O presidente da Western Union, empresa de entregas a cavalo, disse em 1876: “O telefone é complicado demais para se tornar de fato um meio de comunicação”. Era uma época em que as cidades cresciam muito e o transporte era baseado em tração animal. Os urbanistas que pesquisavam fraldas para resolver tanto cocô foram “atropelados” pelo surgimento dos carros.
A falta de visão de futuro é algo muito comum, e costumo chamá-la de “fraldas de cavalos”. Para evitar o surgimento de novas fraldas, ou que aquele unicórnio não nasça porque a ideia parece maluca demais, reuni 25 afirmações e boas práticas que auxiliam a ver novas alternativas para o futuro. Para o Brasil, elas são particularmente estratégicas: novas economias e a colaboração podem ser a solução para muitos de nossos imensos desafios.
__01. EVITE “FRALDAS DE CAVALO”.__ O que você está desenvolvendo ou investindo pode perder o sentido em breve? Tudo fica obsoleto mais rápido com as mudanças exponenciais.
__02. QUANDO TUDO MUDA, O QUE NÃO MUDA?__ Não mudam as profissões e os negócios ligados ao “cuidar”, em todas as suas variáveis. Vantagem adicional: consumir tem limites, mas o cuidar pode ser ilimitado.
__03. ALFABETIZAÇÃO EM FUTUROS.__ Não podemos mais nos orientar pelo passado, seja nos estudos ou na interpretação de contextos.
__04. O PASSADO NÃO É REFERÊNCIA SEGURA PARA O FUTURO.__ Um erro frequente: velhas ferramentas para novos cenários. Precisamos de métodos e sistemas diferentes dos habituais.
__05. TRABALHE COM QUEM VÊ O QUE VOCÊ NÃO VÊ.__ Sim, se relacione com quem é diferente. O desconforto vale a pena: um vê os pontos cegos do outro.
__06. “O FUTURO É FRUTO DOS SONHOS DO PASSADO E DAS ESCOLHAS DO PRESENTE”.__ Visões de futuro cocriadas são fortes elementos agregadores, pois revelam necessidades atuais e oportunidades futuras. Amplie o foco para futuros ligados ao sociocultural, que são estratégicos, porém mais difíceis de ser imaginados.
__07. DESENVOLVA A PERCEPÇÃO DE SER PARTE DE UM CONJUNTO MAIOR.__ Não nos percebemos como células de um corpo maior, interdependente. Esse desafio leva à criação de profissões, produtos e serviços que desenvolvam empatia, percepção integral, capacidade de síntese, alteridade, corresponsabilidade. A inteligência artificial será essencial para aumentar a inteligência humana.
__08. A MAIOR TRANSIÇÃO DA HISTÓRIA.__ A desmaterialização do mundo digital (fora do tempo e espaço) trouxe a exponencialidade como dinâmica em alcance, velocidade e intensidade. É preciso aprimorar a capacidade de perceber e se ajustar, internamente (cuidados) e externamente (dados e sua interpretação).
__09. USE A FORÇA DA MUDANÇA A SEU FAVOR.__ Estamos em crise devido a nossa capacidade linear de lidar com as dinâmicas exponenciais do digital. Compreenda essa transição e aproveite, pois nesses momentos surgem novas profissões e negócios. E lembre-se: serão ideias improváveis. Se não for um pouco estranho, não serve para o futuro.
__10. VISUALIZAÇÃO DE DADOS EM FLUXO.__ Se só a IA conhecer os dados e suas conexões, podemos ter dependência digital ou EH: estupidez humana. Os dados devem ser exibidos graficamente e com fluxo no tempo e espaço para facilitar sua interpretação. Enorme oportunidade para desenvolvimento de profissões e negócios.
__11. DO INCREMENTAL AO DISRUPTIVO.__ Há momentos em que é suficiente ajustar e otimizar, mas a etapa evolutiva atual exige incorporar o disruptivo ao design de produtos e serviços. E diversificar investimentos, priorizando os de risco e alternativos.
