, em vez de simplesmente adotar riscos moderados que podem resultar em erros maiores. Isso é traduzido por um provérbio em ídiche: “Prepare-se para o pior, pois o melhor pode cuidar de si mesmo”. Em política social, significa proteger os pobres e deixar a classe média exposta ao risco. Muito sucesso só aumenta a fragilidade

Compartilhar:

Artigos relacionados

Reaprender virou a palavra da vez

Reaprender não é um luxo – é sobrevivência. Em um mundo que muda mais rápido do que nossas certezas, quem não reorganiza seus próprios circuitos mentais fica preso ao passado. A neurociência explica por que essa habilidade é a verdadeira vantagem competitiva do futuro.

Lifelong learning
19 de dezembro de 2025
Reaprender não é um luxo - é sobrevivência. Em um mundo que muda mais rápido do que nossas certezas, quem não reorganiza seus próprios circuitos mentais fica preso ao passado. A neurociência explica por que essa habilidade é a verdadeira vantagem competitiva do futuro.

Isabela Corrêa - Cofundadora da People Strat

8 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Inovação & estratégia
18 de dezembro de 2025
Como a presença invisível da IA traz ganhos enormes de eficiência, mas também um risco de confiarmos em sistemas que ainda cometem erros e "alucinações"?

Rodrigo Cerveira - CMO da Vórtx e Cofundador do Strategy Studio

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
17 de dezembro de 2025
Discurso de ownership transfere o peso do sucesso e do fracasso ao colaborador, sem oferecer as condições adequadas de estrutura, escuta e suporte emocional.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional

4 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
16 de dezembro de 2025
A economia prateada deixou de ser nicho e se tornou força estratégica: consumidores 50+ movimentam trilhões e exigem experiências centradas em respeito, confiança e personalização.

Eric Garmes é CEO da Paschoalotto

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
15 de dezembro de 2025
Este artigo traz insights de um estudo global da Sodexo Brasil e fala sobre o poder de engajamento que traz a hospitalidade corporativa e como a falta dela pode impactar financeiramente empresas no mundo todo.

Hamilton Quirino - Vice-presidente de Operações da Sodexo

2 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Inovação & estratégia
12 de dezembro de 2025
Inclusão não é pauta social, é estratégia: entender a neurodiversidade como valor competitivo transforma culturas, impulsiona inovação e constrói empresas mais humanas e sustentáveis.

Marcelo Vitoriano - CEO da Specialisterne Brasil

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
11 de dezembro de 2025
Do status à essência: o luxo silencioso redefine valor, trocando ostentação por experiências que unem sofisticação, calma e significado - uma nova inteligência para marcas em tempos pós-excesso.

Daniel Skowronsky - Cofundador e CEO da NIRIN Branding Company

3 minutos min de leitura
Estratégia
10 de dezembro de 2025
Da Coreia à Inglaterra, da China ao Brasil. Como políticas públicas de design moldam competitividade, inovação e identidade econômica.

Rodrigo Magnago - CEO da RMagnago

17 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
9 de dezembro de 2025
Entre liderança e gestação, uma lição essencial: não existe performance sustentável sem energia. Pausar não é fraqueza, é gestão - e admitir limites pode ser o gesto mais poderoso para cuidar de pessoas e negócios.

Tatiana Pimenta - Fundadora e CEO da Vittude,

3 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
8 de dezembro de 2025
Com custos de saúde corporativa em alta, a telemedicina surge como solução estratégica: reduz sinistralidade, amplia acesso e fortalece o bem-estar, transformando a gestão de benefícios em vantagem competitiva.

Loraine Burgard - Cofundadora da h.ai

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança