Inteligência coletiva

Líder, você não está só

O novo modelo de gestão troca poder por colaboração e exige que se abra mão do poder e da hierarquia para compartilhar responsabilidades
É sócio da RIA, empresa especializada em construir segurança psicológica em equipes. Criador do PlayGrounded, a Ginástica do Humor, é jornalista (Folha de S.Paulo, Veja, Superinteressante e Vida Simples), foi sócio da consultoria Origami e consultor em branding. Ator e improvisador, integra o grupo Jogo da Cena.

Compartilhar:

Há uma característica comum a muitas das organizações para as quais sou chamado para ajudar a construir ambientes de segurança psicológica: as lideranças se sentem muito solitárias. Em geral, eu as encontro ilhadas pelo medo de mostrar suas limitações e impedidas de aprender.

É como se estivessem ensanduichadas. Não podem mostrar as fraquezas para os colaboradores, porque não querem ver suas decisões questionadas. Não podem ter a cumplicidade dos pares, porque com eles disputam posições superiores. E não podem admitir suas limitações para as próprias lideranças, por receio de parecerem incapazes. Há fases e circunstâncias melhores, outras piores. Mas, em alguma medida, toda liderança que eu encontro já passou ou passa por isso.

Desconectados desse contexto imediato, sem saber a quem recorrer, muitos profissionais alçados à liderança definham, e também suas equipes. Às vezes adoecem, sob o peso de precisar ter todas as respostas. Às vezes adoecem a todos à volta, por seu controle e centralização. Há os que conseguem pedir ajuda externa, com mentores e coaches. Mas os olhares externos têm eficácia reduzida, já que não conhecem a riqueza do contexto.

Todos os novos modelos de gestão que eu conheço são unânimes: é preciso colaborar mais. Distribuir o poder. Você já conhece a fórmula: em um ambiente complexo e ambíguo, as melhores soluções nascem da multiplicidade de visões sobre os desafios. Quanto mais gente comprometida opinando, melhor para todo mundo, especialmente para o líder.

Mas como convencer alguém que dominou a arte de escalar a hierarquia a abrir mão do poder? Talvez ajude falar sobre Ben, o tio do Peter Parker, alter ego do Homem-Aranha, que ficou famoso quando disse ao sobrinho: “Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”.

Abrir mão de poder significa compartilhar responsabilidades. Significa poder pedir conselhos, orientações, ajuda. Significa poder dizer que não sabe. E isso pode desbloquear as relações para todos os lados. Com os colaboradores, para ouvir deles qual seria a melhor forma de abordar os desafios. Com os pares, para compartilhar dúvidas e questionamentos. Com as próprias lideranças, para obter guiança ou para desafiar o status quo.

Quando eu trago essa perspectiva para um grupo de líderes, não é incomum que eles queiram se reunir o quanto antes para discutir entre eles sobre o que fazer com seus times. E eu os convido a fazer isso incluindo seus próprios liderados. E suas lideranças. É impossível descrever o alívio que percorre a sala nesse momento.

Compartilhar:

Artigos relacionados

Há um fio entre Ada Lovelace e o CESAR

Fora do tempo e do espaço, talvez fosse improvável imaginar qualquer linha que me ligasse a Ada Lovelace. Mais improvável ainda seria incluir, nesse mesmo

Carreira, Cultura organizacional, Gestão de pessoas
A área de gestão de pessoas é uma das mais capacitadas para isso, como mostram suas iniciativas de cuidado. Mas precisam levar em conta quatro tipos de necessidades e assumir ao menos três papéis

Natalia Ubilla

3 min de leitura
Estratégia
Em um mercado onde a reputação é construída (ou desconstruída) em tempo real, não controlar sua própria narrativa é um risco que nenhum executivo pode se dar ao luxo de correr.

Bruna Lopes

7 min de leitura
Liderança
O problema está na literatura comercial rasa, nos wannabe influenciadores de LinkedIn, nos só cursos de final de semana e até nos MBAs. Mas, sobretudo, o problema está em como buscamos aprender sobre a liderança e colocá-la em prática.

Marcelo Santos

8 min de leitura
ESG
Inclua uma nova métrica no seu dashboard: bem-estar. Porque nenhum KPI de entrega importa se o motorista (você) está com o tanque vazio

Lilian Cruz

4 min de leitura
ESG
Flexibilidade não é benefício. É a base de uma cultura que transformou nossa startup em um caso real de inclusão sem imposições, onde mulheres prosperam naturalmente.

Gisele Schafhauser

5 min de leitura
Tecnologias exponenciais
O futuro da liderança em tempos de IA vai além da tecnologia. Exige preservar o que nos torna humanos em um mundo cada vez mais automatizado.

Manoel Pimentel

7 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Setores que investiram em treinamento interno sobre IA tiveram 57% mais ganhos de produtividade. O segredo está na transição inteligente.

Vitor Maciel

6 min de leitura
Empreendedorismo
Autoconhecimento, mentoria e feedback constante: a nova tríade para formar líderes preparados para os desafios do trabalho moderno

Marcus Vaccari

6 min de leitura
Tecnologias exponenciais
Se seu atendimento não é 24/7, personalizado e instantâneo, você já está perdendo cliente para quem investiu em automação. O tempo de resposta agora é o novo preço da fidelização

Edson Alves

4 min de leitura
Inovação
Enquanto você lê mais um relatório de tendências, seus concorrentes estão errando rápido, abolindo burocracias e contratando por habilidades. Não é só questão de currículos. Essa é a nova guerra pela inovação.

Alexandre Waclawovsky

8 min de leitura