Gestão de Pessoas

Fui! Recorde nos pedidos de demissão acende um alerta

Onda de demissões nos Estados Unidos inaugura mais uma frente de demanda e de novos hábitos nas relações de trabalho, sinalizando um alerta global para mudanças dentro da empresas
Jornalista, com MBA em Recursos Humanos, acumula mais de 20 anos de experiência profissional. Trabalhou na Editora Abril por 15 anos, nas revistas Exame, Você S/A e Você RH. Ingressou no Great Place to Work em 2016 e, desde Janeiro de 2023 faz parte do Ecossistema Great People, parceiro do GPTW no Brasil, como diretora de Conteúdo e Relações Institucionais. Faz palestras em todo o País, traçando análises históricas e tendências sobre a evolução nas relações de trabalho e seu impacto na gestão de pessoas. Autora dos livros: *Grandes líderes de lessoas*, *25 anos de história da gestão de pessoas* e *Negócios nas melhores empresas para trabalhar*, já visitou mais de 200 empresas analisando ambientes de trabalho.

Compartilhar:

Falta gente e sobra vaga. Esse é o resumo do mercado de trabalho norte-americano no final de 2021 e início deste ano. Segundo dados do Bureau of Labor Statistics divulgados no último dia 7 de dezembro, os empregos disponíveis nos Estados Unidos subiram “inesperadamente” para 11 milhões, superando as previsões dos economistas que já apontavam para um crescimento agressivo de 10,4 milhões.

Curiosamente, ao mesmo tempo, o país vem registrando mês a mês recordes no número de pedidos de demissão. Só em setembro do ano passado, 4,5 milhões de pessoas pediram para sair de seus empregos. Esse fato está impossibilitando as empresas de fechar essa conta.

Chamado de “grande debandada” ou “grande demissão”, o movimento que marca o recorde de fuga de trabalhadores dos Estados Unidos, tem apavorado líderes, organizações e até a economia, trazendo mais um capítulo nas relações de trabalho e forçando um novo comportamento corporativo.

Um [relatório elaborado pelo Goldman Sachs](https://www.gspublishing.com/content/research/en/reports/2021/11/12/4f72d573-c573-4c4b-8812-1d32ce3b973e.html “Goldman Sachs: relatório sobre demissões nos EUA “) apontou que a falta de trabalhadores nos Estados Unidos pode ser um “fenômeno de longo prazo e representar uma ameaça ao crescimento da economia americana”.

## Demissões e antigas relações de trabalho

A nova realidade acende uma luz vermelha para empresas que mantêm o manual de gestão da era industrial e acreditam que a relação comando e controle ainda faz sentido atualmente.

Se isso parece antiquado, acredite: há ainda muitas organizações que olham para seus funcionários como meros recursos que devem seguir horários rígidos e controles de pontos e [desempenho profissional além dos limites](https://www.revistahsm.com.br/post/essa-tal-produtividade-no-trabalho “Produtividade e desempenho profissional “).

Uma dessas empresas, por exemplo, aqui no Brasil, tem distribuído cestas de Natal apenas para os funcionários que estão operando no modelo presencial. Para os que permanecem no mundo remoto, nadica de nada.

Outra empresa, a Better.com, ganhou repercussão global ao demitir cerca de 900 funcionários por Zoom em dezembro. E você pode estar se perguntando: “como pode uma empresa fazer esse tipo de coisa no século 21, num mundo que vem passando por uma pandemia dessa proporção?”. A resposta é simples, mas difícil de ler: porque havia trabalhadores dispostos a manter esse tipo de relação.

### Novos hábitos sinalizam mudanças nas relações trabalhistas

O que o movimento nos Estados Unidos nos revela é que muitos desses trabalhadores perceberam, justamente por[ experimentar uma nova vida durante a pandemia](https://www.revistahsm.com.br/post/novas-tribos-do-mercado-de-trabalho-e-desafios-da-gestao-de-pessoas “Trabalho: mudanças provocadas pela pandemia “), que a relação com o trabalho pode ser diferente. Aliás, muito diferente.

