ESG
5 min de leitura

Flexibilidade não é um benefício: é cultura

Flexibilidade não é benefício. É a base de uma cultura que transformou nossa startup em um caso real de inclusão sem imposições, onde mulheres prosperam naturalmente.
Gisele Schafhauser, CFO da Versi

Compartilhar:

Fui a primeira funcionária da Versi, quando a empresa estava apenas começando. Quando entrei, éramos dois tocando a operação: eu e um dos fundadores. Não havia estrutura, nem uma estratégia pensada para os perfis de contratação. Mesmo assim, ao longo do tempo, o time foi crescendo — e a presença feminina também. De forma natural, sem imposições ou metas. E foi aí que percebi algo poderoso: quando um ambiente é seguro, a inclusão floresce.

A pauta da inclusão, frequentemente, é tratada como um esforço isolado ou um plano estratégico de marca empregadora. Mas, na prática, o que realmente sustenta equipes saudáveis é a existência de relações de trabalho baseadas na escuta sincera, na confiança e na flexibilidade. Não como benefício, mas como parte da cultura. Essa é a diferença entre permitir e acolher.

Em muitos ambientes corporativos, especialmente em setores historicamente masculinos como a construção civil e o financeiro, em que atuamos, mulheres ainda enfrentam obstáculos invisíveis. E não estou falando apenas de barreiras à ascensão profissional — mas de micro pressões diárias: justificar atrasos, pedir permissão para ir ao médico, explicar por que saiu mais cedo. Em estruturas rígidas, o tempo é vigiado, mas o bem-estar é ignorado.

A flexibilidade, nesse contexto, é revolucionária. Permitir que uma pessoa organize sua rotina com autonomia é uma forma de dizer: “eu confio em você”. E essa confiança, para mulheres que acumulam múltiplos papéis — profissionais, mães, cuidadoras — é determinante. Não só para permanecerem nas empresas, mas para prosperarem nelas.

Falo com conhecimento de causa. Me tornei mãe já ocupando um cargo de liderança. Não tive que brigar por espaço, nem por um plano de retorno. Tive liberdade para decidir como seria esse processo — e, no meio dele, fui reconhecida como sócia. Amamentei minha filha até os dois anos, participei de reuniões com ela no colo, reorganizei agendas e pedi ajuda quando precisei. Em nenhum momento, isso foi visto como fraqueza ou desvio de foco. Foi entendido como parte da vida. Como deveria ser.

A maternidade me transformou. Aprendi a ser mais paciente, a priorizar melhor, a relativizar o que antes parecia urgente. Me tornei uma líder mais empática e madura — habilidades que nenhum curso ou MBA conseguiria desenvolver com tamanha profundidade e rapidez. É por isso que me assusta ver como, ainda hoje, muitas mulheres adiam ou abandonam a maternidade com medo de perder espaço. Empresas que não enxergam esse valor estão perdendo uma potência enorme de desenvolvimento humano.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Quando a IA desafia o ESG: o dilema das lideranças na era algorítmica

A inteligência artificial está reconfigurando decisões empresariais e estruturas de poder. Sem governança estratégica, essa tecnologia pode colidir com os compromissos ambientais, sociais e éticos das organizações. Liderar com consciência é a nova fronteira da sustentabilidade corporativa.

ESG
Adotar o 'Best Before' no Brasil pode reduzir o desperdício de alimentos, mas demanda conscientização e mudanças na cadeia logística para funcionar

Lucas Infante

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
No SXSW 2025, a robótica ganhou destaque como tecnologia transformadora, com aplicações que vão da saúde e criatividade à exploração espacial, mas ainda enfrenta desafios de escalabilidade e adaptação ao mundo real.

Renate Fuchs

6 min de leitura
Inovação
No SXSW 2025, Flavio Pripas, General Partner da Staged Ventures, reflete sobre IA como ferramenta para conexões humanas, inovação responsável e um futuro de abundância tecnológica.

Flávio Pripas

5 min de leitura
ESG
Home office + algoritmos = epidemia de solidão? Pesquisa Hibou revela que 57% dos brasileiros produzem mais em times multidisciplinares - no SXSW, Harvard e Deloitte apontam o caminho: reconexão intencional (5-3-1) e curiosidade vulnerável como antídotos para a atrofia social pós-Covid

Ligia Mello

6 min de leitura
Empreendedorismo
Em um mundo de incertezas, os conselhos de administração precisam ser estratégicos, transparentes e ágeis, atuando em parceria com CEOs para enfrentar desafios como ESG, governança de dados e dilemas éticos da IA

Sérgio Simões

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Os cuidados necessários para o uso de IA vão muito além de dados e cada vez mais iremos precisar entender o real uso destas ferramentas para nos ajudar, e não dificultar nossa vida.

Eduardo Freire

7 min de leitura
Liderança
A Inteligência Artificial está transformando o mercado de trabalho, mas em vez de substituir humanos, deve ser vista como uma aliada que amplia competências e libera tempo para atividades criativas e estratégicas, valorizando a inteligência única do ser humano.

Jussara Dutra

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
A história familiar molda silenciosamente as decisões dos líderes, influenciando desde a comunicação até a gestão de conflitos. Reconhecer esses padrões é essencial para criar lideranças mais conscientes e organizações mais saudáveis.

Vanda Lohn

5 min de leitura
Empreendedorismo
Afinal, o SXSW é um evento de quem vai, mas também de quem se permite aprender com ele de qualquer lugar do mundo – e, mais importante, transformar esses insights em ações que realmente façam sentido aqui no Brasil.

Dilma Campos

6 min de leitura
Uncategorized
O futuro das experiências de marca está na fusão entre nostalgia e inovação: 78% dos brasileiros têm memórias afetivas com campanhas (Bombril, Parmalat, Coca-Cola), mas resistem à IA (62% desconfiam) - o desafio é equilibrar personalização tecnológica com emoções coletivas que criam laços duradouros

Dilma Campos

7 min de leitura