Tecnologia e inovação

Inovação e desenvolvimento de novos negócios no Recife

Esforço conjunto de empresas, universidades e governo, o parque tecnológico Porto Digital tornou a capital pernambucana referência nacional em inovação
André Schröder é colaborador da HSM Management

Compartilhar:

Recife é referência em inovação. A cidade ganhou o apelido de “Vale do Silício brasileiro” por abrigar um ecossistema fértil para o desenvolvimento de projetos disruptivos. O principal eixo desse esforço é o Porto Digital, um parque tecnológico aberto situado na área central da capital pernambucana, onde atuam 355 empresas e quase 15 mil colaboradores. O espaço faturou R$ 3,67 bilhões em 2021, firmando crescimento de 94% em três anos. Qual é o segredo do sucesso?

“O Porto Digital não é um projeto de professores universitários, nem de empresários, nem de governo. Na verdade, é um projeto de todos, com foco nas pessoas. E essa conjunção de gente querendo que a proposta dê certo é um grande diferencial”, disse Pierre Lucena, CEO do Porto Digital, um dos convidados do roadshow *[Experiência à brasileira: nossa cultura como berço para a inovação](https://www.youtube.com/watch?v=mQjsJKjzniU&ab_channel=RevistaHSMManagement)*, promovido pela __HSM Management__ em parceria com a Localiza.

Segundo o executivo, o parque nasceu há mais de duas décadas como forma de frear a fuga de cérebros. “Pernambuco forma muita gente boa, mas a turma ia embora em busca de oportunidades em outras regiões do país ou no exterior”, contou. Na época, havia o desejo de revitalizar o centro histórico do Recife, então surgiu a ideia de criar um hub de inovação e conhecimento na região, cumprindo dois propósitos distintos: requalificar uma parte importante da cidade e gerar oportunidades para a população.

## Segredos do sucesso
A maior vantagem do Recife como espaço inovador é o capital humano, fruto de um núcleo universitário de alto nível na área de tecnologia, com 600 PHDs em atuação. Trabalhando nas empresas do Porto Digital, esses talentos passaram a trocar ideias, favorecendo a criação desse caldeirão de inovação.

“Você encontra muita gente nesse espaço, conversa com CEOs de outras companhias, de outras áreas”, relatou Rodrigo Paiva, diretor de tecnologia da startup Pickcells, de diagnóstico automatizado de doenças infecciosas, também presente no roadshow. “Trocar experiências, conhecer novos modelos de negócios e perceber tendências são fatores positivos desse tipo de ecossistema”, completou Marcelo Rodrigues, diretor de inovação e novos negócios da Amcham.

Apesar do ímpeto inovador e de ter se tornado referência no país, a iniciativa pernambucana ainda esbarra na falta de dinheiro. As empresas costumam batalhar demais em busca de recursos, sinal de que os investimentos seguem concentrados no Sudeste e Sul. Além disso, ainda perduram receios na hora de apostar em tecnologias inovadoras. “O perfil do investidor brasileiro é mais voltado para soluções testadas, para modelos que deram certo e são simplesmente replicados”, avaliou Rodrigo Paiva, da Pickcells.

Sem dinheiro, pequenas empresas inovadoras têm dificuldades para reter talentos. A transformação digital derrubou barreiras no mundo do trabalho e fez a concorrência por colaboradores qualificados aumentar, especialmente na área de tecnologia. Para superar o obstáculo, o Porto Digital investe na formação de novos talentos a partir de programas de inclusão. No último ano, 600 estudantes de escolas públicas com bom desempenho receberam oportunidades, o que também promove a [diversidade](https://www.revistahsm.com.br/post/as-empresas-estao-passando-a-fase-2-do-movimento-de-diversidade) dentro do espaço. “Em 10 anos, a ideia é mudar o perfil das pessoas que trabalham no Porto, com mais negros, mulheres, pessoas das periferias”, disse Hugo Medeiros, diretor de inovação da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de Pernambuco.