Segundo o relatório do Goldman Sachs, as preferências e estilos de vida de alguns trabalhadores podem ter mudado depois de um ano e meio fora da força de trabalho e uma boa parte deles prefere se manter assim no lugar de assumir antigos vínculos empregatícios.

Histórias relatadas na plataforma Antiwork Movement (Movimento Antitrabalho), que cresceu mais de dez vezes após a pandemia, reforçam essa análise. O caso mais emblemático tem sido o da Kellogg’s que enfrentou uma greve já de dois meses de 1.400 funcionários.

A Kellogg’s ofereceu aumento de 3%, que foi negado pelos representantes do sindicato. Por quê? [Porque eles não querem só comida](https://www.revistahsm.com.br/post/reconhecimento-como-motor-do-engajamento-nas-empresas “Reconhecimento profissional “), como já diziam os Titãs, no final da década de 1980. Eles querem comida, diversão e arte.

### A insatisfação com o emprego não é só local e geracional

O importante desse movimento é que ele não está rotulado a uma geração. Não, isso [não é coisa de millenials ou da geração Z](https://www.revistahsm.com.br/post/movimento-yolo-o-que-podemos-enfrentar-daqui-para-frente “Movimento YOLO: satisfação no trabalho”). Os pedidos de demissão vêm dos funcionários que executam trabalhos mais operacionais aos profissionais administrativos. O movimento integra pessoas jovens e mais experientes. Em comum, eles nutrem uma insatisfação com o status quo, com seus salários e um desejo de mudar sua rotina, especialmente na quantidade de horas dedicadas ao trabalho.

No Reino Unido, que também vem registrando elevados pedidos de demissão. No terceiro trimestre de 2021, quase 400 mil britânicos mudaram de emprego; um décimo dos trabalhadores do território britânico afirma que gostaria de ter um emprego com expediente mais curto e menor salário.

Embora o movimento esteja concentrado nos Estados Unidos e Reino Unido, ele serve sim de alerta para outros países, como o Brasil, que têm altas taxas de desemprego – especialmente quando falamos de atividades mais estratégicas e menos operacionais.

## Remotização: fuga e emigração de talentos

Diante desse cenário, podemos engordar as estatísticas de [fuga de talentos de nossas empresas](https://www.mitsloanreview.com.br/post/remotizacao-e-a-emigracao-de-talentos-do-brasil “Remotização e fuga de talentos do Brasil”) se não mudarmos algumas atitudes, comportamentos e práticas (a de doar cestas de Natal apenas para uma parcela do time, por exemplo, ou a de controlar seus funcionários numa sala de Zoom).

A pandemia gerou em muitos uma reflexão sobre o significado do trabalho. Trabalhamos para pagar as contas sim, mas também para nos realizarmos e porque, acima de tudo, faz sentido.

Se esse tripé (salário + realização + propósito) não estiver equilibrado, alguém vai pagar um preço alto. Por muito tempo, foi o trabalhador. Pode ser que daqui para frente seja a empresa.

*Gostou do artigo do Daniela Diniz? Confira outros conteúdos sobre gestão de pessoas assinando gratuitamente [nossas newsletters](https://www.revistahsm.com.br/newsletter “Newsletter da HSM Management “) e escutando [nossos podcasts](https://www.revistahsm.com.br/podcasts “Podcast da HSM Management “) em sua plataforma de streaming favorita.*

Compartilhar:

Artigos relacionados

Os 5 maiores mitos sobre IA no RH – e o que realmente importa

Em meio aos mitos sobre IA no RH, empresas que proíbem seu uso enfrentam um paradoxo: funcionários já utilizam ferramentas como ChatGPT por conta própria. Casos práticos mostram que, quando bem implementada, a tecnologia revoluciona desde o onboarding até a gestão de performance.

