Diversidade

Influenciadores: onde vamos parar?

Se os anunciantes encontrarem uma forma sorrateira de passar sua mensagem – pela oferta –, a maioria vai aderir à “inovação”, embora pouco ética

Compartilhar:

O marketing de influenciadores está se espalhando rapidamente. Já há alguns grupos demográficos importantes recebendo conteúdo apenas por meio de canais de mídia social, aplicativos e plataformas, e, segundo estimativas relativas aos Estados Unidos, o orçamento publicitário total destinado a influenciadores aumentará de US$ 500 milhões em 2015 para pelo menos US$ 5 bilhões em 2020. 

“A grande mudança no marketing é que muitas empresas, grandes e pequenas, têm a oportunidade de anunciar no Snapchat, Twitter ou Instagram – é uma forma relativamente econômica de alcançar uma audiência global”, analisou o especialista em mídia Erin E. Rhinehart, sócio da Faruki Ireland & Cox, para a _Knowledge@Wharton_. E os influenciadores ganham importância na esteira disso. 

Celebridades, youtubers, blogueiros e outros influenciadores fazem recomendações ao mercado como se estivessem compartilhando dicas. Às vezes, são apenas dicas espontâneas de fato, mas, outras, essas pessoas são pagas para fazer as recomendações e não deixam isso claro. 

“Várias agências de publicidade tradicionais têm esquecido os fundamentos da necessidade Se os anunciantes encontrarem uma forma sorrateira de passar sua mensagem – pela oferta –, a maioria vai aderir à “inovação”, embora pouco ética Direto ao ponto Influenciadores: onde vamos parar? de esclarecimento, e muitas empresas de pequeno e médio portes não prestam atenção ao fato de que as regras também se aplicam a elas”, disse Rhinehart. 

A remuneração pela promoção de um produto ou serviço sem explicitá-lo é ilegal nos Estados Unidos e enquadra-se na categoria de publicidade enganosa na maioria dos países, o Brasil incluído. Nos EUA, o problema chamou a atenção da Comissão Federal de Comércio, que recentemente deu uma estocada no setor. Em uma carta a 90 influenciadores e agências, lembrou-lhes a obrigação de “divulgar clara e visivelmente seus relacionamentos comerciais ao promover ou endossar produtos nas mídias sociais”. 

Como publicou a _Knowledge@Wharton_, não há nada na tecnologia de mídia social que impeça a identificação das mensagens pagas. Segundo Jonah Berger, professor de marketing da Wharton School e autor de _O poder da influência_, “a publicidade nativa pode deixar claro que aquilo é um anúncio, e os tuítes conseguem incluir hashtags que denotem que alguém foi pago”. 

As empresas só não querem fazer a identificação do pagamento porque isso reduz a eficiência de sua mensagem, explicou Berger. “Um dos motivos pelos quais o boca a boca é dez vezes mais eficaz do que a publicidade é que as pessoas confiam mais no que é espontâneo. Saber que alguém ganhou dinheiro para falar bem de alguma coisa nos faz muito menos propensos a confiar em sua mensagem”, disse ele à _Knowledge@Wharton._ 

**APOSTA NA CONFUSÃO**

A linha divisória embaçada entre publicidade e conteúdo editorial é favorecida no curto prazo. “Os anunciantes estão assustados; os consumidores andam cada vez mais resistentes aos anúncios convencionais. A taxa de instalação de bloqueadores de anúncios entre millennials é muito alta e as empresas recorrem à publicidade nativa como alternativa”, afirmou o professor da Wharton Kartik Hosanagar. 

“Além disso, a influência da mídia está se tornando cada vez mais descentralizada, com blogueiros e influenciadores das mídias sociais assumindo o controle. Isso dificulta a fiscalização pelos órgãos governamentais – e é um caminho sem volta”, acrescentou. 

Mesmo quando o _New York Times_ rotula matérias como “branded content”, a colocação desses anúncios no meio de sua página editorial, com tratamento gráfico semelhante ao dos artigos usuais, impede a distinção pelo consumidor de que aquilo é anúncio, na visão de Rhinehart. 

A distinção escapa a muitos consumidores, de fato. Em um estudo recente com 1.212 adultos que acessam regularmente a internet, a empresa de dados Contently e o centro de jornalismo de negócios da City University of New York descobriram que 77% dos leitores não identificam os chamados anúncios nativos como publicidade. 

