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Hacker de líderes

Uma autoridade quando o assunto é liderança, Mike Myatt afirma que o desprendimento do líder encoraja a inovação e atrai a colaboração e que os melhores líderes são aqueles que mais investem na reflexão e incentivam suas equipes a fazer isso
A entrevista é de Sílvio Anaz, colaborador de HSM Mannagement.

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> **Saiba mais sobre Mike Myatt**
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> **Quem é:** considerado um dos mais importantes especialistas em liderança da atualidade, faz parte do conselho da Fortune 500 CEOs. 
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> **Empresa:** está à frente da empresa de consultoria N2growth. 
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> **Livros:** Hacking Leadership (ed. Wiley) e Leadership Matters… The CEO Survival Manual (ed. Outskirts Press)

Mike Myatt sempre fica impressionado com a quantidade de líderes talentosos que vê subutilizar a principal ferramenta que os levou ao sucesso: seu cérebro. “Não é que os líderes não pensem; o problema é que não pensam o suficiente”, diz ele, que é um dos mais respeitados especialistas em liderança da atualidade. E, quando pensam, muitos perdem tempo com temas errados, de forma errada e no tempo errado. 

Para Myatt, se um líder quer fazer mais, precisa pensar mais. HSM Management entrevistou Myatt sobre seu mais recente livro, Hacking Leadership, segundo o qual, no desempenho dos líderes, há sistematicamente “pontos cegos” e brechas que comprometem sua liderança. 

O que o especialista propõe como solução para o problema é “hackear” a liderança, o que significa desafiar as ideias convencionais sobre ela, conceitos muito distantes da realidade que nos ludibriam, com o objetivo de eliminar o que a compromete essencialmente. Ele propõe uma ação concentrada em 11 pontos críticos. Leia, a seguir, os principais tópicos da entrevista, feita com exclusividade. como Hackear e os 11 pontos críticos Hackear a liderança significa descobrir caminhos alternativos e atalhos para ela, assim como acessar e desvendar códigos culturais, decifrar a complexidade, influenciar resultados e customizar de maneira inovadora metodologias existentes e ultrapassadas. Myatt propõe uma série de ideias e ferramentas para isso. Essa “atividade pirata” possibilitará, segundo ele, que o líder se torne mais autoconsciente para diagnosticar rapidamente os problemas que afetam seu desempenho e, assim, poder oferecer à equipe e à organização todo o seu potencial de liderança. 

O especialista identificou 11 pontos críticos que podem levar ao fracasso do líder e que são fatais para a empresa se não forem diagnosticados e hackeados. Eles dizem respeito a futuro, mediocridade, cultura, talento, conhecimento, inovação, expectativas, complexidade, propósito, fracasso e liderança. Os líderes devem gastar mais tempo explorando o que não sabem sobre esses pontos do que enfatizando o que já conhecem. Têm de procurar conhecer opiniões diversas e até mesmo discordantes das suas, buscando o que é certo, mais do que se preocupando com quem levará o crédito. Ele insiste que as empresas que querem criar uma cultura de liderança, como é o discurso atual, precisam necessariamente encontrar caminhos alternativos e jeitos inteligentes para lidar com as 11 questões. 

**PROPÓSITO “INSIDE”**

Para que o líder não se importe com levar o crédito sobre estar certo, é preciso que ele tenha um propósito. “Liderança tem vários significados. Pode significar disciplina, busca, prática, paixão, habilidade, competência ou obrigação. Em qualquer um deles, ela pode ser efetiva, mas a liderança realmente torna-se interessante quando combina todas essas características na direção de um propósito”, afirma Myatt. Para ele, quando os líderes se comprometem com um propósito, é como se tivessem uma revelação. “Geralmente é essa revelação que transforma os líderes apenas no título em líderes de fato, apaixonados.” 

**PENSAR VERSUS ROTINA**

Líderes realmente eficazes sabem, segundo Myatt, que suas melhores contribuições ao negócio ocorrem depois de períodos planejados de isolamento, usados para autorreflexão, introspecção e pensamento crítico. E sabem também que isso vale para as contribuições de seus liderados. De que vale ter na organização pessoas realmente talentosas se não se dá a elas tempo para fazer uma imersão criativa e pensar na solução dos problemas? Assim, uma das principais recomendações de Myatt é esta: “Não seja um líder que condene pessoas talentosas a rotinas que paralisam sua mente, como preparar inúteis apresentações em PowerPoint ou participar de várias reuniões mal planejadas; seja o líder que favorece uma cultura que valoriza o espaço para pensar e refletir”. Aí é que reside um dos maiores problemas de todas as empresas. 

**CONTINUUM (COM MUDANÇA)**

Myatt enxerga a liderança como um “continuum”. Trata-se de um modo de evoluir constantemente por meio da mudança, do crescimento e do desenvolvimento. “Costumo dizer que a liderança existe para interromper a mediocridade. Na prática das empresas, isso significa que os líderes devem pensar além dos resultados e focar não somente o que existe, mas todas as possibilidades seguintes.” 

