Finanças
3 min de leitura

Lições do passado e do presente: os casos da Enron e da Americanas S.A.

Casos de fraude contábil na Enron e Americanas S.A. revelam falhas em governança corporativa e controles internos, destacando a importância de transparência e auditorias eficazes para a integridade empresarial
Professor da UNICAMP.

Compartilhar:

Os casos de fraude contábil envolvendo as empresas Enron, nos Estados Unidos, e Americanas S.A., no Brasil, são emblemáticos exemplos de colapsos empresariais provocados por práticas fraudulentas que evidenciaram falhas em seus mecanismos de governança corporativa e controles internos. Embora as fraudes tenham ocorrido em cenários regulatórios e geográficos distintos, ambos os casos compartilham semelhanças importantes, principalmente em relação ao papel da gestão e dos auditores, além de terem gerados impactos significativos nos mercados em que atuavam.

O caso da Enron, desvendado em 2001, expôs um esquema de manipulação financeira sofisticado, no qual a empresa, com o auxílio de sua empresa de auditoria externa, Arthur Andersen, ocultou bilhões de dólares em dívidas e inflou seus lucros por meio de uma complexa estrutura de entidades de propósito específico (SPEs). Essas SPEs foram criadas para manter passivos fora das demonstrações financeiras, iludindo acionistas e investidores sobre a verdadeira situação patrimonial da companhia.

A governança corporativa da Enron falhou gravemente ao permitir que seus altos executivos explorassem brechas nas normas contábeis e de auditoria. Além disso, a cultura dessa empresa, marcada por comportamentos de alto risco e incentivos focados em ganhos de curto prazo, desempenhou um papel central no desfecho do caso.

Por sua vez, a fraude contábil na Americanas S.A envolveu a subavaliação de passivos operacionais, em especial relacionados a fornecedores, o que permitiu à empresa aparentar uma falsa solidez financeira por anos. A Americanas inflou seus resultados ao reportar incorretamente suas dívidas, resultando em um prejuízo bilionário que veio à tona após anos de auditorias negligentes. Assim como na Enron, a governança corporativa da Americanas S.A. foi bastante criticada por sua ineficácia em detectar e impedir as práticas fraudulentas, levantando dúvidas sobre a integridade dos serviços de auditoria externa. A falta de transparência e os controles internos insuficientes permitiram que a fraude se prolongasse, destacando a responsabilidade dos auditores sobre a discrepância entre os dados financeiros divulgados e a realidade.

Embora as fraudes tenham características semelhantes, como a manipulação de passivos e a conivência de auditores, as respostas regulatórias nos países das respectivas sedes diferiram. O colapso da Enron resultou na promulgação da Lei Sarbanes-Oxley, em 2002, que impôs regras mais rígidas para as empresas listadas e seus auditores nos Estados Unidos. Por outro lado, no Brasil, o caso da Americanas S.A. reacendeu o debate sobre a eficácia das políticas e práticas de governança corporativa e auditoria, mas ainda se aguarda uma resposta regulatória proporcional às falhas expostas.

Um contraste importante entre os dois casos é o contexto cultural e econômico em que ocorreram. A Enron operava durante um período de rápida expansão dos mercados de energia e em um ambiente de desregulamentação nos Estados Unidos, o que levou a práticas empresariais agressivas e pouco transparentes. Já a Americanas S.A. estava inserida em um cenário de turbulência econômica no Brasil após a crise sanitária gerada pela pandemia da Covid-19, o que fez com que alguns analistas interpretassem a fraude como uma tentativa desesperada da gestão de ocultar os graves problemas financeiros, objetivando manter a confiança dos investidores e do mercado.

Em ambos os casos, os escândalos contábeis evidenciaram as limitações dos sistemas de governança corporativa e as falhas nos controles internos, além de ressaltarem a importância de auditorias independentes e eficazes. A análise desses episódios reforça a necessidade de estruturas e práticas corporativas transparentes, éticas e responsáveis como pilares fundamentais para a integridade das organizações, independentemente do local em que se encontram.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Liderança
14 de novembro de 2025
Como dividir dúvidas, receios e decisões no topo?

Rubens Pimentel - CEO da Trajeto Desenvolvimento Empresarial

2 minutos min de leitura
Sustentabilidade
13 de novembro de 2025
O protagonismo feminino se consolidou no movimento com a Carta das Mulheres para a COP30

Luiza Helena Trajano e Fabiana Peroni

5 min de leitura
ESG, Liderança
13 de novembro de 2025
Saiba o que há em comum entre o desengajamento de 79% da força de trabalho e um evento como a COP30

Viviane Mansi - Conselheira de empresas, mentora e professora

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia
12 de novembro de 2025
Modernizar o prazo de validade com o conceito de “best before” é mais do que uma mudança técnica - é um avanço cultural que conecta o Brasil às práticas globais de consumo consciente, combate ao desperdício e construção de uma economia verde.

Lucas Infante - CEO da Food To Save

3 minutos min de leitura
Inovação & estratégia, ESG
11 de novembro de 2025
Com a COP30, o turismo sustentável se consolida como vetor estratégico para o Brasil, unindo tecnologia, impacto social e preservação ambiental em uma nova era de desenvolvimento consciente.

André Veneziani - Vice-Presidente Comercial Brasil & América Latina da C-MORE Sustainability

3 minutos min de leitura
Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
10 de novembro de 2025
A arquitetura de software deixou de ser apenas técnica: hoje, ela é peça-chave para transformar estratégia em inovação real, conectando visão de negócio à entrega de valor com consistência, escalabilidade e impacto.

Diego Souza - Principal Technical Manager no CESAR, Dayvison Chaves - Gerente do Ambiente de Arquitetura e Inovação e Diego Ivo - Gerente Executivo do Hub de Inovação, ambos do BNB

8 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
7 de novembro de 2025
Investir em bem-estar é estratégico - e mensurável. Com dados, indicadores e integração aos OKRs, empresas transformam cuidado com corpo e mente em performance, retenção e vantagem competitiva.

Luciana Carvalho - CHRO da Blip, e Ricardo Guerra - líder do Wellhub no Brasil

4 minutos min de leitura
Cultura organizacional, Gestão de pessoas & arquitetura de trabalho
6 de novembro de 2025
Incluir é mais do que contratar - é construir trajetórias. Sem estratégia, dados e cultura de cuidado, a inclusão de pessoas com deficiência segue sendo apenas discurso.

Carolina Ignarra - CEO da Talento Incluir

5 minutos min de leitura
Liderança
5 de novembro de 2025
Em um mundo sem mapas claros, o profissional do século 21 não precisa ter todas as respostas - mas sim coragem para sustentar as perguntas certas. Neste artigo, exploramos o surgimento do homo confusus, o novo ser humano do trabalho, e como habilidades como liderança, negociação e comunicação intercultural se tornam condições de sobrevivência em tempos de ambiguidade, sobrecarga informacional e transformações profundas nas relações profissionais.

Angelina Bejgrowicz - Fundadora e CEO da AB – Global Connections

12 minutos min de leitura
Bem-estar & saúde
4 de novembro de 2025
Na era da hiperconexão, encerrar o expediente virou um ato estratégico - porque produtividade sustentável exige pausas, limites e líderes que valorizam o tempo como ativo de saúde mental.

Tatiana Pimenta - Fundadora e CEO da Vittude

3 minutos min de leitura

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)

Baixe agora mesmo a nossa nova edição!

Dossiê #169

TECNOLOGIAS MADE IN BRASIL

Não perdemos todos os bondes; saiba onde, como e por que temos grandes oportunidades de sucesso (se soubermos gerenciar)