Não admira a projeção de que a publicidade nativa explodirá. Em 2021, a receita de anúncios nativos nos EUA (incluindo portais editoriais e redes sociais) representará 74% da receita total de anúncios na web norte-americana, ante uma participação de 56% em 2016, conforme o _Business Insider_. 

**COMO CORRIGIR**

O consumidor não distingue. O governo não supervisiona. O anunciante não se importa. Serão os influenciadores que tratarão os limites da ética na publicidade de internet? Não tão cedo. Em uma pesquisa de 2016 com 347 influenciadores da plataforma de influência SheSpeaks, um em cada quatro disse que tinha sido orientado a não divulgar arranjos comerciais com uma marca. 

A correção dos rumos deve vir dos influenciadores, porém, em algum momento no futuro, conforme preveem os especialistas. De repente, aparecerá um influenciador específico que não aceitará remuneração, e outro surgirá sendo transparente quanto ao cachê que recebe. Então, ambos terão muito mais credibilidade do que a média e influenciarão os colegas.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Inovação e comunidades na presença digital

A creators economy deixou de ser tendência para se tornar estratégia: autenticidade, constância e inovação são os pilares que conectam marcas, líderes e comunidades em um mercado digital cada vez mais colaborativo.

Liderança
29 de outubro de 2025
O futuro da liderança não está no controle, mas na coragem de se autoconhecer - porque liderar os outros começa por liderar a si mesmo.

José Ricardo Claro Miranda - Diretor de Operações da Paschoalotto

2 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
28 de outubro 2025
A verdadeira virada digital não começa com tecnologia, mas com a coragem de abandonar velhos modelos mentais e repensar o papel das empresas como orquestradoras de ecossistemas.

Lilian Cruz - Fundadora da Zero Gravity Thinking

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
27 de outubro de 2025
Programas corporativos de idiomas oferecem alto valor percebido com baixo custo real - uma estratégia inteligente que impulsiona engajamento, reduz turnover e acelera resultados.

Diogo Aguilar - Fundador e Diretor Executivo da Fluencypass

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Inovação & estratégia
25 de outubro de 2025
Em empresas de capital intensivo, inovar exige mais do que orçamento - exige uma cultura que valorize a ambidestria e desafie o culto ao curto prazo.

Atila Persici Filho e Tabatha Fonseca

17 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
24 de outubro de 2025
Grandes ideias não falham por falta de potencial - falham por falta de método. Inovar é transformar o acaso em oportunidade com observação, ação e escala.

Priscila Alcântara e Diego Souza

6 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
23 de outubro de 2025
Alta performance não nasce do excesso - nasce do equilíbrio entre metas desafiadoras e respeito à saúde de quem entrega os resultados.

Rennan Vilar - Diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional.

4 minutos min de leitura
Uncategorized
22 de outubro de 2025
No setor de telecom, crescer sozinho tem limite - o futuro está nas parcerias que respeitam o legado e ampliam o potencial dos empreendedores locais.

Ana Flavia Martins - Diretora executiva de franquias da Algar

4 minutos min de leitura
Marketing & growth
21 de outubro de 2025
O maior risco do seu negócio pode estar no preço que você mesmo definiu. E copiar o preço do concorrente pode ser o atalho mais rápido para o prejuízo.

Alexandre Costa - Fundador do grupo Attitude Pricing (Comunidade Brasileira de Profissionais de Pricing)

5 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
20 de outubro de 2025
Nenhuma equipe se torna de alta performance sem segurança psicológica. Por isso, estabelecer segurança psicológica não significa evitar conflitos ou suavizar conversas difíceis, mas sim criar uma cultura em que o debate seja aberto e respeitoso.

Marília Tosetto - Diretora de Talent Management na Blip

4 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, Marketing & growth
17 de outubro de 2025
No Brasil, quem não regionaliza a inovação está falando com o país certo na língua errada - e perdendo mercado para quem entende o jogo das parcerias.

Rafael Silva - Head de Parcerias e Alianças na Lecom

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #170

O que ficou e o que está mudando na gangorra da gestão

Esta edição especial, que foi inspirada no HSM+2025, ajuda você a entender o sobe-e-desce de conhecimentos e habilidades gerenciais no século 21 para alcançar a sabedoria da liderança