Liderança, Comunidades: CEOs do Amanhã

Jovem demais para ser team leader?

Como eu me tornei uma profissional melhor depois de ter sido chamada de pirralha no ambiente de trabalho
Especialista em gestão de projetos pelo COPPEAD UFRJ e coordenadora de operações pedagógicas na Faculdade Descomplica, respondendo por toda a produção de conteúdo acadêmico de graduação e pós-graduação. Vencedora do Prêmio Valuable Young Leader.

Compartilhar:

O ano era 2019, um dos mais importantes da minha vida profissional, estávamos nos preparando para um grande momento da empresa: passar a ser uma Instituição de Ensino Superior (IES). Se você não faz ideia do trabalho que isso dá, já te adianto que é grande demais: infraestrutura, conteúdo, polos, governo (e eu não falei a metade).

Estávamos prontos! E foi aí que a frase “treino é treino, jogo é jogo” fez mais sentido que nunca. Era só esperar as comissões designadas pelo MEC chegarem no nosso polo principal para nos avaliar. Eles olham tudo, questionam, analisam, avaliam a qualidade dos cursos e a estrutura da instituição. De fato, fazem um excelente trabalho.

Um desses momentos de avaliação é a chamada “Equipe Multidisciplinar”, onde eu e os outros líderes dos mais diversos segmentos do que será a IES nos reunimos para apresentar como os processos são estruturados e realizados. Depois da apresentação, os avaliadores fazem uma série de perguntas para tirar suas dúvidas sobre as fases, times, operações e, também, checar a veracidade das informações apresentadas. Gravem essa última parte, ela é muito importante.

Por estar bastante envolvida no projeto de credenciamento – isso era parte considerável do que eu fazia todos os dias – eu conseguia responder muitas das perguntas que os avaliadores faziam para a equipe multidisciplinar. Até que chegou um momento em que um dos avaliadores, o mais “durão” deles, solta a seguinte frase: “Agora quero ouvir de seus colegas. Para vocês, como é trabalhar com uma [pirralha como ela](https://www.revistahsm.com.br/post/da-equidade-de-genero-a-lideranca-feminina)?”.

Seguiram-se aqueles segundos de silêncio que gritavam: “é sério que escutamos certo?”. Até que uma querida colega de trabalho se posicionou em minha defesa, ressaltando como tinha sido trabalhar comigo num tom muito positivo. Seguimos o baile como se nada tivesse acontecido. Mas aconteceu: um dos episódios que mais me fez crescer, enquanto pessoa e profissional. Por isso, quero dividir com vocês as lições aprendidas desse momento.

__1. Ter o apoio e parceria dos seus colegas de trabalho faz toda a diferença__.
Lembra que, assim que o avaliador fez essa pergunta, uma amiga de trabalho respondeu em minha defesa? Ela foi só a primeira. Depois da reunião, por exemplo, a maior parte dos executivos da empresa veio falar comigo e reforçar que aquilo não queria dizer absolutamente nada sobre a qualidade do meu trabalho. Enfim, saber que eu podia confiar nos meus colegas de trabalho e que a recíproca era verdadeira deu um quentinho no coração.

__2. Ninguém sabe mais do seu trabalho que você mesmo.__
É isso mesmo! Processos, especificidades, acertos, gargalos. Ninguém entende melhor do seu escopo e do caminho para as suas entregas que você mesmo. Confie nisso. Você sabe as respostas. Inclusive, você poderia ensinar muita gente sobre as habilidades, competências e tecnicidades do seu trabalho. O(a) professor(a) é você. Quando isso fica entendido, tudo fica mais fácil, sabe por que? É quando o [fator segurança entra em campo](https://www.revistahsm.com.br/post/a-escolha-da-gestao-humanizada-e-consciente-na-pratica) e, olha, este faz uma diferença danada.