__12. INVISTA no IMPROVÁVEL, MAS DESEJÁVEL.__ O desejo do coletivo é tão potente que faz com que o improvável seja possível. Há muitos futuros possíveis, porém improváveis, e neles residem os novos unicórnios.
__13. EQUILIBRE CONSERVAR E INOVAR.__ Receita “Luiza Trajano”: veja o que deve ser conservado, o que deve ser eliminado e o que deve ser mudado. Incluo outro: descubra pontos cegos (evitados pois causam estranhamento) e pense: o que deve ser criado?
__14. MUDANÇA DE MODELO ECONÔMICO: APROVEITE.__ Quando o padrão de rede (conexões e fluxo de bens, informações, pessoas, serviços) muda, macromudanças são inevitáveis. O digital mudou tudo, e essa mudança econômica já está em curso: atente-se a ela.
__15. MUDANÇA DE MODELO POLÍTICO: FOMENTE.__ É uma questão fisiológica: o grau de inovação, agilidade e alcance necessários para dar conta do século 21 demanda novas estruturas de tomada de decisão, arcabouço jurídico-tributário e arranjos territoriais. Os “comos” representam oportunidades para, por exemplo, tecnologias para democracia digital direta.
__16. CHAVE DO EXPONENCIAL: CONVERGÊNCIA.__ “Só a convergência gera potência” é uma máxima da Fluxonomia. Oportunidade para mudanças de mindset e de estrutura organizacional rumo à colaboração.
__17. NOVOS UNICÓRNIOS: GIGANTES DA COLABORAÇÃO.__ Na crise de 2008 surgiram gigantes da tecnologia que convergiram dados (Google, Facebook), excedentes de infraestrutura (Uber, Airbnb) e mercados (Amazon, Mercado Livre). A crise de 2020 fará surgir os gigantes da colaboração, capazes de convergir tempo, excedentes, habilidades e parceiros.
__18. OPERE COMO ECOSSISTEMA.__ Organizações inspiradas em sistemas vivos, que operam com colaboração entre as partes, com mecanismos compartilhados de percepção (dados), regulamentação (normas) e alimentação (recursos). O desafio está no item 7: não nos percebemos partes de um organismo.
__19. EVITE POLARIZAÇÕES:__ o “OU” vira “E”. Uma das chaves para o salto evolutivo está em notar o “diferente” como complemento e não como oposto. Culturas orientais têm isso incorporado (e simbolizado no ying-yang), por isso têm maior habilidade em operar como ecossistemas (vide o sucesso da China). Oportunidade para quem nos preparar para a complementaridade.
__20. INTEGRE A “PRAÇA” E A “TORRE”.__ Niall Ferguson descreveu duas estruturas, uma centralizada, com função de coordenação e foco em dados (torres), e outra distribuída, com função de implementação e foco em interações (praças). Exemplo: a internet é “praça”, o Google é “torre”. A história é uma alternância de poder entre elas; o equilíbrio virá quando sairmos de uma abordagem “OU” e passamos para uma “E”, e no futuro teremos profissões, negócios e tecnologias para apoiar isso.
__21. CIRCULE RECURSOS ALÉM DO MONETÁRIO.__ Se economia é circulação de recursos que produzem riqueza e qualidade de vida, metade dela ainda não está acessada: são os multicapitais, que incluem as dimensões cultural, ambiental e social (recursos 4D). Dada a crise econômica, tudo o que contribui para identificar, precificar e circular esses recursos é urgentemente necessário.
__22. TRADICIONAL + COMPLEMENTAR.__ Bernard Lietaer revelou que uma economia saudável opera com a equação “economia tradicional + economias complementares”. Oportunidade para a criação de infraestruturas e ferramentas para circular excedentes, permutas multilaterais, multicapitais 4D, tempo.
__23. INOVE MARKETPLACES E MEIOS DE PAGAMENTO.__ A demanda acima precisa de uma nova geração de marketplaces, com meios de pagamento capazes de converter e operar tipos diferentes de moedas.