**FRAQUEZA COMO FORÇA**

Um dos pontos mais interessantes e provocativos das teorias de Myatt é a proposta de que, para se tornar um grande líder, este tem de aprender a “se render”, capitular e renunciar em determinadas situações. Trata-se de um conceito normalmente associado à fraqueza, que, para Myatt, constitui um dos principais pontos fortes de um líder. 

Mas essa “rendição” não deve ser confundida com desistir. “Sugiro que o líder aprenda a sutil arte do desprendimento, do deixar acontecer”, explica ele. “Um líder simplesmente oferece seu melhor quando compreende que sua habilidade de influenciar é muito mais frutífera do que sua capacidade de controlar.” Segundo o especialista, a arte do desprendimento praticada por um líder encoraja a inovação e atrai a colaboração, enquanto a liderança controladora inibe talentos, limita as iniciativas e restringe os potenciais das equipes. 

Myatt conta que, em sua experiência, líderes controladores simplesmente estão tentando consolidar poder, enquanto os que praticam o desapego distribuem a autoridade. E insiste: “Controle diz respeito a poder, não a liderança. Controle dura um período, enquanto a arte do desprendimento deixa um legado”. 

**SER INOVADOR NÃO É TER MUITAS IDEIAS**

Para Myatt, todos os líderes têm ideias, mas poucos são inovadores. “Quando temos ideias, estamos sonhando; quando somos inovadores, estamos agindo.” Ele entende que ideias em si são pouco mais do que pensamentos aleatórios e não lapidados, o que os torna pouco úteis. Inovação é algo tangível, que conduz a uma ação e a um resultado. Líderes têm de ser inovadores e patrocinar a inovação. 

**MEDIOCRIDADE É FATAL**

“A mediocridade é o beijo da morte para o líder”, declara Myatt. Para ele, um líder existe justamente para acabar com a mediocridade, e, para tanto, a liderança nunca pode ser uma postura passiva ou regressiva. O especialista cita como prova irrefutável disso a existência de centenas de estudos segundo os quais as empresas que focam o crescimento durante os períodos de retração econômica são mais bem-sucedidas do que aquelas que esperam a economia melhorar. Myatt observa que grandes líderes não adotam simplesmente o novo, mas procuram constantemente criar uma nova versão do novo. Pois o novo dá a oportunidade de reexaminar tudo, abandonando pensamentos ultrapassados e desafiando a lógica dominante. 

**AVISO ÀS EMPRESAS DE PAÍSES EMERGENTES**

Empresas com estrutura hierárquica rígida e verticalizada, seja nos países emergentes, seja nos desenvolvidos, devem urgentemente transformá-la em uma comunidade colaborativa, recomenda Myatt. Isso se de fato desejarem desenvolver seus potenciais, crescer e aparecer. “Quanto mais hierárquica uma organização, mais limitada é sua capacidade de desenvolver talentos, inovar e crescer. Quanto mais rígida a estrutura administrativa, operacional e organizacional, mais dificuldades existirão para criar uma cultura de liderança.” O especialista enfatiza que liderar não é criar processos e plataformas, mas desenvolver pessoas. “Grandes líderes não colocam as pessoas em ‘caixinhas’ do organograma, e sim as libertam. Grandes líderes não ‘alavancam’ as pessoas, e sim criam alavancas para que elas mesmas façam isso.” Myatt avisa aos líderes de empresas dos mercados emergentes que, no mundo atual, eles só ficarão para trás na competição com as dos mercados desenvolvidos se mantiverem estruturas ultrapassadas. 

**OBSTÁCULOS À CULTURA**

“Se você está em posição de líder, você liderará, mas a pergunta é: você lidera bem? Por isso, toda organização precisa de uma cultura de liderança distribuída, mais do que de um líder”, explica Myatt. Com essa visão, ele garante que a liderança existente em uma empresa é o maior obstáculo para o desenvolvimento de uma nova liderança dentro dela. Quando os líderes acreditam que não é necessário focar a liderança como um aspecto central do negócio, a mediocridade se enraíza e vai lentamente sufocando o desejo de mudança e de inovação. “Nunca conheci uma organização com excesso de liderança; vi, isso, sim, empresas excessivamente gerenciadas”, compara. Para ele, o objetivo de qualquer organização deveria ser ter uma liderança onipresente; antes disso, o trabalho de um líder não está terminado. Segundo Myatt, muitas empresas e marcas dominantes deixam de existir justamente porque fracassaram em criar uma cultura de liderança. 

**SEM SEGUIDORES**

Myatt conhece de perto muitos dos maiores líderes empresariais mundiais. Ele conta que os melhores entre estes são os que não se cercam de seguidores que alimentam seu ego, mas de quem os desafia.

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