## Modelo Tríplice Hélice
O [ecossistema de Recife](https://mitsloanreview.com.br/post/por-que-o-ecossistema-de-recife-foi-um-spin-off-do-manguebeat) é resultado da ação coordenada entre governo, academia e empresas, em linha com o modelo de inovação Tríplice Hélice, desenvolvido por Henry Etzkovitz na década de 1990. Nesse molde, o Porto Digital é gerido por um conselho de 19 membros, o que impede a captura da iniciativa por uma das partes envolvidas. A participação do poder público tem sido decisiva, com aprovação de isenção fiscal para empresas, doação de bens públicos, financiamento por meio de editais e outras medidas.

Assim, o ecossistema de inovação pernambucano evolui sem abrir mão de três pilares: formar talentos para garantir o capital humano, estimular ideias empreendedoras em busca de novos negócios e melhorar a vida de quem mora perto do parque.

Hoje, o foco da iniciativa está na produção de softwares e serviços de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), além do olhar voltado para o futuro das cidades. Para Marcelo Rodrigues, da Amcham, o ecossistema de inovação de Recife pode ser direcionado para outras partes do mundo, pois há tendência de internacionalização no ambiente de inovação por conta das transformações digitais em andamento. Um projeto de sucesso propõe boas soluções para os problemas, estejam onde estiverem.

### CONFIRA TAMBÉM:
– [A importância da diversidade nas comunidade empreendedoras](https://www.revistahsm.com.br/post/a-importancia-da-diversidade-nas-comunidades-empreendedoras)
– [Capacitação: a chave mestra para um crescimento exponencial](https://www.revistahsm.com.br/post/capacitacao-a-chave-mestra-para-um-crescimento-exponencial)
– [Estônia: 30 anos de transformação digital e novas oportunidades no horizonte](https://mitsloanreview.com.br/post/estonia-30-anos-de-transformacao-digital-e-novas-oportunidades-no-horizonte)

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Gestão de Pessoas
Polímatas e Lifelong Learners: explorando perfis distintos que, juntos, podem transformar o ambiente de trabalho em um espaço de inovação, aprendizado contínuo e versatilidade.

Rafael Bertoni

4 min de leitura
Uncategorized
Liderança em tempos de brain rot: como priorizar o que realmente importa para moldar um futuro sustentável e inspirador.

Anna Luísa Beserra

0 min de leitura
Gestão de Pessoas
Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Laís Macedo

4 min de leitura
Empreendedorismo
Liderar empresas que continuamente estão inovando é um desafio diário, mas cada questão se torna um aprendizado se feito com empatia e valorização.

Ana Carolina Gozzi

3 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A experiência varia do excepcional ao frustrante, e a Inteligência Artificial (IA) surge como uma aliada para padronizar e melhorar esses serviços em escala global.

Flavio Gonçalves

4 min de leitura
Gestão de Pessoas
No cenário globalizado, a habilidade de negociar com pessoas de culturas distintas é mais do que desejável; é essencial. Desenvolver a inteligência cultural — combinando vontade, conhecimento, estratégia e ação — permite evitar armadilhas, criar confiança e construir parcerias sustentáveis.

Angelina Bejgrowicz

4 min de leitura
ESG
A resiliência vai além de suportar desafios; trata-se de atravessá-los com autenticidade, transformando adversidades em aprendizado e cultivando uma força que respeita nossas emoções e essência.

Heloísa Capelas

0 min de leitura
ESG
Uma pesquisa revela que ansiedade, estresse e burnout são desafios crescentes no ambiente de trabalho, evidenciando a necessidade urgente de ações para promover a saúde mental e o bem-estar nas empresas.

Fátima Macedo

3 min de leitura
Gestão de Pessoas
Enquanto a Inteligência Artificial transforma setores globais, sua adoção precipitada pode gerar mais riscos do que benefícios.

Emerson Tobar

3 min de leitura
Gestão de Pessoas
Entenda como fazer uso de estratégias de gameficação para garantir benefícios às suas equipes e quais exemplos nos ajudam a garantir uma melhor colaboração em ambientes corporativos.

Nara Iachan

6 min de leitura