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Iates, carros e contaminação

Com fábrica no Brasil, a Azimut Yachts, fabricante de iates e barcos a motor de luxo, está implantando uma série de práticas da indústria automobilística para dar mais competitividade a um setor marcado pela produção artesanal. É a estratégia de contaminar, explicada por seu CEO, Ferruccio Luppi.

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> **Azimut dá  saltos no Brasil**
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> Com fábrica em Itajaí, Santa Catarina, a Azimut aposta em um mercado em expansão no País, que cresce de modo sustentável em torno de 10% a 15% ao ano. A demanda ainda se concentra no litoral do Rio e de São Paulo, além do catarinense, mas davide Breviglieri, presidente da filial brasileira, crê em mais vendas de iates para represas e rios do interior paulista e do Centro-Oeste e para o litoral do Nordeste. Na fábrica catarinense, são feitas toda a estrutura de fibra dos barcos e a montagem, mas cerca de 65% dos componentes são importados, especialmente os mais tecnológicos. 
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> Ali trabalham em torno de 300 colaboradores, que passaram por um intenso processo de treinamento, em parceria com o Senai e o Sesc e em cursos financiados pelo Pronatec. “Estamos criando um curso de qualificação de marinheiros, tripulantes e comandantes, porque não adianta pôr um produto de altíssima performance nas mãos de pessoas que não conseguem manusear bem esse produto”, afirma o CEO brasileiro. Apesar da crise, o Brasil ainda é um mercado muito promissor para a empresa – aqui, o tamanho dos barcos aumenta em saltos, não aos poucos, como em toda parte.

Iates são românticos. Além da mística que envolve viagens marítimas privativas, a produção das embarcações também tem um forte componente artesanal. Afinal, a indústria náutica trabalha com tapeceiros, marceneiros, carpinteiros, decoradores, profissionais que criam e executam projeto a projeto, manualmente, ainda que tudo seja montado sobre uma base de alta tecnologia. 

Como dar escala a um romance? A Azimut Yachts, uma das maiores fabricantes de iates do mundo, trouxe da Fiat o CEO Ferruccio Luppi, que passou 26 anos no grupo, circulando por várias empresas (incluindo Ferrari) até se tornar CFO da Fiat em Turim. Uma das missões do executivo é o que ele chama de “contaminar”, ou seja, impregnar a indústria de iates de melhores práticas de outros setores, como o automobilístico. 

Luppi esteve no Brasil visitando a única fábrica da empresa fora da matriz, na Itália – instalada há três anos em Santa Catarina (veja quadro) – e conversou com exclusividade com HSM Management sobre o modelo de gestão que está implantando na Azimut. A princípio, ele elegeu três aspectos da indústria automobilística que estão fazendo a diferença no processo produtivo dos iates:

**1. Desenvolvimento de produto**. Enquanto a indústria automobilística já trabalha há muito tempo sobre uma base sólida de TI, cada modelo de iate é praticamente uma obra de arte, segundo Luppi. No entanto, a matriz da empresa agora tem uma equipe de cerca de cem engenheiros e designers, que trabalham com um modelo de desenvolvimento de produto similar ao da indústria automobilística. “Como os carros, nada começa a ser produzido antes que todos os modelos virtuais estejam 100% testados e aprovados. Isso não acontece na indústria de iates, mas a tecnologia já nos possibilita padronizar cerca de 60% dos componentes de barcos do mesmo tamanho. E ainda podemos melhorar o processo, para aumentar a qualidade e reduzir custos”, explica o CEO.

**2. Processo produtivo**. A indústria de ia tes não permite a robotização da produção, como a automobilística, pois são produzidas apenas 30 a 40 unidades de cada modelo. das montadoras, porém, a Azimut incorporou a melhoria de processos e o controle rígido da qualidade, o que inclui melhor gestão de toda a cadeia de fornecimento. “Como temos uma quantidade enorme de fornecedores pequenos e até artesanais, estamos ajudando-os a melhorar, a se tornar mais competitivos. Se não temos como implantar, por exemplo, o just-in-time, conseguimos intervir no processo como um todo, como a indústria automobilística fez”, diz Luppi.

 **3. Marketing e vendas**. As vendas são feitas por meio de distribuidores, que mantêm todo o controle sobre os clientes. Luppi está trabalhando para tornar os distribuidores mais parecidos com as concessionárias de automóveis, que prestam serviços e têm uma interação mais próxima do consumidor. Isso pode se reverter não só em mais vendas, como também em informações cruciais para a melhoria dos produtos. “Normalmente, vendemos o produto e nossa relação com o cliente termina ali. Agora queremos continuá-la, estando mais próximos dos distribuidores para ficar mais perto dos consumidores finais”, conta Luppi.

**No Brasil** 

Há mudanças específicas no Brasil? Sim, a empresa está experimentando o modelo de negócio das vendas diretas aqui, por conta das peculiaridades tributárias locais. “de modo geral, sempre nos adaptamos à realidade do país, embora tenhamos um alinhamento absoluto com a matriz em estratégia”, explica o presidente da filial brasileira, davide Breviglieri. 

Essa adaptação começa pela própria linha de produtos: os barcos recebem acessórios e ambientes conforme a cultura do país. As unidades vendidas no Brasil, por exemplo, têm churrasqueira, enquanto nas da China são instaladas mesas redondas giratórias. Em alguns países, os clientes querem amplas áreas ao ar livre e, em outros, tudo coberto. Como convém a um estaleiro, a Azimut navega em todos os mares, sejam estes quais forem.

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