Empreendedorismo

GPTW: menores, porém, melhores

Organizações com menos de 100 colaboradores entram no ranking Great Place to Work e mostram que eficiência em gestão não tem vínculo direto com o tamanho de uma empresa

Daniela Diniz

Jornalista, com MBA em Recursos Humanos, acumula mais de 20 anos de experiência profissional. Trabalhou...

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Há 25 anos, quando começamos no Brasil o trabalho de analisar e reconhecer os melhores ambientes de trabalho, apenas empresas com no mínimo 300 funcionários poderiam participar da pesquisa que deu origem ao primeiro ranking de Melhores Empresas para Trabalhar no mundo. Um ano depois, o critério subiu para 400 funcionários. Em 1999, caiu para 250 e, em 2001, a pesquisa finalmente passou a permitir empresas com no mínimo 100 funcionários em seu quadro – critério usado até hoje como passaporte para participar do ranking Nacional. Isso não significa, porém, que apenas empresas com 100 ou mais funcionários sejam reconhecidas atualmente como modelos em gestão de pessoas.

O processo de certificação do Great Place to Work, lançado em 2017, passou a admitir empresas com no mínimo dez funcionários em seu quadro para aplicar a pesquisa. Com base na percepção de seu time – seja ele de dez, 30 ou 1.500 funcionários – a companhia poderá receber um selo que atesta aquele ambiente como bom para trabalhar.
E por que mudou? Porque o mundo do trabalho mudou e precisamos admitir e reconhecer que qualquer empresa de qualquer segmento e de qualquer tamanho pode (e deve) ser um bom lugar para trabalhar. Essa premissa, porém, ainda não faz parte do modelo mental de muitas pessoas.

Muitas vezes me abordam com a sentença: ser great place to work é coisa para empresa grande, multinacional ou muito famosa. Eu não posso chamar isso de lenda urbana, afinal, em algum lugar do passado isso foi verdade. Os primeiros rankings exibiam nomes como Accor, Coca-Cola, Elma Chips, Xerox, 3M, Mc Donald’s, HP, IBM. Enfim, eram empresas que dispensavam o aposto – todos sabiam o que cada uma fazia. Mas isso tem 25 anos e, nesse intervalo de tempo, a relação de trabalho tem se transformado no ambiente corporativo, promovendo novas organizações ao status de excelentes para trabalhar.

Entre 2018 e 2019, o número de empresas com até 29 funcionários que receberam um selo de [certificação do GPTW](https://www.revistahsm.com.br/post/gptw-as-100-melhores-empresas-para-trabalhar-da-america-latina) cresceu 480%, indo de 29 para 168 empresas. Na faixa das que empregam entre 30 até 99 colaboradores, o aumento foi de 56% no mesmo período. No total, mais de 1.100 empresas certificadas possuem até 500 funcionários em seus quadros.

No último ranking que classificou as Melhores Empresas para Trabalhar do Estado de São Paulo, por exemplo, havia nomes como Lambda 3, Vee Benefícios, Tecnobank, Cora, Agrosmart, Mark up, dentre tantas outras empresas com menos de 100 funcionários e pouco conhecidas do público em geral, mas com gestão de gigantes.

## Nova era do trabalho

A entrada de startups no hall da fama das melhores empresas para trabalhar simboliza uma nova era do mundo do trabalho que derruba estereótipos como solidez, marca, status, hierarquia, boa remuneração e processos rigorosos como atributos de lugar bacana para “fazer carreira”. Até porque o próprio conceito de carreira tem se transformado ao longo do tempo.

Em busca de mais flexibilidade, qualidade de vida e experiências que enriqueçam seu portfólio e engrossem seu repertório, os profissionais passam a reconhecer ambientes mais ágeis, menos hierárquicos, mais informais e abertos ao novo como os mais atraentes para um namoro mais longo.

