Uncategorized

JEFF BEZOS por JEFF BEZOS

Em sua autoanálise, o fundador da Amazon, talvez o influenciador-mor da comunidade empresarial atual, compartilha os cinco pilares de sua gestão
Karen Christensen é editora-chefe da Rotman Management Magazine.

Compartilhar:

**Vale a leitura porque..**.
… Jeff Bezos tem sido considerado um dos herdeiros de Steve Jobs em sua capacidade de inspirar empresários e executivos e, talvez, o principal deles.
… aprofundar-se em seu estilo de liderança e gestão ajuda a entender como a Amazon tem um desempenho tão diferenciado. 

Mais de 20 anos depois de a Amazon ter entregue seu primeiro livro, Jeff Bezos ainda se surpreende com a trajetória da empresa que fundou e que comanda até hoje. “Em alguns aspectos, parece que tudo aconteceu ontem; em outros, parece que faz cem anos”, afirma, sentado em uma sala de reuniões no quarto andar do Day One, edifício que leva esse nome porque Bezos acha que ainda estamos no início quando se trata da internet e de seus impactos. 

“O plano original da Amazon se concentrava exclusivamente nos livros, e eu esperava que a empresa crescesse lentamente por muitos anos. Mas ela cresceu rapidamente desde o começo”, lembra Bezos, acrescentando: “Temos raízes humildes, isso eu posso garantir. Eu levava as encomendas ao Correio no meu carro”. 

Não há dúvida de que a Amazon cresceu rápido: dos livros para a música e para qualquer coisa que pudesse ser entregue em casa, a empresa passou de uma varejista online para um grupo multifacetado. Seus produtos incluem um negócio de computação em nuvem, o Amazon Web Services (AWS), e uma divisão de produções originais para televisão. 

No centro de suas atividades nas últimas duas décadas, parece haver um conceito que se destaca – a inovação de ruptura –, mas Bezos não concorda com esse raciocínio. Na verdade, ele baseia seu estilo de gestão em outros cinco pilares. 

**1. GRANDES APOSTAS PARA ENCANTAR** 

“As inovações são só uma consequência do fato de os consumidores gostarem de ter acesso a novas formas de fazer as coisas. Nosso pensamento é: como podemos encantar os clientes? Não buscamos a ruptura, e sim o encantamento”, afirma o presidente da Amazon. “Se você inventa algo completamente novo e radical e os clientes nem ligam, então não é disruptivo. As inovações radicais só são disruptivas se as pessoas se apaixonam por elas”, explica. 

Algumas pessoas se surpreendem ao ouvir isso, mas, ao longo de sua vida ainda relativamente curta, a Amazon também enfrentou fracassos, como o investimento de US$ 175 milhões no portal de descontos LivingSocial. Porém, esses casos têm sido totalmente ofuscados pelos sucessos da empresa. E, entre essas iniciativas bem-sucedidas, Bezos destaca três: Prime, Marketplace e AWS. 

O Prime é o clube de vantagens da Amazon. Com o pagamento de uma taxa anual, os clientes ganham acesso aos melhores serviços que a empresa oferece, como a entrega em apenas uma hora em algumas cidades e a série exclusiva _Ripper Street_, além de músicas e aluguel de livros pelo Kindle. 

O Marketplace, por sua vez, permite que clientes, de pessoas físicas a grandes companhias, vendam produtos pela plataforma da Amazon e, graças a inovações recentes, tenham acesso a ferramentas para exportar, aproveitando a base de consumidores da empresa fora dos Estados Unidos. 

Por fim, o AWS, o negócio de computação em nuvem, oferece um conjunto amplo de serviços, entre eles armazenamento, banco de dados e aplicativos, voltados para empresas estabelecidas e startups. Entre seus clientes atuais estão Pinterest, Airbnb e Just-Eat. 

Há especulações de que poderia haver uma cisão e o AWS se tornar uma empresa independente em algum momento, mas Bezos nega essa possibilidade. “Creio que isso nos tiraria do foco e, na verdade, traria poucos benefícios”, afirma. 

Embora os resultados financeiros ainda não tenham se concretizado no caso das duas primeiras iniciativas, não há dúvida sobre a importância delas para os negócios da Amazon. “Sou otimista em relação a gerar mais inovações ao longo do tempo; temos várias a caminho. Mas, das coisas que criamos nos últimos anos, essas três estão no topo da lista em termos de oportunidade de retorno, se seguirmos trabalhando duro”, diz Bezos. 

