Desde março de 2020, quando oficialmente nos reconhecemos diante de algo “novo” chamado pandemia, um mar de acontecimentos involuntários nos levaram a tomar novas decisões voluntárias em dimensões nunca pensadas em relação ao trabalho.
Por um lado, fomos convidados a pensar nossa atuação social por meio das empresas onde trabalhávamos, mas, ao mesmo tempo, estamos tomando decisões a partir de janelas virtuais, a partir de nossas casas, cuidando simultaneamente da escola remota dos nossos filhos.
Todavia, depois de mais de um ano inteiro em que até os mais estratégicos tiveram que entrar no modo de operação, em que agendas precisaram ser revisitadas em bases semanais, em que todos tivemos que viabilizar um novo olhar para nossos pares – dentro das empresa e fora dela –, questiono: a quem compete a iniciativa de usar a força dos negócios, e de suas cadeias de valor, a favor dos desafios da sociedade e da proteção dos recursos naturais?
A expectativa em relação a todos que estão ligados a negócios cresceu. Segundo a edição 2021 da série histórica do Edelman Trust Barometer, ou Barômetro da Confiança, o índice de confiança nos negócios aumentou dois pontos entre 2020 e 2021, sendo as instituições mais confiáveis para 61% dos respondentes. Acima das ONGs que atingiram 57%, governo 53% e mídia 51%. E, para os respondentes, consumidores e colaboradores devem assumir o seu lugar à mesa. Para 62%, os colaboradores têm o poder de influenciar as corporações a mudar.
Atitudes intraempreendedoras passaram a ser mais comuns, até de forma compulsória para alguns, diante do novo modo sobrevivência. Muitas das empresas experimentaram a prática, mesmo não tendo planejado. Seja para as empresas mais maduras ou menos experientes na temática ESG, torna-se ainda mais clara a importância de cuidar e consolidar uma [cultura mais intraempreendedora](https://www.revistahsm.com.br/post/intraempreender-e-ir-ale-m-da-palavra-bonita), em que as pessoas podem empreender mais facilmente usando a força de uma grande engrenagem corporativa.
Em 2016, quando entrei em contato com a Liga de Intraempreendedores e com o “intraempreendedorismo”, muito menos pessoas sabiam o que era esse termo. Por vezes, parecia algo mais de nicho, restrito a áreas de sustentabilidade, quando, na verdade, já víamos também na comunidade brasileira um número crescente de intraempreendedores de áreas de gestão de pessoas, de produto, desenvolvimento de negócios, comunicação e inovação.
O que aconteceu na comunidade brasileira, de 2016 para cá, contei num artigo que escrevi no ano passado para o [Capitalismo Consciente](https://www.ccbrasil.cc/post/intraempreendedorismo-de-impacto), quando estávamos convidando a sociedade brasileira, numa chamada aberta, a reconhecer intraempreendedores de impacto. Nesse processo, recebemos 75 nomes e, após um processo de seleção feito por um comitê curador, chegamos aos 25 intraempreendedores, e 20 deles viveram a jornada do [Caleidoscópio 2020](https://www.ccbrasil.cc/post/caleidoscopio-2020).
Desse grupo, emergiram ideias, dentre elas fazer planejamento estratégico participativo (PEP), uma metodologia já consagrada para comunidades e redes de impacto. O processo começou em janeiro deste ano, engajando 67 lideranças num processo de construção utilizando a inteligência coletiva para desenhar, em conjunto, imagens de futuro, bem como obstáculos e grandes linhas de ação para a comunidade Brasil até 2023.
## Ecossistema pronto para o intraempreendedorismo
Queremos ampliar o impacto, com base na mesma teoria de mudança da comunidade global: destravar o potencial humano dentro de grandes e poderosas organizações e acelerar a agenda 2030, gerando soluções para o atingimento dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas.