A IA está no meio de nós

A Inteligência Artificial, impulsionada pelo uso massivo e acessível, avança exponencialmente, destacando-se como uma ferramenta inclusiva e transformadora para o futuro da gestão de pessoas e dos negócios

Paradoxos da liderança

Ao promover autonomia e resultados, líderes se fortalecem, reduzindo estresse e superando o paternalismo para desenvolver equipes mais alinhadas, realizadas e eficazes.

Intergeracionalidade: Transformando Diversidade Geracional em Vantagem Competitiva

No ambiente corporativo atual, integrar diferentes gerações dentro de uma organização pode ser o diferencial estratégico que define o sucesso. A diversidade de experiências, perspectivas e habilidades entre gerações não apenas enriquece a cultura organizacional, mas também impulsiona inovação e crescimento sustentável.

Tecnologias exponenciais
Em meio aos mitos sobre IA no RH, empresas que proíbem seu uso enfrentam um paradoxo: funcionários já utilizam ferramentas como ChatGPT por conta própria. Casos práticos mostram que, quando bem implementada, a tecnologia revoluciona desde o onboarding até a gestão de performance.

Harold Schultz

3 min de leitura
Gestão de Pessoas
Diferente da avaliação anual tradicional, o modelo de feedback contínuo permite um fluxo constante de comunicação entre líderes e colaboradores, fortalecendo o aprendizado, o alinhamento de metas e a resposta rápida a mudanças.

Maria Augusta Orofino

3 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A Inteligência Artificial, impulsionada pelo uso massivo e acessível, avança exponencialmente, destacando-se como uma ferramenta inclusiva e transformadora para o futuro da gestão de pessoas e dos negócios

Marcelo Nóbrega

4 min de leitura
Liderança
Ao promover autonomia e resultados, líderes se fortalecem, reduzindo estresse e superando o paternalismo para desenvolver equipes mais alinhadas, realizadas e eficazes.

Rubens Pimentel

3 min de leitura
Empreendedorismo, Diversidade, Uncategorized
A entrega do Communiqué pelo W20 destaca o compromisso global com a igualdade de gênero, enfatizando a valorização e o fortalecimento da Economia do Cuidado para promover uma sociedade mais justa e produtiva para as mulheres em todo o mundo

Ana Fontes

3 min de leitura
Diversidade
No ambiente corporativo atual, integrar diferentes gerações dentro de uma organização pode ser o diferencial estratégico que define o sucesso. A diversidade de experiências, perspectivas e habilidades entre gerações não apenas enriquece a cultura organizacional, mas também impulsiona inovação e crescimento sustentável.

Marcelo Murilo

21 min de leitura
Finanças
Casos de fraude contábil na Enron e Americanas S.A. revelam falhas em governança corporativa e controles internos, destacando a importância de transparência e auditorias eficazes para a integridade empresarial

Marco Milani

3 min de leitura
Liderança
Valorizar o bem-estar e a saúde emocional dos colaboradores é essencial para um ambiente de trabalho saudável e para impulsionar resultados sólidos, com lideranças empáticas e conectadas sendo fundamentais para o crescimento sustentável das empresas.

Ana Letícia Caressato

6 min de leitura
Empreendedorismo
A agência dos agentes em sistemas complexos atua como força motriz na transformação organizacional, conectando indivíduos, tecnologias e ambientes em arranjos dinâmicos que moldam as interações sociais e catalisam mudanças de forma inovadora e colaborativa.

Manoel Pimentel

3 min de leitura
Liderança
Ascender ao C-level exige mais que habilidades técnicas: é preciso visão estratégica, resiliência, uma rede de relacionamentos sólida e comunicação eficaz para inspirar equipes e enfrentar os desafios de liderança com sucesso.

Claudia Elisa Soares

6 min de leitura