__3. A gente só se importa com a opinião dos outros quando a gente tem dúvidas se o que foi dito é verdade ou não.__
Vamos supor que você tenha 1,50 de altura. Se eu te disser que você é super alto(a), você acreditaria? Provavelmente não, porque você não tem dúvidas dessa sua característica. Se você foi campeã(o) de várias olimpíadas de matemática e eu digo que você é bem ruim na matéria básica, o que você faria? Provavelmente, riria da minha cara, não é mesmo? Isso acontece porque, em primeiro lugar, [VOCÊ não duvida de você mesmo](https://www.revistahsm.com.br/post/teto-e-chao-de-vidro-barreiras-culturais-para-liderancas-femininas).

Então, quando você se pegar numa situação de comentários dolorosos, há duas opções: a) Refletir se aquele comentário é verdadeiro, se impacta os seus resultados e, se sim, agir para consertar; b) Sorria, agradeça o “feedback” and keep up the good work. Pra mim, isso foi libertador.

__4. Podem até te julgar mal, mas não podem fazer o mesmo com o sucesso dos resultados.__
A única coisa que ele podia falar sobre mim era sobre a minha baixa idade. Ele não podia dizer que o conteúdo não estava pronto. Ele não podia questionar a qualidade da nossa estrutura. Ele não podia dizer que tudo o que fizemos estava aquém do esperado. Ou seja: ele não podia questionar os nossos resultados. Perceba que quando uma pessoa quer rebater a sua opinião, mas não tem argumento válido, começa com falas do tipo: “Você tem muito o que viver ainda”; “Você é muito novo/nova. Não sabe o que está falando”; “Se você tivesse passado pelo que passei, não pensaria dessa forma”. Tudo isso são válvulas de escape para fugir daquilo que não se consegue contestar: argumentos e resultados.

Bom, no final das contas, ele até se desculpou e o temos, hoje, como um [importante parceiro para acompanhar o que fazemos](https://www.revistahsm.com.br/post/o-cuidado-como-proposito-de-lideranca), contribuindo para que construamos algo, realmente, incrível. Na época, ele disse que agiu dessa forma porque precisava testar a veracidade do que estávamos apresentando porque era algo realmente muito diferente e encantador. Então, para descartar a possibilidade daquilo tudo ser um grande teatro, ele testou as pessoas no “fora do roteiro” pra ver se haveria desalinhamentos. Não houve.

Algo que ficou muito marcado em mim foi a seguinte fala dele: É muito atípico, numa faculdade, vermos pessoas tão jovens e outras tão experientes ocupando cargos de liderança e tendo os mesmos níveis de responsabilidade. Geralmente, são todos muito mais experientes e não há muito espaço pra quem “está chegando”. Por favor, não percam isso. Tenho certeza de que esse foi um fator crucial para apresentarem o trabalho muito bem feito que fizeram até aqui.

Com isso, deixo aqui a última lição aprendida: __5. A diversidade, meus amigos, é muito poderosa e nós estamos apenas começando__.

Com carinho, da jovem líder e pirralha nas horas vagas.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Competitividade da Indústria Brasileira diante do Protecionismo Global

A recente vitória de Donald Trump nos EUA reaviva o debate sobre o protecionismo, colocando em risco o acesso do Brasil ao segundo maior destino de suas exportações. Porém, o país ainda não está preparado para enfrentar esse cenário. Sua grande vulnerabilidade está na dependência de um número restrito de mercados e produtos primários, com pouca diversificação e investimentos em inovação.

Mercado de RevOps desponta e se destaca com crescimento acima da média 

O Revenue Operations (RevOps) está em franca expansão global, com estimativa de que 75% das empresas o adotarão até 2025. No Brasil, empresas líderes, como a 8D Hubify, já ultrapassaram as expectativas, mais que dobrando o faturamento e triplicando o lucro ao integrar marketing, vendas e sucesso do cliente. A Inteligência Artificial é peça-chave nessa transformação, automatizando interações para maior personalização e eficiência.