Alguns dados trazidos pelo Diagnóstico do PEP apontam que o ecossistema empresarial brasileiro está propício à oferta de iniciativas e serviços voltados ao desenvolvimento de liderança e cultura intraempreendedora, de acordo as seguintes perspectivas:
– Os pontos de suporte mais demandados pelos intraempreendedores são rede de relacionamento (30%), comunidade de prática (27%) e suporte da alta direção (25%).
– 94% dos respondentes já realizaram alguma iniciativa de Intraempreendedorismo de impacto. No entanto, 56% ainda não participaram de qualquer capacitação em liderança intraempreendedora nas suas organizações.
– 75% acreditam que suas organizações irão trabalhar o tema Intraempreendedorismo nos próximos 3 anos.
– 44% acreditam que a maturidade organizacional para o tema da inovação para impacto socioambiental positivo ainda é mediana.
A comunidade local, assim como a global, reconhece a relevância de estar entre pares para lidar com os desafios atuais. Com o aumento da pressão da sociedade, e das próprias empresas junto aos seus parceiros comerciais, por respostas das empresas, intraempreendedores de impacto viram crescer a relevância e a atenção relacionada ao escopo de seu trabalho. Ou seja, o Intraempreendedorismo está no holofote.
A Liga foi reconhecida por 89% dos respondentes como uma comunidade que pode fazer avançar a agenda 2030 de impacto socioambiental positivo, e reconhecida como importante para o trabalho dos intraempreendedores ao catalisar rede e networking (36%), disseminar cases e conhecimento (19%) e inspirar a prática intraempreendedora (17%).
## Janelas intraempreendedoras
Se você se considera um intraempreendedor, ou se considera um curioso quanto a essa prática, nas próximas semanas acontece o festival global, e com ele a oportunidade de se conectar com inovadores de impacto de todo o mundo. De 7 a 10 de junho acontecerá a segunda edição da Semana Global do Intraempreendedor, GIW. Em 2020, representou o primeiro evento global dedicado exclusivamente a intraempreendedores e impacto, com mais de 2800 participantes. O Brasil foi o segundo país com maior número de inscritos, dentre os 87 países participantes.
O tema deste ano, ‘Tornando o invisível, visível’, despertará o mundo para o papel dos “empreendedores de dentro” como motores integrais de inovação e mudança positiva. A GIW2021 será uma celebração do papel dos intraempreendedores no mundo pós-COVID19. E, nesse momento de tantas conexões e diálogo, a comunidade da Liga Brasil levará para o festival dois painéis voltados para o público brasileiro, e em português:
No dia 8, às 17h30: Intraempreendedorismo de Impacto no Brasil: experiências e perspectivas de futuro. E no dia 9, às 18h: Intraempreendedorismo e estratégia de Impacto B. As sessões são abertas e gratuitas, e todos estão convidados. Basta se inscrever gratuitamente. Já a programação na íntegra pode ser conferida no site da League of Intrapreneurs.
“A pandemia expôs as muitas fragilidades e desigualdades das sociedades em todo o mundo. Esta é a década mais importante da humanidade e cabe a nós projetar e investir em um futuro que não deixa ninguém para trás – um futuro melhor, limpo, verde e mais justo. Não podemos fazer isso sozinhos. Precisamos liberar o intraempreendedorismo de todos: nossos colegas de trabalho, nossos parceiros de negócios e cidadãos “, ressaltou Mercedes Gutierrez, Head de Comunidades de Impacto Social, Grupo Ingka (IKEA).
## Desafio coletivo
Por fim, vale ressaltar que a década de 2020 tem sido chamada de “a década da ação”, pois ela precede o ano-alvo dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável de 2030. Acredito que, para a complexidade dos desafios que temos pela frente, ela é mais que uma década de ação, mas de convergência, alianças e parcerias.
Precisaremos aprender a somar competências, a aprender coletivamente e de forma ágil e multidisciplinar. Assim precisamos construir versões customizadas para nossos países com base em exemplos criados em países com realidades bem distintas. E nada melhor que comunidades de aprendizagem e prática para nos reconhecermos pares nesses desafios coletivos.
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