Diversidade

Geração Covid é a juventude potência

Por que falar de juventudes é falar sobre o desenvolvimento do Brasil?
Carolina Utimura é CEO da Eureca.

Compartilhar:

É muito bizarro pensar que o que estamos vivendo agora se tornará tema de livros didáticos nas escolas em um futuro breve. Será uma história muito dura de se contar, sem dúvida. Sabemos como a pandemia começou, mas ainda podemos reescrever o final desse difícil capítulo.

Além de toda a crise sanitária que vivemos, a Covid-19 escancarou a fragilidade estrutural que o nosso país vive e as dores na economia. Entretanto, uma parcela relevante da população já sente consequências profundas hoje e lidará com desafios ainda maiores no amanhã: [as juventudes](https://www.revistahsm.com.br/post/por-que-acreditar-na-juventude).

É natural que quando pensamos no jovem, lembramos daquele sobrinho que não quer ir para a escola e fica o dia todo no celular. Porém, ser jovem no Brasil é muito mais do que isso. Hoje, segundo o IBGE, temos 51,3 milhões de brasileiros entre 15 e 29 anos, o equivalente a 25% do país. Esse volume é igual a toda a população da Argentina e cinco vezes a de Portugal. O jovem brasileiro pode ter o potencial de toda uma nação.

Potencial, mas não potência. Provavelmente, você deve ter ouvido o termo “geração nem-nem”, os jovens que nem estudam e nem trabalham. Em 2019, havia 28,6% de nem-nem entre 20 e 24 anos; em 2020, são 35,2%. Nos jovens entre 25 e 29, a população de nem-nem subiu de 25,5% para 33%, aponta O Globo.

Eu não gosto desse termo nem-nem, ele passa a falsa sensação de simples falta de vontade desses jovens. Porém, quando olhamos as causas desse dado, vemos problemáticas sistêmicas como: a fragilidade da estrutura familiar (econômica e social), a falta de acesso à educação de qualidade, a desigualdade de gênero e a informalidade dos trabalhos (IBGE).

## Corrida contra o tempo
E por que isso é tão sério para o futuro do Brasil? Atualmente, vivemos o efeito “bônus demográfico” – quando a parcela da população economicamente ativa é proporcionalmente superior à população inativa. Vivemos esse fenômeno junto de outros 58 países, sendo que 89% deles são classificados como “em desenvolvimento” (OIT).

Países como China, Coreia do Sul, Japão e Cingapura viveram esse fenômeno na década de 1960, realizando altos investimentos em educação acessível e de qualidade, conectada às necessidades da força de trabalho, e políticas de geração de emprego para essa população. Hoje, observamos nesses países economias bem consolidadas e ampla expansão do PIB per capita.

Claro, há grandes diferenças se compararmos as características do Brasil com as desses países. Contudo, um dado assusta: nosso bônus demográfico tem duração prevista até 2035. Depois, o país começará a envelhecer aceleradamente – as perspectivas do IBGE indicam que, em 2060, teremos 1 em casa 4 brasileiros com 65 anos ou mais.

Com certeza, precisamos de políticas para entender nosso modelo de previdência e alongar a vida útil, de forma saudável, dos trabalhadores mais velhos. Porém, segundo o Banco Mundial, cuidar da qualidade da nova força de trabalho que entra agora no mercado é crucial para o nosso desenvolvimento socioeconômico.

Além disso, todo o agravamento causado pela atual crise nos expõe à realidade de demissões dos mais jovens (que normalmente os empregadores enxergam mais risco pela menor experiência e estão mais presentes na informalidade). Isso provoca a diminuição de suas rendas e força a evasão escolar, pois precisam buscar um novo trabalho, por entrar na informalidade ou para pagar a mensalidade da faculdade ou de um curso.

Abre-se, então, a tese de que possamos passar pelo “[efeito cicatriz](https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/10/descolamento-do-desemprego-dos-jovens-bate-recorde.shtml)”. Elaborado por Lisa Kahn, ex-conselheira do presidente Obama, o termo demonstra que pessoas cuja formação acadêmica aconteceu no auge de crise econômica tiveram consistentes perdas de renda em sua vida em comparação àqueles que se formaram em anos de expansão.

