Estratégia e Execução

Gamificação nas organizações: ferramenta para o trabalho híbrido

A aplicação da lógica e da mecânica dos jogos no trabalho híbrido aumenta o engajamento dos participantes e ajuda a tornar as atividades mais leves e lúdicas, além de ser uma forma de incentivo para o colaborador ir ao escritório

Mário Verdi

Mário Verdi é CEO da Deskbee, plataforma multifunção de gestão do workplace....

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Desde que o modelo híbrido de trabalho começou a se popularizar em todo o mundo, empresas de diversos portes e segmentos vêm criando mecanismos para promover e organizar a ida dos colaboradores ao escritório. Depois do entendimento de que os próprios espaços físicos das companhias precisavam mudar – afinal, a função do escritório, no modelo híbrido, não é a mesma exercida no modelo presencial -, começa agora a ganhar espaço uma lógica de gamificação, oferecendo vantagens e benefícios atrelados à ida ao escritório. E talvez esteja na hora de lideranças e gestores mais conservadores reverem seus conceitos a respeito da conexão entre games e o mundo corporativo.

Há pelo menos três diferentes formatos de adoção do híbrido: totalmente flexível (em que o colaborador escolhe quando e quantas vezes irá ao escritório), restrito (em que a organização define um mínimo de dias por semana ou por mês que precisam ser trabalhados presencialmente), e planejado (em que a empresa decide em quais dias da semana ou do mês cada colaborador deverá comparecer ao escritório). Ainda durante o processo de abrandamento da pandemia, a maioria das companhias optou pelo modelo flexível; e algo interessante ocorreu: de modo geral, os escritórios permaneciam praticamente vazios nas segundas e sextas-feiras – a maioria das pessoas preferia trabalhar presencialmente nas quartas e quintas, deixando a terça como um dia com média ocupação.

Interessadas em “distribuir” melhor a ocupação em seus prédios e salas, muitas empresas passaram a “premiar” os funcionários que frequentam os escritórios nas segundas e sextas-feiras, por exemplo: com apoio de tecnologias de reserva de mesas e de check-in, as idas ao espaço físico da companhia passaram a valer pontos que podem ser trocados por prêmios – e, claro, os check-ins feitos nos dias de menor ocupação valem mais pontos. Na nossa plataforma, lançamos recentemente o “check-in premiado”, em que, a cada mês, um usuário do aplicativo será escolhido para ganhar um presente surpresa ao fazer o check-in em sua mesa ou sala de reunião. A Cielo, nossa cliente, iniciou um teste para pontuação relacionada ao uso do escritório; em que os colaboradores terão acesso a um portal de prêmios que podem ser trocados por pontos acumulados com os check ins realizados.

A lógica é parecida com as dos sistemas de milhas das companhias aéreas; uma forma já tradicional da chamada gamificação: o termo, que vem da palavra inglesa “game” (jogo, na tradução) diz respeito justamente à aplicação da lógica e mecânica dos jogos em tarefas rotineiras; o que aumenta o engajamento dos participantes – e ajuda a tornar determinadas atividades mais leves e lúdicas.

Ainda na nossa plataforma, há outro exemplo de funcionalidade que usa uma abordagem divertida para solucionar uma questão do dia a dia: é o BeeCall, uma espécie de “escritório virtual”, comum a todos os colaboradores da empresa, que pode ser acessado de qualquer lugar, incorporando o conceito do anywhere office. Inspirado em duas tecnologias de uso gratuito, o Gather e o Discord, o módulo disponibiliza salas de conexão instantânea a partir da planta virtual do escritório, possibilitando entrar em uma sala de áudio com apenas um clique, e então falar com qualquer um que estiver por lá.

A ideia é reproduzir no ambiente virtual a espontaneidade de simplesmente caminhar até a mesa de um colega para conversar, por exemplo. Um manager que acabou se afastando de seu time em função do sistema híbrido pode, digamos, criar uma rotina de “estar” em uma das salas virtuais durante todo o dia em determinado dia da semana, para conversar com qualquer pessoa da equipe que decidir aparecer por lá. E a parte lúdica se dá nas plantas virtuais, que podem ser personalizadas e estilizadas para reproduzir qualquer ambiente ou “mapa” desejado – assim, uma reunião pode ser realizada no bar temático favorito da equipe, por exemplo; ou então em um cenário de um dos filmes ou livros preferidos dos funcionários.

E por que não? Se hoje algumas lideranças ainda estranham a ideia de juntar jogos e trabalho, basta lembrar que, até 2019, muitas organizações sequer cogitavam a ideia de adotar o modelo híbrido – e, hoje, poucos anos depois, esse sistema de trabalho já está bastante consolidado; com muitos profissionais mantendo seus níveis de produtividade, e se dizendo muito mais satisfeitos do que eram com o modelo exclusivamente presencial.

Por mais que, no Brasil, o trabalho tenha um grande aspecto social (já que ir ao escritório significa ver amigos, almoçar em turma, pegar um happy hour no final do dia), cada vez menos profissionais se sentem confortáveis com a perspectiva de ir ao escritório todos os dias – uma vez que trabalhar de casa também oferece diversas vantagens; incluindo a economia de tempo antes gasto em deslocamentos, e a possibilidade de se dedicar mais à família e aos filhos. Combinar as duas coisas se prova, cada vez mais, ideal.

Empresas que quiserem manter talentos e se preparar para o futuro do mercado corporativo precisam deixar de lado velhos preconceitos e se adaptar às novas dinâmicas. A gamificação aplicada ao trabalho híbrido é mais um exemplo; que, além de tornar a experiência do colaborador mais leve e divertida, usa uma lógica positiva de incentivo: o objetivo não é punir quem não vai ao escritório – e sim recompensar quem vai.

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