__24. INCORPORE NOVAS ECONOMIAS.__ Novas economias são novas dinâmicas de geração de valor. Na economia criativa, o valor é definido pelo “como” se faz (atributos, propósitos). Na compartilhada, o “possuir” dá lugar ao “usar”, e a economia colaborativa ganha escala pela gestão em redes coordenadas e capazes de convergir. A economia multivalores gera valor pelo uso de recursos além do monetário. E principalmente por produzir resultados além do monetário.
__25. VISÃO EM 4D: RESULTADOS (ESG +C).__ Sobreviverá quem gerar (e comunicar) resultados além do quantitativo e do monetário. Pergunte-se: “O que faço também otimiza e gera impacto positivo cultural, ambiental e social?”. Tanto no tripé da sustentabilidade quanto no ESG, falta a dimensão cultural, que alguns colocam, com propriedade, como ODS Zero: a evolução de mindset e consciência é base para que todo o resto possa acontecer.
não menospreze essa onda da transição; Surfe nela. A prancha para isso está na soma de futuring, novas economias e colaboração, algo que aprofundamos na Fluxonomia 4D.
Comida no prato
por Fabricio Bloisi
Equilibrar produção e consumo com os recursos naturais disponíveis
O futuro começa quando começamos a pensar grande, a sonhar com um alto impacto positivo sobre a sociedade, a economia e o desenvolvimento do país. E isso passa necessariamente pela inovação, por transformações capazes de mudar vidas. Acredito que, no futuro próximo, as empresas vão assumir um papel que transcende a gestão de seus negócios e passarão a resolver também problemas da sociedade e de urgência global. Para isso, o investimento em P&D (pesquisa e desenvolvimento) será ainda mais essencial.
Nas próximas duas décadas, vamos assistir à escalada da inovação para o benefício da humanidade. As empresas contribuirão ativamente para fazer da tecnologia uma alavanca de soluções em grande escala e que promovam um futuro mais promissor para o Brasil e para o mundo.
Em 2050, a população mundial deve chegar a 9,7 bilhões de pessoas, segundo a ONU. Um dos grandes desafios nesse cenário será viver de forma sustentável em um planeta com 2 bilhões de pessoas a mais, o que nos faz repensar nossos hábitos, negócios e missão desde já. A começar pela mesa dos brasileiros, com compromissos para garantir segurança alimentar a todos.
E como fazer isso? Alçando o País a um novo patamar de produção e consumo, alinhado com os recursos naturais disponíveis – tal como definido pela ONU nos ODS (objetivos de desenvolvimento sustentável). Até 2030, a meta é reduzir à metade o atual desperdício per capita de alimentos, o que significa diminuir a perda de alimentos ao longo de toda a cadeia de produção e de abastecimento – do campo à mesa.
Não por acaso, alimentar o futuro do mundo é nossa missão aqui no iFood, o que na prática se traduz em garantir acesso à alimentação de qualidade e mais barata para toda a população. Sem dúvida, um círculo virtuoso e com o poder de combater a fome e o desperdício, além de contribuir para baixar a inflação no País no médio prazo.
A redução das desigualdades e a criação de mais oportunidades para todos via tecnologia – especialmente com a democratização do acesso à educação e ao empreendedorismo – contribuirão para uma economia forte e que cresce. Mais do que nunca, temos de discutir caminhos para a economia e como a tecnologia pode contribuir para gerar e distribuir riquezas para os brasileiros.
Outro aspecto fundamental para que o sonho se torne realidade é alçar o Brasil à condição de líder global em meio ambiente, com as organizações investindo em ações efetivas não só para reduzir o impacto de suas operações, mas também regenerar. Nesse sentido, no ano passado, o iFood assumiu publicamente o compromisso de, até 2025, zerar a poluição plástica em suas operações de delivery, neutralizar a emissão de carbono e garantir que 50% das entregas sejam feitas por modais não poluentes.
Somos todos protagonistas dessa revolução. O novo mundo, em permanente construção, exige de nós inovação, agilidade, colaboração e criatividade. Isso beneficiará não somente as empresas e os trabalhadores como a sociedade e a economia, que ganharão com relações cada vez mais sustentáveis e dignas.