Inovação

Inovação só acontece com gente

Para a transformação digital acontecer realmente em uma organização, as lideranças devem colocar a área de gente e gestão como prioridade, construindo um ambiente que acolhe ideias e diversidade
Ivan Cruz é cofundador da Athon Consulting e da Mereo, empreendedor, consultor de gestão, conselheiro e “longlife learner”. Atuou como consultor no Brasil, nos Estados Unidos, na Alemanha, na Colômbia, na China e na França.

Compartilhar:

Todo líder, especialmente os CEOs de médias e grandes empresas, tem duas grandes preocupações: como garantir que a operação seja o mais eficiente possível, ou seja, pensar no hoje e garantir os resultados para sua sobrevivência, e como se diferenciar em um mercado competitivo, já vislumbrando a organização no futuro. Olhar para frente significa pensar em como conectar o negócio atual às diversas novidades e tendências, entre elas, big data, analytics e inteligência artificial.

E para deixar o atual momento ainda mais complexo, quando olhamos pela perspectiva econômica, o desafio é compreender como se preparar para altas taxas de juros, inflação e conflitos geopolíticos que impactam as cadeias de produção globais. Ou seja, são muitas variáveis que precisam ser trabalhadas pelos altos executivos, sempre buscando entender como preparar a organização hoje para esse futuro.

Levantamento da McKinsey, de março deste ano, sobre como as prioridades dos principais CEOs estão evoluindo e quais as ações que estão empreendendo para dar conta delas, mostra que ascensão de tecnologias disruptivas (58%), risco de inflação elevada e retração econômica prolongados (56%) e escalada de riscos geopolíticos (47%) são as tendências que mais exigem um plano de ação dos líderes corporativos em 2023.

A pesquisa da Mckinsey conecta também com levantamento realizado pela HRtech Mereo junto ao setor de gente e gestão de cem empresas e mostra o abismo entre o que pensam os CEOs e como as organizações executam essa estratégia. A pesquisa da Mereo é bem relevante: são empresas que possuem acima de 500 colaboradores, em mais de 30 segmentos e 30% delas são listadas em bolsa. A pesquisa avaliou quais eram as prioridades das áreas de gente e gestão e, para minha surpresa, para não dizer espanto, diretrizes como transformação digital e inovação, temas cruciais para as empresas “future-ready”, figuravam como as menos prioritárias.

A diretriz transformação digital aparece como prioridade para gestores do setor em apenas 18% das organizações avaliadas. As metas mais utilizadas nesta diretriz são de projetos para transformação de um RH mais digital, com utilização de plataformas para captação de dados e avaliação de desempenho, por exemplo.

E vejam que interessante: as metas de transformação digital não estão nas mãos de altas lideranças (7%), e sim de analistas (18%) ou gerentes (12%), o que denota não ser ainda algo prioritário dentro das organizações. Esses achados mostram, por exemplo, uma fragilidade não identificada pelo levantamento da McKinsey, empresa americana especializada em consultoria para empresas e governos. Nele, além da disrupção digital ser o ponto nevrálgico dos CEOs, 62% deles planejam desenvolver advanced analytics (aqui entraria a introdução do polêmico ChatGPT, por exemplo); reforçar a segurança cibernética (48%) e automatizar o trabalho (45%).

Na pesquisa da Mereo, a situação é ainda mais preocupante quando o tópico é inovação. Ela, que se refere à ação de desenvolver ideias diferentes do convencional mas que resolvem problemas reais e que são fundamentais para diferenciação com relação aos concorrentes, culminando em um melhor posicionamento estratégico, aparece como prioridade para líderes de gente e gestão em apenas 4% das companhias, sendo o foco metas de inovação aberta, transformação cultural e retorno financeiro com projetos inovadores.

É importante ter em mente que, sempre que tratamos de transformação digital e inovação, estamos falando principalmente de mudança de mentalidade das pessoas. Testar soluções diferentes do usual e estar mais aberto ao erro como forma de aprendizado precisam fazer parte da cultura da organização. E o principal catalisador deste processo deve ser a área de gente e gestão, apoiando os demais líderes nessa transformação. Faz tempo que falamos de inovação bem como transformação digital e hoje, olhando os dados das pesquisas, vemos que isso ainda não é uma prioridade em diversos setores.

Nesse sentido, é fundamental que as companhias, especialmente os profissionais com cargos de alta liderança, coloquem-nas como prioridades, construindo uma cultura de inovação, ou seja, um ambiente que acolha ideias e diversidade. Isso passa por um setor de gente e gestão estruturado para criar e acolher a cultura e o ecossistema complexo que a inovação existe. O presente não deixa dúvidas: o surgimento cada vez mais acelerado de tecnologias disruptivas se apresenta como um alerta, um último chamado à inovação – as empresas precisam aderir a esses modelos se quiserem “sobreviver”.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Empreendedorismo
Um guia para a liderança se antecipar às consequências não intencionais de suas decisões

Lilian Cruz e Andréa Dietrich

4 min de leitura
ESG
Entre nós e o futuro desejado, está a habilidade de tecer cada nó de um intricado tapete que une regeneração, adaptação e compromisso climático — uma jornada que vai de Baku a Belém, com a Amazônia como palco central de um novo sistema econômico sustentável.

Bruna Rezende

5 min de leitura
ESG
Crescimento de reclamações à ANS reflete crise na saúde suplementar, impulsionada por reajustes abusivos e falta de transparência nos planos de saúde. Empresas enfrentam desafios para equilibrar custos e atender colaboradores. Soluções como auditorias, BI e humanização do atendimento surgem como alternativas para melhorar a experiência dos beneficiários e promover sustentabilidade no setor.
4 min de leitura
Finanças
Brasil enfrenta aumento de fraudes telefônicas, levando Anatel a adotar medidas rigorosas para proteger consumidores e empresas, enquanto organizações investem em tecnologia para garantir segurança, transparência e uma comunicação mais eficiente e personalizada.

Fábio Toledo

4 min de leitura
Finanças
A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Rui Rocha

0 min de leitura
Finanças
O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Fábio Duran

3 min de leitura
Empreendedorismo
Trazer os homens para a discussão, investir em ações mais intencionais e implementar a licença-paternidade estendida obrigatória são boas possibilidades.

Renata Baccarat

4 min de leitura
Uncategorized
Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Ivan Cruz

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Edmee Moreira

4 min de leitura
ESG
A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Ana Carolina Peuker

4 min de leitura