Esses dias, um gestor me fez a seguinte pergunta: como garantir crescimento ordenado em um cenário de crescimento explosivo? A empresa em questão está no segmento de petróleo e gás, onde conquistou uma posição privilegiada graças à qualidade e à confiabilidade de suas soluções de engenharia aplicada ao desenvolvimento de equipamentos.
O curioso é que a mesma pergunta me havia sido formulada recentemente não por um, mas por dois outros gestores, um que produz medicamentos genéricos e outro que preside um hospital de alta complexidade. Mais do que mostrar que as oportunidades de crescimento de empresas brasileiras continuam existindo, apesar de haver certo pessimismo no mercado, essas três organizações têm em comum o fato de serem intensivas em conhecimento. Em outras palavras, a qualidade, a confiabilidade e o valor daquilo que elas entregam dependem de sua capacidade de articular saberes de diferentes profissionais ao longo da hierarquia.
Qual é o grande desafio nesses três casos? É o de garantir a transmissão dos saberes e práticas adquiridos ao longo dos anos sem recorrer à complexidade da gestão do conhecimento em moldes tradicionais. A isso somam-se a dificuldade de retenção de talentos, a falta (aparente) de resiliência e paciência dos jovens para aprender. Em todas as três empresas, o obstáculo para crescer ordenadamente não é a dificuldade de atrair pessoas com boa formação, e sim a de transformá-las em profissionais que consigam entender o que é valor para o cliente e tenham a disciplina de trabalho necessária para fazer suas entregas com competência máxima –ou seja, atendendo às necessidades específicas, em uma dinâmica colaborativa e em prazos relativamente curtos.
Não há método de gestão do conhecimento neste mundo que proporcione isso aos profissionais na velocidade de que eles precisam: todos os métodos são complexos e difíceis de implementar, sobretudo no que tange às atitudes necessárias para que funcionem. Sabe qual foi minha resposta aos gestores das empresas com crescimento explosivo? Resgatei uma alternativa singela, usada pelo homem desde tempos imemoriais: os guardiões da tradição oral. São aquelas pessoas que, nas sociedades primitivas, têm por função recordar a todos a saga e os aprendizados que os levaram até onde chegaram, carregando a memória dos desafios que os heróis enfrentaram para garantir a sobrevivência diante da adversidade.
Em situações de conflito, eles recontam essa tradição para que todos se relembrem quem são, de onde vieram e para onde devem ir. Assim, eles ajudam o grupo a manter sua identidade, resgatar seus valores, reforçar os vínculos. O Ministério da Cultura nomeou-os “griôs”, os guardiões da tradição oral de nossa sociedade. As empresas estão cheias de griôs –eu já conheci vários deles; falta identificá-los, valorizá-los e dar-lhes o peso estratégico que devem ter para que os negócios consigam crescer ordenadamente, sem perder a essência. Eu os tiraria da operação e os transformaria nos “sábios da tribo”, com a maior parte de seu tempo dedicada a construir esse novo papel. Exatamente como milhares de gerações fizeram antes de nós.