Isso não significa que os grandes nomes e empresas centenárias tenham sido excluídas dos rankings. Ao contrário: elas seguem desfilando no topo da lista e [recebendo milhares de currículos](https://www.revistahsm.com.br/post/os-tres-pilares-da-empregabilidade) por ano em seu banco de seleção. No entanto, isso não ocorre apenas por causa do nome, da história ou do brasão da família, mas por elas promoverem upgrades nessa relação com os funcionários ao longo do tempo.

Gigantes que preferiram se manter presas à gestão de pessoas que valorizava apenas a troca de gordos benefícios e plano de carreira pelas horas excessivas de trabalho estão despencando aos poucos da lista de desejo dos profissionais. Um exemplo recente dessa ruptura foi a rebelião dos funcionários do Goldman Sachs contra as jornadas exaustivas de trabalho.

Por meio do Twitter, um grupo de profissionais divulgou uma apresentação de 11 páginas escancarando o modelo abusivo de trabalho do banco de investimento americano, um dos maiores conglomerados do mercado financeiro, e reconhecido como sonho de consumo e poder de jovens que buscavam uma carreira ascendente. Em 2019, o Goldman Sachs figurava em 62º lugar no ranking das 100 Melhores Empresas para Trabalhar dos Estados Unidos, publicado pela revista Fortune. Em 2020, ficou em 94º. Neste ano, não apareceu. Coincidência? Não acredito.

## Antigas com alma jovem

Por outro lado, sobram exemplos de empresas tradicionais que não param de crescer e seguem firmes no topo do ranking e na lista de desejos de muitos profissionais. Magazine Luiza, Dell, Mars, Caterpillar e Accor são só algumas delas. Estamos falando de empresas que sabem acompanhar a evolução e transformação do mundo do trabalho e oferecer maçãs, melancias ou mamões de acordo com as mudanças de apetite de suas gerações.

Quanto às pequenas, essas também têm histórico de crescimento e reconhecimento. Nunca me canso de citar os exemplos da Ci&T e do Laboratório Sabin, empresas que conheci ainda muito pequenas, e que hoje passaram dos 3,5 mil e 6 mil funcionários respectivamente, e seguem despontando nas primeiras posições do ranking.

No caso da Ci&T, quando a visitei pela primeira vez, num escritório em Campinas, seus donos me disseram que iriam fazer uma pesquisa de clima caseira já que não tinham ainda o número mínimo para participar da pesquisa do Great Place to Work. O ano era 2003 e não falávamos em startups – chamávamos mesmo de novos negócios. Os [sócios não eram startupeiros, mas sim empreendedores](https://mitsloanreview.com.br/post/separar-ou-integrar-inovacoes-disruptivas-em-empresas-estabelecidas).

Quase vinte anos depois, estamos diante de muitas Ci&Ts. Assim, como a empresa campineira que foi visionária no início dos anos 2000 e sempre colocou as pessoas em primeiro lugar, temos hoje a oportunidade de conhecer e reconhecer essas tantas empresas que vêm experimentando novas relações com seu colaborador. Na fórmula desse relacionamento, segue a confiança como base, mas entram outros elementos como a criação de políticas e práticas menos pasteurizadas e mais customizadas, e a oferta de experiências que demonstrem o valor dessa relação em cada etapa.

## CONSTRUIR EM CONJUNTO

A regra do jogo mudou. Não é mais tamanho, histórico ou marca que vão segurar talentos, mas sim o quanto você está disposto a oferecer e a aprender. As pequenas, os novos negócios ou as startups sabem que dependem do outro para esta relação funcionar bem. Não têm a arrogância de muitas gigantes e nem as regras pré-estabelecidas que não podem ser rompidas. Elas constroem junto com o time. Erram junto, acertam junto, aprendem junto e crescem junto. Essa relação simbiótica é a nova ordem do mundo do trabalho. E as pequenas empresas têm mostrado com elegância e eficiência como se constrói isso na prática.

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