Empreendedorismo

Inclusão de grupos minorizados no empreendedorismo fortalece a economia

Movimentos do setor privado e da esfera pública podem impulsionar a inclusão de novos empreendedores e transformar boas ideias em negócios financeiramente sustentáveis
André Schröder é colaborador da HSM Management

Compartilhar:

O cenário de inovação e empreendedorismo no Brasil não é inclusivo. Um mapa do ecossistema de startups feito pela Abstartups em 2021 mostra que apenas 16,9% dos negócios foram criados por mulheres e menos de 5% dos fundadores são pessoas da comunidade LGBTI+. Esse mesmo relatório indica ainda que somente 7,2% dos empreendedores são negros e que indígenas somam apenas 0,2% do total. Como em outras estruturas do país, o mercado empreendedor é dominado pelo perfil homem, branco e heterossexual.

Mudar esse quadro de desigualdades é fundamental para estimular novas iniciativas, criar oportunidades, gerar impacto social e fortalecer a atividade econômica no país. A pesquisa GEM 2022, elaborada pelo Sebrae, aponta que 43 milhões de brasileiros já tinham ou fizeram alguma ação para montar um negócio próprio no ano passado. O número deixa claro que a vontade de empreender é grande. O que exige uma série de movimentos estratégicos do setor privado e da esfera pública para impulsionar a inclusão de novos empreendedores e transformar boas ideias em negócios saudáveis.

## Formação e incentivo
Capacitação para montar o negócio, acesso a financiamento e dificuldades na venda de produtos e serviços são os principais entraves para o empreendedorismo de grupos minorizados no Brasil. Esses problemas foram ampliados por causa da crise e da pandemia, abalando ainda mais um ecossistema que gera empregos, transforma comunidades e traz desenvolvimento. Incentivar o empreendedorismo é uma ótima estratégia para reanimar a economia, mas o país carece de iniciativas voltadas para quem tenta construir um negócio próprio.

Na luta por inclusão, as mulheres estão na frente. Criado em 2017, o Instituto Rede Mulher Empreendedora reúne mais de 1 milhão de brasileiras. Com o apoio de uma ampla rede de parceiros, a organização oferece cursos de capacitação, mentoria para projetos e outras iniciativas para garantir a independência financeira das mulheres. Outro exemplo de incentivo ao empreendedorismo é o da [B2Mamy](https://www.revistahsm.com.br/post/a-reinvencao-do-empreendedorismo-a-partir-do-proposito), uma empresa que desde 2016 já conectou mais de 30 mil mães ao ecossistema de inovação e tecnologia, capacitando participantes e acelerando novos negócios.

As iniciativas voltadas ao público feminino mostram que trabalhos de inclusão são capazes de transformar o ambiente de empreendedorismo e beneficiar a sociedade. Entretanto, negros e indígenas ainda tentam sensibilizar companhias, instituições e órgãos públicos para formar suas redes de incentivo a novos negócios.

A tarefa não é simples, pois o caminho está tomado de preconceitos. O Mapa das Startups Negras de 2021, elaborado pela BlackRocks Startups, mostra que negros e pardos recebem menos investimentos em relação aos brancos em qualquer fase da construção do negócio. Esse empreendedor tem menos acesso a fundos de venture capital, investidores-anjo, aceleradoras, hubs de inovação e outros agentes do ecossistema.

## Negócios da quebrada
Comandada por Diogo Bezerra e Tauan Matos, a Mais1Code é um negócio de impacto social que transforma jovens moradores de periferias e favelas em programadores de alta qualidade. O matriculado conhece o mundo da tecnologia, aprende a programar, cria soluções para problemas reais e acaba direcionado para o mercado de trabalho. Em dois anos (de pandemia!), a iniciativa formou 500 jovens, que hoje têm salário médio acima de R$ 3 mil em seus novos empregos. Mesmo com diversas citações em revistas e programas de TV, a dupla ainda busca investimentos. “É um projeto tocado por dois jovens pretos. A gente apresenta a ideia, mostra o que já foi feito, apresenta os bons resultados, mas sempre paramos em alguma exigência extra”, afirma Diogo.

Segundo o empreendedor, o investimento em negócios de periferia ainda engatinha. Para acelerar esse processo, é preciso ampliar o número de eventos onde é possível apresentar as ideias para quem procura oportunidades. “Há mais gente olhando para negócios da quebrada, com mais programas de apoio. Mesmo assim, é muito difícil. O olhar para esses negócios não pode ser de carência. Ele precisa ser de potência, pois pequenos e médios negócios das periferias movimentam a economia do país.”

Além da questão do dinheiro, os projetos periféricos também são afetados pela falta de apoio na construção do negócio. “Nós vamos crescendo com o conhecimento da quebrada, observando quais erros os outros cometeram. Não temos chance de errar. Apesar de saber que uma ideia é boa, o esforço para que ela seja vista e considerada por alguém de fora é muito grande. A gente corre demais”, relata Tauan Matos.

## Um olhar indígena
A trajetória de empreendedorismo de Anápuáka Tupinambá é fascinante. Fundador da Yandê, a primeira rádio indígena do Brasil, ele criou um festival para fortalecer a música indígena, abriu uma loja de roupas e acessórios indígenas e está construindo um banco digital para oferecer serviços financeiros a indígenas. O foco nesse mesmo público tenta dar visibilidade aos mais de 300 povos que vivem no país, derrubando uma visão equivocada sobre a relação desse grupo com a economia.