O presidente destaca a importância do Prime na cabeça dos clientes. “Milhões de pessoas conhecem o serviço”, garante. Ao mesmo tempo, porém, muitos analistas veem o projeto como apenas uma forma de gerar outros negócios para a empresa (o que é chamado de _loss-leader_, em inglês), por conta, inclusive, de seu preço, apenas US$ 11 por mês. 

Bezos nega que seja assim. “As mesmas questões já estavam presentes quando lançamos o Prime, dez anos atrás. Há a sensação de que se trata de algo como um buffet do tipo ‘coma tudo o que você puder’. É claro que, nesses casos, você atrai primeiro os consumidores mais ‘famintos’. Portanto, é muito comum que iniciativas assim permaneçam em fase de investimentos por certo tempo.” 

O perfil global do Prime ganhou novo impulso recentemente com o anúncio de que os ex-apresentadores do famoso programa de TV _Top Gear_, Jeremy Clarkson, Richard Hammond e James May, vão estrelar uma nova atração do serviço, _The Grand Tour_, com estreia prevista para o outono dos EUA. 

Indagado sobre se o novo programa chega para definir melhor o que é o Prime, Bezos diz que a missão não pode ser de uma única atração. “Temos muitos projetos no forno, pelos quais telespectadores de todo o mundo vão se apaixonar. Vivemos uma época de ouro da televisão. Se você voltasse no tempo, apenas cinco anos, não conseguiria um talento de primeira linha para uma série de TV, mas isso está mudando completamente”, acrescenta. 

Para Bezos, o investimento da Amazon em séries de TV – como a bem-sucedida _Transparent_, cujo protagonista, Jeffrey Tambor, ganhou prêmio no Globo de Ouro e no Emmy – é a principal razão para a transformação. 

“Hoje o investimento para a produção de séries de TV é muito elevado, mas você também tem mais tempo para contar sua história. A mudança de formato abre caminho para diversas possibilidades. Isso, combinado com produções com padrão de cinema e talentos de primeira linha, explica por que estamos vendo uma televisão tão surpreendente”, destaca Bezos. 

**2. REGRA DAS DUAS PIZZAS**

A busca da Amazon por uma quarta linha de negócios relevante se traduz, na prática, na atuação de pequenas equipes que trabalham na possível próxima aposta da empresa. 

Nesse caso, “pequenas” quer dizer pequenas mesmo. A Amazon segue a chamada “regra das duas pizzas”, segundo a qual nenhuma reunião deve envolver mais do que o número de pessoas que podem ser alimentadas por duas pizzas. 

Uma das grandes oportunidades que despontam no horizonte é a entrega por drones, serviço que já foi batizado de Prime Air e que está sendo estudado por diversas equipes da empresa. 

“As entregas por drones serão tão comuns como ver os carros do Correio nas ruas”, diz Bezos. Segundo ele, as dificuldades técnicas não são o aspecto que vem segurando o início das operações do Prime Air. O principal problema a ser resolvido, explica, é o que diz respeito à regulamentação do serviço. 

Nesse sentido, o Reino Unido deve ser um dos primeiros locais a experimentar a novidade. “A agência reguladora do Reino Unido está muito avançada. Nos EUA, a FAA [órgão responsável pelo setor no país] está tentando chegar lá, mas as autoridades britânicas são um exemplo muito motivador de como deve ser uma boa regulamentação”, afirma Bezos. 

Outra frente de estudos é o Amazon Fresh, serviço de entrega de alimentos frescos. O presidente da empresa, porém, guarda segredo sobre se e quando a iniciativa pode ser expandida para outros países, avançando globalmente. 

Bezos é mais aberto a falar sobre a possibilidade de novas lojas físicas da Amazon, seguindo a repercussão positiva das primeiras “_pop-up stores_”, a começar pela de estreia, aberta em Manhattan em dezembro de 2014. “As livrarias existem há centenas de anos e as empresas especializadas nesse tipo de negócio são muito boas no que fazem”, lembra ele. “Portanto, esse é um segmento em que precisamos ser muito humildes, oferecendo algo diferente.” 

**3. INVESTIMENTOS LATERAIS**

As bases que Bezos lança na direção do futuro não são apenas internas à Amazon; incluem investimentos externos. “Em meus investimentos pessoais, busco coisas que despertem minha curiosidade e me apaixonem. Em muitos casos, não espero que sejam, necessariamente, bons investimentos”, afirma. 

Com base nesses princípios, a lista de investimentos pessoais de Bezos é ampla, de plataformas digitais como Uber e Airbnb a projetos inusitados como um centro de pesquisas em Princeton que se dedica ao estudo das dinâmicas dos circuitos neurais. 

