Uncategorized

Inovar… Nos índices?

As empresas vivem duas ilusões alternativas e perigosas: a de que a inovação não dá resultado e a de que a inovação não precisa dar resultado. O problema deriva de tentar medir o futuro no presente
Cientista-chefe do C.E.S.A.R, presidente do conselho de administração do Porto Digital e professor-titular de engenharia de software da Universidade Federal de Pernambuco.

Compartilhar:

Imagine que você é –e talvez seja mesmo– o CEO de um negócio de muitos milhões. Se seu negócio tiver algum futuro, é porque ele tem uma cultura de performance combinada com outra, de inovação. A primeira deve ser capaz de gerar receitas bem maiores do que despesas e garantir o presente, além de financiar a segunda. Esta responde pelo futuro do negócio, apostando no que não está no mercado agora, mas que será a base da cultura de performance de amanhã. Se você fosse usar índices para medir cada cultura, quais seriam? Daria para usar o mesmo conjunto de métricas para avaliar as duas culturas, quer num negócio, quer num país? Vez por outra, é o que acontece: alguém quer medir o futuro no presente. É como trazer o depois para antes do antes. Impossível, pelo menos se usarmos os índices existentes como medida de inovação, como, numa empresa, o ROI ou, num país, o PIB. Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, diz com todas as letras que inovações em tecnologias de informação e comunicação (TICs) não aparecem no PIB. Stiglitz reconhece que há mudanças, e muitas, causadas pelas TICs, mas a contribuição delas pouco aparece, a seu ver. Como medir a contribuição da web para a economia, por exemplo? Deveríamos levar em conta os sites de comércio eletrônico de comida de pet? Como avaliar a comodidade criada pelos caixas eletrônicos de bancos, se há, na outra ponta, o desemprego de quem trabalhava como caixa, humano, e foi substituído pelas máquinas? 

A complexidade do que há para medir se explica, em parte, por estarmos vivendo (o efeito de) três ondas de inovação em TICs simultaneamente: a de hardware, que vem da década de 1960 (com circuitos integrados, os chips) e continua duplicando a performance a cada dois anos, pelo mesmo preço (Lei de Moore); a de software, da década de 1980 em diante; e a de sistemas em rede, com a chegada da internet comercial, na década de 1990, mas radicalizada nos últimos dez anos, especialmente com os smartphones e os tablets. Para termos noção do “estrago” que tais ondas de inovação causam, basta observar que a velocidade da inovação em hardware faz com que os fabricantes sejam acusados de obsolescência programada de seus dispositivos para obter mais lucros. A Lei de Moore é realmente cruel: se valesse para motores de automóveis, a cada dois anos rodaríamos o dobro de quilômetros com a mesma gasolina. Tal mudança nos motores da economia da informação leva a novas e muito mais instigantes possibilidades em software e sistemas, tanto que um Nokia E61i de 2007 (estrela da época, lembra?) parece, hoje, relíquia de vovô (e é mesmo). Assim, para entender essa conjuntura, precisamos inovar também, e com pressa, nas formas de medir a inovação. Em seu negócio e nos países. Se as métricas que você aplicar à inovação forem as mesmas da performance, seu futuro será parecido com o da Nokia. A ilusão de que inovação não dá resultado –quando medida pelas métricas de performance– ou de que não tem de dar resultado –quando medida por uma ótica particular– é perigosa. Faz com que a inovação dependa de um “herói”. E, como se sabe, raramente há dois de tais heróis em sequência no comando de uma empresa ou de um país.

Compartilhar:

Artigos relacionados

A aposta calculada que levou o Boticário a ser premiado no iF Awards

Enquanto concorrentes correm para lançar coleções sazonais inspiradas em tendências efêmeras, o Boticário demonstra que compreende um princípio fundamental: o verdadeiro valor do design não está na estética superficial, mas em sua capacidade de gerar impacto social e econômico simultaneamente. A linha Make B., vencedora do iF Design Award 2025, não é um produto de beleza – é um manifesto estratégico.

Quando o colaborador é o problema

Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura – às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

Inovação
16 de setembro de 2025
Enquanto concorrentes correm para lançar coleções sazonais inspiradas em tendências efêmeras, o Boticário demonstra que compreende um princípio fundamental: o verdadeiro valor do design não está na estética superficial, mas em sua capacidade de gerar impacto social e econômico simultaneamente. A linha Make B., vencedora do iF Design Award 2025, não é um produto de beleza – é um manifesto estratégico.

Magnago

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Bem-estar & saúde, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
15 de setembro de 2025
O luto não pede licença - e também acontece dentro das empresas. Falar sobre dor é parte de construir uma cultura organizacional verdadeiramente humana e segura.

Virginia Planet - Sócia e consultora da House of Feelings

2 minutos min de leitura
Marketing & growth, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
12 de setembro de 2025
O futuro do varejo já está digitando na sua tela. O WhatsApp virou canal de vendas, atendimento e fidelização - e está redefinindo a experiência do consumidor brasileiro.

Leonardo Bruno Melo - Global head of sales da Connectly

4 minutos min de leitura
Liderança, Cultura organizacional, Inovação & estratégia, Tecnologia & inteligencia artificial
11 de setembro de 2025
Agilidade não é sobre seguir frameworks - é sobre gerar valor. Veja como OKRs e Team Topologies podem impulsionar times de produto sem virar mais uma camada de burocracia.

João Zanocelo - VP de Produto e Marketing e cofundador da BossaBox

3 minutos min de leitura
Cultura organizacional, compliance, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Liderança
10 de setembro de 2025
Ambientes tóxicos nem sempre vêm da cultura - às vezes, vêm de uma única pessoa. Entenda como identificar e conter comportamentos silenciosos que desestabilizam equipes e ameaçam a saúde organizacional.

Tatiana Pimenta - CEO da Vittude

5 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho, Inovação & estratégia
9 de setembro de 2025
Experiência também é capital. O ROEx propõe uma nova métrica para valorizar o repertório acumulado de profissionais em times multigeracionais - e transforma diversidade etária em vantagem estratégica.

Fran Winandy e Martin Henkel

10 minutos min de leitura
Inovação
8 de setembro de 2025
No segundo episódio da série de entrevistas sobre o iF Awards, Clarissa Biolchini, Head de Design & Consumer Insights da Electrolux nos conta a estratégia por trás de produtos que vendem, encantam e reinventam o cuidado doméstico.

Rodrigo Magnago

2 minutos min de leitura
Tecnologia & inteligencia artificial, Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
5 de setembro de 2025
O maior desafio profissional hoje não é a tecnologia - é o tempo. Descubra como processos claros, IA consciente e disciplina podem transformar sobrecarga em produtividade real.

Diego Nogare

6 minutos min de leitura
Marketing & growth, Cultura organizacional, Inovação & estratégia, Liderança
4 de setembro de 2025
Inspirar ou limitar? O benchmark pode ser útil - até o momento em que te afasta da sua singularidade. Descubra quando olhar para fora deixa de fazer sentido.

Bruna Lopes de Barros

3 minutos min de leitura
Inovação
Em entrevista com Rodrigo Magnago, Fernando Gama nos conta como a Docol tem despontado unindo a cultura do design na organização

Rodrigo Magnago

4 min de leitura