Uso de PDI tem sido negligenciado nas companhias

Apesar de ser uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de colaboradores, o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) vem sendo negligenciado por empresas no Brasil. Pesquisa da Mereo mostra que apenas 60% das companhias avaliadas possuem PDIs cadastrados, com queda no engajamento de 2022 para 2023.

Regulamentação da IA: Como empresas podem conciliar responsabilidades éticas e inovação? 

A inteligência artificial (IA) está revolucionando o mundo dos negócios, mas seu avanço rápido exige uma discussão sobre regulamentação. Enquanto a Europa avança com regras para garantir benefícios éticos, os EUA priorizam a liberdade econômica. No Brasil, startups e empresas se mobilizam para aproveitar as vantagens competitivas da IA, mas aguardam um marco legal claro.

Governança estratégica: a gestão de riscos psicossociais integrada à performance corporativa

A gestão de riscos psicossociais ganha espaço nos conselhos, impulsionada por perdas estimadas em US$ 3 trilhões ao ano. No Brasil, a atualização da NR1 exige que empresas avaliem e gerenciem sistematicamente esses riscos. Essa mudança reflete o reconhecimento de que funcionários saudáveis são mais produtivos, com estudos mostrando retornos de até R$ 4 para cada R$ 1 investido

Inteligência artificial e gestão, Transformação Digital
A GenAI é uma ótima opção para nos ajudar em questões cotidianas, principalmente em nossos negócios. Porém, precisamos ter cautela e parar essa reprodutibilidade desenfreada.

Rafael Rez

Transformação Digital
A preocupação com o RH atual é crescente e fizemos questão de questionar alguns pontos viscerais existentes que Ricardo Maravalhas, CEO da DPOnet, trouxe com clareza e paciência.

HSM Management

Uncategorized
A saúde mental da mulher brasileira enfrenta desafios complexos, exacerbados por sobrecarga de responsabilidades, desigualdade de gênero e falta de apoio, exigindo ações urgentes para promover equilíbrio e bem-estar.

Letícia de Oliveira Alves e Ana Paula Moura Rodrigues

ESG
A crescente frequência de desastres naturais destaca a importância crucial de uma gestão hídrica urbana eficaz, com as "cidades-esponja" emergindo como soluções inovadoras para enfrentar os desafios climáticos globais e promover a resiliência urbana.

Guilherme Hoppe

Gestão de Pessoas
Como podemos entender e praticar o verdadeiro networking para nos beneficiar!

Galo Lopez

Cultura organizacional, Gestão de pessoas, Liderança, times e cultura, Liderança
Na coluna deste mês, Alexandre Waclawovsky explora o impacto das lideranças autoritárias e como os colaboradores estão percebendo seu próprio impacto no trabalho.

Alexandre Waclawovsky

Marketing Business Driven, Comunidades: Marketing Makers, Marketing e vendas
Eis que Philip Kotler lança, com outros colegas, o livro “Marketing H2H: A Jornada do Marketing Human to Human” e eu me lembro desse tema ser tão especial para mim que falei sobre ele no meu primeiro artigo publicado no Linkedin, em 2018. Mas, o que será que mudou de lá para cá?

Juliana Burza

Transformação Digital, ESG
A inteligência artificial (IA) está no centro de uma das maiores revoluções tecnológicas da nossa era, transformando indústrias e redefinindo modelos de negócios. No entanto, é crucial perguntar: a sua estratégia de IA é um movimento desesperado para agradar o mercado ou uma abordagem estruturada, com métricas claras e foco em resultados concretos?

Marcelo Murilo

Liderança, times e cultura, Cultura organizacional
Com a informação se tornando uma commoditie crucial, as organizações que não adotarem uma cultura data-driven, que utiliza dados para orientar decisões e estratégias, vão ficar pelo caminho. Entenda estratégias que podem te ajudar neste processo!

Felipe Mello

Gestão de Pessoas
Conheça o framework SHIFT pela consultora da HSM, Carol Olinda.

Carol Olinda