Numa sala de reunião, entre gráficos, telas e café requentado, o que mais falta não é planilha – é silêncio. Silêncio pra escutar. De verdade. Especialmente quando o outro nasceu num século diferente do seu.
“OK, Boomer.” A frase, lançada com um sorriso irônico por um estagiário de 22 anos, bateu em Marta como um tapa. Aos 64, diretora de RH de uma multinacional, ela tinha acabado de sugerir que a equipe imprimisse os relatórios. O silêncio constrangedor que se seguiu foi mais eloquente que qualquer explicação.
Naquele instante, Marta entendeu: não era só a idade. Havia um abismo cultural entre ela e os jovens da sala.
O mundo corporativo de hoje é um experimento inédito: várias gerações dividindo o mesmo espaço – com visões, valores e velocidades bem diferentes. Baby Boomers, Geração X, Millennials, Z. Navegar por esse mosaico é um desafio – e uma baita oportunidade – pra quem já passou dos 60.
“Depois daquele episódio, percebi que tinha duas opções”, contou Marta meses depois. “Me ofender e reforçar o estereótipo. Ou transformar aquilo numa chance de aprender.” Escolheu a segunda. Convidou o estagiário para um café.
“Quero entender como vocês trabalham, se comunicam, o que valorizam”, disse com curiosidade genuína – e desarmou o garoto. “Em troca, compartilho o que aprendi em quatro décadas.”
Nasceu ali uma parceria improvável. Marta aprendeu sobre ferramentas digitais, agilidade, comunicação assíncrona e transparência radical. Ele aprendeu a navegar a política corporativa, ler silêncios e pensar no longo prazo.
Nem sempre é assim suave. Joana, 28, via Carlos, 61, como um dinossauro. Carlos achava Joana apressada e arrogante. Mas numa pausa sem PowerPoint, ele compartilhou um fracasso. Joana ouviu. Riu. Não dele – com ele. E ali nasceu algo raro: vulnerabilidade compartilhada.
A humildade aparece sem crachá. Vem disfarçada de escuta atenta, de perguntas sem soberba, de risos que desarmam. Ela desfaz o cabo de guerra e mostra o essencial: colaboração entre gerações não é disputa – é soma. Inovação precisa da leveza do novo – mas também do peso da experiência.
Intergeracionalidade não é só sobrevivência profissional depois dos 60 – é uma forma de seguir vivo: intelectualmente, culturalmente, emocionalmente.
“O mais surpreendente”, confessou Marta, “foi perceber que o que eu chamava de ‘falta de profissionalismo’ – como informalidade ou horários flexíveis – era só outra forma de ver o trabalho: mais foco em resultado, menos apego ao processo.”
Esse espelho geracional nos mostra quem somos – e onde ainda podemos crescer.
Por outro lado, temos muito a oferecer. Vimos ciclos econômicos inteiros, modas gerenciais irem e virem, tecnologias nascerem e morrerem. Temos perspectiva. E isso vale ouro num mundo obcecado por imediatismo.
Seis meses depois do “OK, Boomer”, Marta liderou um programa de mentoria reversa. Executivos seniores e jovens talentos trocando saberes. O resultado? Mais engajamento, menos conflito – e mais inovação.
Intergeracionalidade é ponte. E ponte se constrói com escuta e humildade.