Seu investimento de maior repercussão pública talvez tenha sido a aquisição do jornal _The Washington Post_, por US$ 250 milhões, em 2013. Ele reafirma que a compra foi uma exceção, não parte de um desejo maior de se tornar magnata da mídia. “A situação financeira do _Post_ é muito difícil; é um problema que muitos jornais do mundo enfrentam.” 

4. OLHAR PARA O FUTURO E 5. VOLUNTÁRIOS PAGOS 

Bezos mantém seu foco na Amazon, mesmo depois de 20 anos dedicados ao negócio. “Eu gosto de cada fase da Amazon. Amei o começo e amo a empresa ainda mais hoje”, conta. “Recentemente, levei minha família para passar férias no sul da França por uma semana e vivemos momentos indescritíveis. Mas, quando voltei para Seattle, a verdade é que saí correndo para o escritório”, lembra. “Eu dançava de felicidade. Amo meu trabalho. Me considero inacreditavelmente sortudo, e isso tem sido verdade nos últimos 20 anos.” 

Bezos consegue se ver no comando da Amazon pelos próximos 20 anos, quando terá 71 de idade? “Espero que sim”, responde. “Quase todos com quem trabalho diariamente são ‘voluntários’ pagos. Já trabalho com eles há mais de uma década e eles poderiam estar tomando margaritas na praia, mas escolheram estar aqui. Voluntários pagos são as melhores pessoas com que posso trabalhar, pois continuam comigo pelas razões certas.” 

Bezos é assertivo: “Tenho uma equipe que amo, e nós queremos trabalhar juntos pelo futuro. Isso é mais divertido do que eu poderia descrever”. 

**Você aplica quando…**
… mantém-se focado em um negócio e não vê as inovações de ruptura como ponto de partida, e sim como ponto de chegada.
… segue os cinco pilares do estilo Bezos de gestão: grandes apostas para encantar, a regra das duas pizzas, investimentos laterais, o olhar para o futuro e voluntários pagos.

Compartilhar:

Artigos relacionados

China

O Legado do Progresso

A celebração dos 120 anos de Deng Xiaoping destaca como suas reformas revolucionaram a China, transformando-a em uma potência global e marcando uma era de crescimento econômico, inovação e avanços sociais sem precedentes.

Calendário

Não, o ano ainda não acabou!

Em meio à letargia de fim de ano, um chamado à consciência: os últimos dias de 2024 são uma oportunidade valiosa de ressignificar trajetórias e construir propósito.

Gestão de Pessoas
Um convite para refletir sobre como empresas e líderes podem se adaptar à nova mentalidade da Geração Z, que valoriza propósito, flexibilidade e experiências diversificadas em detrimento de planos de carreira tradicionais, e como isso impacta a cultura corporativa e a gestão do talento.

Valeria Oliveira

6 min de leitura
Empreendedorismo
Um guia para a liderança se antecipar às consequências não intencionais de suas decisões

Lilian Cruz e Andréa Dietrich

4 min de leitura
ESG
Entre nós e o futuro desejado, está a habilidade de tecer cada nó de um intricado tapete que une regeneração, adaptação e compromisso climático — uma jornada que vai de Baku a Belém, com a Amazônia como palco central de um novo sistema econômico sustentável.

Bruna Rezende

5 min de leitura
ESG
Crescimento de reclamações à ANS reflete crise na saúde suplementar, impulsionada por reajustes abusivos e falta de transparência nos planos de saúde. Empresas enfrentam desafios para equilibrar custos e atender colaboradores. Soluções como auditorias, BI e humanização do atendimento surgem como alternativas para melhorar a experiência dos beneficiários e promover sustentabilidade no setor.
4 min de leitura
Finanças
Brasil enfrenta aumento de fraudes telefônicas, levando Anatel a adotar medidas rigorosas para proteger consumidores e empresas, enquanto organizações investem em tecnologia para garantir segurança, transparência e uma comunicação mais eficiente e personalizada.

Fábio Toledo

4 min de leitura
Finanças
A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Rui Rocha

0 min de leitura
Finanças
O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Fábio Duran

3 min de leitura
Empreendedorismo
Trazer os homens para a discussão, investir em ações mais intencionais e implementar a licença-paternidade estendida obrigatória são boas possibilidades.

Renata Baccarat

4 min de leitura
Uncategorized
Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Ivan Cruz

4 min de leitura
Tecnologias exponenciais
A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Edmee Moreira

4 min de leitura