“Não é apenas falta de vontade para promover negócios. É questão de entendimento mesmo. Indígenas possuem conta em banco, compram smartphone, andam de avião, movimentam uma série de atividades. O problema é que somos vítimas de uma visão preconceituosa”, afirma o empreendedor, criado dos 8 aos 13 anos em uma aldeia Tubinambá no sul da Bahia.

De acordo com Anápuáka, o empreendedorismo indígena tem uma vertente própria, que não considera o acúmulo de capital fator prioritário na construção dos negócios. “Essas ideias devem gerar impacto social, mudar a realidade dos povos indígenas do Brasil, porque o sofrimento indígena é ignorado pelo restante da sociedade”, explica Anápuáka, citando a construção de um banco indígena como estrutura que pode ajudar novos empreendimentos no futuro. “Meu caminho empreendedor é pautado pela ideia de ser um bom ancestral. Eu vivo isso para mudar a vida dos outros, para garantir que os direitos indígenas avancem”.

*A comunidade __Gestão PME__ é uma coprodução de __HSM Management__ e Confraria do Empreendedor, com apoio de Meoo, o serviço de [carro por assinatura](https://meoo.localiza.com/?utm_source=blog-hsm-comunidade&utm_medium=organico&utm_campaign=jussi-pp_localiza-meoo_topo_blog-hsm-comunidade_refarral_trafego_meoo-carro-inteligente_campanha_blog-hsh) da Localiza.*

### CONFIRA TAMBÉM:
– [Startups no Brasil: dados do ecossistema](https://www.revistahsm.com.br/post/startups-no-brasil-dados-do-ecossistema)
– [A sua empresa tem mulheres negras? Que cargos elas ocupam?](https://www.revistahsm.com.br/post/a-sua-empresa-tem-mulheres-negras-que-cargos-elas-ocupam)
– [O paradoxo das mulheres na inovação](https://www.revistahsm.com.br/post/o-paradoxo-das-mulheres-na-inovacao)

Compartilhar:

Artigos relacionados

Quando o corpo pede pausa e o negócio pede pressa

Entre liderança e gestação, uma lição essencial: não existe performance sustentável sem energia. Pausar não é fraqueza, é gestão – e admitir limites pode ser o gesto mais poderoso para cuidar de pessoas e negócios.

Cultura organizacional, Liderança
29 de novembro de 2025
Por trás das negociações brilhantes e decisões estratégicas, Suits revela algo essencial: liderança é feita de pessoas - com virtudes, vulnerabilidades e escolhas que moldam não só organizações, mas relações de confiança.

Lilian Cruz - Fundadora da Zero Gravity Thinking

3 minutos min de leitura
Estratégia, Marketing & growth
28 de novembro de 2025
De um caos no trânsito na Filadélfia à consolidação como código cultural no Brasil, a Black Friday evoluiu de liquidação para estratégia, transformando descontos em inteligência de precificação e redefinindo a relação entre consumo, margem e reputação

Alexandre Costa - Fundador do grupo Attitude Pricing (Comunidade Brasileira de Profissionais de Pricing)

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
27 de novembro de 2025
A pergunta “O que você vai ser quando crescer?” parece ingênua, mas carrega uma armadilha: a ilusão de que há um único futuro esperando por nós. Essa mesma armadilha ronda o setor automotivo. Afinal, que futuros essa indústria, uma das mais maduras do mundo, está disposta a imaginar para si?

Marcello Bressan, PhD, futurista, professor e pesquisador do NIX - Laboratório de Design de Narrativas, Imaginação e Experiências do CESAR

4 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde, Liderança
26 de novembro de 2025
Parar para refletir e agir são forças complementares, não conflitantes

Jose Augusto Moura - CEO da brsa

3 minutos min de leitura
Marketing & growth
25 de novembro de 2025

Rafael Silva - Head de Parcerias e Alianças na Lecom Tecnologia

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, ESG
24 de novembro de 2025
Quando tratado como ferramenta estratégica, o orçamento deixa de ser controle e passa a ser cultura: um instrumento de alinhamento, aprendizado e coerência entre propósito, capital e execução.

Dárcio Zarpellon - Chief Financial Officer na Hypofarma

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
22 de novembro de 2025
Antes dos agentes, antes da IA. A camada do pensamento analógico

Rodrigo Magnano - CEO da RMagnano

5 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Cultura organizacional
21 de novembro de 2025
O RH deixou de ser apenas operacional e se tornou estratégico - desmistificar ideias sobre cultura, engajamento e processos é essencial para transformar gestão de pessoas em vantagem competitiva.

Giovanna Gregori Pinto - Executiva de RH e fundadora da People Leap

3 minutos min de leitura
Inteligência Artificial, Liderança
20 de novembro de 2025
Na era da inteligência artificial, a verdadeira transformação digital começa pela cultura: liderar com consciência é o novo imperativo para empresas que querem unir tecnologia, propósito e humanidade.

Valéria Oliveira - Especialista em desenvolvimento de líderes e gestão da cultura

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
19 de novembro de 2025
Construir uma cultura organizacional autêntica é papel estratégico do RH, que deve traduzir propósito em práticas reais, alinhadas à estratégia e vividas no dia a dia por líderes e equipes.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança