Liderança, Times e Cultura
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Gestão da paisagem emocional

Diversos autores falam da importância de os times gerenciarem emoções individuais e coletivas, mas, no dia a dia, isso costuma ser negligenciado. Ocorre que a emoção, positiva ou negativa, é contagiante; passa de um para outro. Nas organizações a prática chega devagar, mas, aonde chegou, tornou-se um booster.

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Dois prêmios Nobel de Economia – Daniel Kahneman (2002) e Richard Thaler (2017) – precisaram dizer que nossas decisões não são unicamente racionais para começarmos a dar um pouco mais de espaço para as emoções em nossas vidas.

Desde priscas eras, os gestores fazem uso de paisagens emocionais coletivas, embora nem sempre de modo consciente. Alguns preferem as paisagens negativas para gerar performance, promovendo o estado de alerta permanente, o medo e o constrangimento, na crença de que isso cria senso de urgência, derrama adrenalina no organismo das pessoas e produz os melhores resultados.

Um segundo grupo de gestores aposta nas paisagens positivas, mas com táticas do que começamos a chamar de “positividade tóxica” – eles querem que todos vejam o copo sempre meio cheio, como se fosse possível sempre tirar uma lição ou um aprendizado de algo ruim que nos acontece.

E há ainda os gestores que se tornaram entusiastas da criação de paisagens emocionais coletivas em equilíbrio dinâmico, que serviriam para as pessoas aprenderem a usar suas emoções como vantagem competitiva.

As três estratégias trazem contribuições e também riscos – estes, sobretudo se forem vistos de maneira muito genérica ou superficial (o que acontece com frequência).

Mas, dando uns passos atrás, por que líderes precisam colocar o tema das emoções na agenda organizacional e como podem fazer isso intencionalmente, com a profundidade requerida?

Emoções têm um papel na nossa vida. Entendê-las e lidar com elas forma um indivíduo capaz de trafegar em diferentes contextos, diferentes níveis de pressão e com melhor qualidade de entrega. Por entendê-las e lidar melhor com elas, quero dizer: (1) conhecer mais sobre nós mesmos, (2) dar nome ao que sentimos, (3) poder expressar esses sentimentos, (4) melhorar nossas relações com as outras pessoas, (5) melhorar o ambiente de trabalho na direção de maior resiliência – em outras palavras, conferindo-lhe uma combinação de maior coesão, aumento da confiança entre as pessoas, acolhimento de decisões fora do padrão e maior jogo de cintura para lidar com situações estressantes.

Se o porquê é claro, o “como” nos demanda habilidades e repertório para influenciar e sustentar essa jornada.

## reconhecer é o ponto de partida

Potencializar nosso papel como líderes numa organização passa por reconhecer nossas emoções. Mas essa não é uma capacidade que se adquire no lampejo de um único treinamento. Requer vigilância, consciência, repertório, vontade política, abertura, generosidade. Em geral, nosso repertório de emoções é escasso, pois nunca fomos acostumados a usá-lo. Muitos de nós crescemos sob crenças limitantes de que “homem não chora”, “não leve problemas pessoais pro trabalho”, “separe os sentimentos”, “seja forte por si e pelos outros”. Passamos gerações tentando camuflar o impossível, já que todas as nossas ações, reações e decisões respondem a demandas tanto objetivas como subjetivas.

Façamos um teste rápido: quantas emoções você consegue citar no correr de um minuto? Se ampliarmos para cinco minutos, quantas consegue enumerar? E se o teste fosse listar as emoções que você sentiu na última semana? Conseguiria mencionar mais de 15? Já deu para perceber como precisamos trabalhar, reconhecer e nomear nossas emoções para, depois, lidar com elas – as nossas e as alheias.

Muitos autores têm escrito sobre emoções. As abordagens são distintas, porém, mais do que se contradizerem, elas se complementam. Crescentemente aceita nas organizações, Brené Brown explica, no livro Atlas of the Heart, pelo menos 90 emoções, que organiza no que eu gosto de chamar de “cartografia do sentir”. A fim de trazer a experiência das emoções para o dia a dia, ela mapeia “lugares” aonde vamos quando, por exemplo:

– sentimos muita incerteza,
– comparamos coisas/pessoas,
– as coisas não saem exatamente como planejamos,
– nos sentimos em cacos,
– sentimos que a vida é boa.

Marc Brackett, diretor do Yale Center for Emotional Intelligence, chega a cem emoções divididas em quatro grupos em Permissão para Sentir, em que apresenta uma matriz com um eixo que mede quão agradáveis elas são (muito ou pouco) e outro dedicado a quanta energia movimentam (muita ou pouca). Esse livro não só nos ajuda a dar nome a cada emoção, como nos convida a refletir sobre seu impacto em nosso trabalho e em nossa vida. Eu e Cynthia Provedel também nos debruçamos sobre o tema e chegamos a 16 emoções.

__COM CONSCIÊNCIA__, __VOCÊ__ vai ampliar sua paisagem emocional e, assim, poderá gerenciá-la (e liderar) melhor. Do outro lado, o flow te aguarda.

16 emoções na comunicação
Recentemente Viviane Mansi abordou, com Cynthia Provedel, as emoções mais comuns que vivemos no trabalho a partir da ótica da comunicação, no livro Emoção e Comunicação, lançado em 2023. Tratando-as à luz da cultura brasileira e se preocupando em fazer com que o leitor se olhe no espelho e também enxergue o outro, elas listaram 16 emoções:

1. acolhimento,
2. alegria,
3. amor,
4. ansiedade,
5. calma,
6. compaixão,
7. culpa,
8. decepção,
9. empatia,
10. frustração,
11. gratidão,
12. inveja,
13. medo,
14. pertencimento,
15. raiva e
16. tristeza.

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