## Juventude potência
Ao olhamos as juventudes brasileiras, podemos ver homens e mulheres, uma alta taxa de negros, uma grande concentração de jovens pertencentes às baixas faixas de renda e uma forte veia empreendedora. São portas que não estão se abrindo, mas um [delta de resiliência e persistência](https://www.revistahsm.com.br/post/a-angustia-dos-jovens-na-escolha-profissional) muito grande daqueles que vêm de meios muito menos privilegiados.

Por isso, gosto do termo que GOYN utilizou para ressignificar o “nem-nem”: jovem potência. Segundo eles, esses são jovens que “possuem capacidade para se desenvolver, mas não conseguem acessar boas oportunidades que melhorem sua qualidade de vida e o desenvolvimento de sua comunidade. Existem sonhos, porém, pouca escuta ativa para torná-los factíveis frente à dura realidade que as juventudes enfrentam”.

Aqui está a página que podemos escrever desse capítulo dos livros de história: entender que todo esse potencial precisa de uma estratégia de desenvolvimento para os próximos anos. Ele deve ser capacitado com educação acessível e de qualidade, com matérias que estejam conectadas às competências do futuro. Precisamos abrir mais oportunidades de trabalho decente e que as [empresas possam ser mais inclusivas](https://www.revistahsm.com.br/post/diversidade-e-inclusao-em-pauta-na-pandemia) para abraçar esse talento que é a cara do Brasil, que é a resiliência e que tem vontade de fazer acontecer.

Você, dentro do livro que escreve na sua organização: como acredita que pode levar esse diálogo e ajudar os nossos professores a contarem um final mais esperançoso nas suas aulas sobre a década de 2020?

Confira mais artigos sobre juventude no mercado de trabalho no [Fórum Jovens Talentos](https://www.revistahsm.com.br/forum/forum-jovens-talentos).

Compartilhar:

Artigos relacionados

Homo confusus no trabalho: Liderança, negociação e comunicação em tempos de incerteza

Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas – mas sim coragem para sustentar as perguntas certas.
Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Estratégia
10 de outubro de 2025
Com mais de um século de história, a Drogaria Araujo mostra que longevidade empresarial se constrói com visão estratégica, cultura forte e design como motor de inovação.

Rodrigo Magnago

6 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Liderança
9 de outubro de 2025
Em tempos de alta performance e tecnologia, o verdadeiro diferencial está na empatia: um ativo invisível que transforma vínculos em resultados.

Laís Macedo, Presidente do Future is Now

3 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Bem-estar & saúde, Finanças
8 de outubro de 2025
Aos 40, a estabilidade virou exceção - mas também pode ser o início de um novo roteiro, mais consciente, humano e possível.

Lisia Prado, sócia da House of Feelings

5 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
7 de outubro de 2025
O trabalho flexível deixou de ser tendência - é uma estratégia de RH para atrair talentos, fortalecer a cultura e impulsionar o desempenho em um mundo que já mudou.

Natalia Ubilla, Diretora de RH no iFood Pago e iFood Benefícios

7 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
6 de outubro de 2025
Como a evolução regulatória pode redefinir a gestão de pessoas no Brasil

Tatiana Pimenta, CEO da Vittude

4 minutos min de leitura
Liderança, Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
3 de outubro de 2025
Ser CEO é mais que ocupar o topo - para mulheres, é desafiar estereótipos e transformar a liderança em espaço de pertencimento e impacto.

Giovana Pacini, Country Manager da Merz Aesthetics® Brasil

3 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
3 de outubro de 2025
A IA está redefinindo o trabalho - e cabe ao RH liderar a jornada que equilibra eficiência tecnológica com desenvolvimento humano e cultura organizacional.

Michelle Cascardo, Latam Sr Sales Manager na Deel

5 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
2 de outubro de 2025
Na indústria automotiva, a IA Generativa não é mais tendência - é o motor da próxima revolução em eficiência, personalização e experiência do cliente.

Lorena França - Hub Mobilidade do Learning Village

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Inovação & estratégia
1º de outubro de 2025
No mundo pós-IA, profissionais 50+ são mais que relevantes - são pontes vivas entre gerações, capazes de transformar conhecimento em vantagem competitiva.

Cris Sabbag - COO da Talento Sênior

4 minutos min de leitura
Inovação
30 de setembro
O Brasil tem talento reconhecido no design - mas sem políticas públicas e apoio estratégico, seguimos premiando ideias sem transformar setores.

Rodrigo Magnago

6 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)